◇Bloedrooei I◇

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_ E imagino que vossa senhoria aprendeu a caçar, matar e sobreviver sozinha na floresta?_ ignorou o tom afiado da wilde, ouvindo o ranger de grilhões e correntes a cada sopro impaciente de descrença, tiros a cada olhar cético, gritos a cada bufada, sangue pingando a cada revirada de olhos.

Engoliu em seco e repreendeu o aumento de umidade nos olhos.

○◇○

Já havia passado pela mata de igapó, agora andando com cautela pela mata de várzea, sua cabeça zumbia, tudo dentro de si dizia para que ela corresse, mas a curiosidade era maior.

Sua pele ressecada, os lábios carnudos pouco mais escuros do que sua pele, descascavam. Seus olhos negros como ônix brilhavam a volição, seus dedos esguios se contorciam de ansiedade. Seu corpo magro e sem curvas vibrava desde os dedos do pé ao topo da cabeça. Sua respiração entrecortada, fazia seu peito subir e descer. Uma veia saltava em seu pescoço esguio e elegante, e a ponta do turbante que envolvia seu cabelo, estava solta.

Ela se esgueirou por entre as árvores e ficou de frente a aquela criatura divergente e intrigante.

Não, não era de se imaginar que uma wilde mimada, protegida com unhas e dentes, fresca e mofina estivesse tão longe do seu lar, sem nada, nem ninguém... ou quase ninguém.

_ Tu estas a ouvir esse barulho?_ apontou para ela e depois colocou a mão sobre o ouvido_ Tu estas a ver os respingos de chuva?_ imitou a chuva.

 A menina assentiu com a cabeça. Era esplendoroso a visão de seus cachos crespos avermelhados de pontas verdes sob a luz fraca do sol de fim de tarde.

_ O som da garoa..._ sentou-se sobre um tronco.

_ Queres ouvir uma história?_ a menina continuou a encara-la perdida.

_ Sei que tu não podes me ouvir_ pegou um graveto do chão e começou a desenhar.

_ O lugar de onde vim, não há wildes como tu_ "os mais velhos os matam assim que nascem", pensou, mas era algo cruel demais para se dizer_ Existem aqueles que têm dificuldades, ou os anciões, que geralmente em sua grande maioria, têm espectro autista, ou têm síndrome de down.

 Na terra um pouco úmida, ela desenhou o mar.

_ Conheço muitos wildes que os inveja.

Ela desenhou duas pedras.

_ Dizem que eles enxergam o mundo de outra forma, dizem que eles observam todos os detalhes e têm a alma pueril...

 Ela desenhou árvores.

_ Depois de velhos, muitos perdem algo, como a visão ou audição. Uma benção da lua, minha mãe dizia.

 Ela desenhou a chuva.

_... significa que tu aproveitastes tua vida inteiramente e o teu presente serás absorver a coisa mais simples da vida: o sentir.

 A menina continuava a encara-la perdida.

_ Achavam que eu seria uma anciã, porque eu chorava muito e..._ "... gritava, puxava meus cabelos, me arranhava, me batia...", ela afastou aqueles pensamentos_ mas não sou, e por incrível que pareça para todos, eu fico feliz. Não acho que eu me daria bem encima de um pedestal, coberta de atenção o tempo todo..._ " você estava em um pedestal, coberta de atenção... mas não de uma maneira boa".

_ Enfim... eu não sou uma boa desenhista, mas talvez tu consigas entender_ indicou com o graveto um dos desenhos_ Vê? Este é o mar_ com o braço direito imitou as ondas_ Consegues entender?

A Herdeira Do FlamoOnde histórias criam vida. Descubra agora