◇Envenenar o Poço◇

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_ Qual a sua explicação Taia?_ perguntou Lírio.

_ Nós já ouvimos a versão dela!_ protestou a wilde.

_ Por um segundo Kiera, cale a merda da boca!_ aquela voz áspera e desconhecida protestou outra vez.

Kiera se sentiu insultada, e deveria, apesar daquela voz ser grave, pertencia a alguém jovem.

_ Ela não sabia segurar uma faca quando saiu daqui! Talvez tenha sido você a ajudá-la já que trepava com ela!_ a wilde inflou o peito e cuspiu no chão.

  O dono da voz áspera se levantou, e Taia observou cada movimento gracioso daquele corpo que uma, ou mais vezes tocara, sua voz havia mudado, seus cabelos estavam maiores, mas nada havia mudado naquele corpo forte. Minkah, um de seus eternos amantes.
Observei seu cabelo trançado e rodeado de fitas brilhantes, ele não me olhara no olho sequer uma vez, mas eu analisei cada detalhe daquele rosto.

  Agora ele tinha um piercing na sobrancelha e uma tatuagem no pescoço_ até bem feita, eu diria_ estranha e sensual que aparentemente descia para as costas.
Mas havia mais ali, as armas que carregava no quadril, a forma que seu corpo se movia, aquelas fitas no cabelo, a imensa trança... então viu o piercing que se entendia ao logo de sua orelha, rodeando a borda, uma gladiadora de prata. Ele havia se tornado um guardião.

Antes que ele fosse a sua defesa, ela interviu.

_ Envenenar o poço_ por incrível que pareça sua voz não saiu abafada ou rouca, saiu alta e clara, e todos se calaram.

_ O quê?_ perguntou Kiera desafiando Minkah com o olhar.

_ O que tu dissestes é uma falácia, e se chama envenenar o poço_ Taia ainda observava a prata que rodeava a orelha de Minkah quando ele pela primeira vez a olhou nos olhos.

  Apesar de toda a tensão, por um breve momento Taia sentiu a força daquele olhar sobre ela, seu coração parou por um breve momento e eles ficaram ali, se encarando até que Minkah se sentou e Taia desviou o olhar. Aquele gesto não passou despercebido.

_ Tu envenenas o poço antes que eu possa me defender...

_ Não vamos ser hipócritas!_ bravejou Kiera.

_ Esse é o meu momento de fala, como uma boa aldeã tu irás te sentar e ouvir, apenas_ disse tão calma, que poderia ver as veias de Kiera saltando de tamanha irritação.

_ Quem você pensa que é para falar com uma aldeã dessa forma!?_ protestou Thembi, outra aldeã.

Mas Taia sabia de onde vinha todo aquele veneno despejado por Kiera. Ao lado esquerdo de Daren estava Ashy, a Ilharga.

_ Sou uma wilde fêmea de 19 anos que não vai deixar uma fêmea que tomou a dor da amiga, me calar_ Kiera xingou e se aproximou, mas sua amiga a manteve no lugar_ Sou uma aldeã também, e peço respeito.

_ Você não é uma aldeã! Você nunca será, sua maldição!_ bravejou Kiera entre dentes.

Taia respirou fundo e a olhou, como um adulto olha para uma criança birrenta, Kiera se contorceu ainda mais de raiva.

_ Não nego que até pouco tempo minha vida nunca havia dependido da morte de qualquer criatura, por isso nunca precisei manusear uma espada, subir em árvores, usar uma arakh, fazer armadilhas ou caçar e matar. Mas quando parti eu sabia que em algum momento precisaria.

Taia se desencostou da parede e andou pelo espaço vazio entre as fileiras de mesas e bancos de madeira. Estava nervosa e derrotada, sua voz deixava transparecer todo o cansaço, fadiga e tristeza de uma longa viagem.

A Herdeira Do FlamoOnde histórias criam vida. Descubra agora