Primeira perda

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Correr, lutar, matar e voltar a correr esse era meu mantra nos últimos meses quando o apocalipse havia finalmente me encontrado.

Flashback on

Nossa comida havia acabado a três dias, e o buraco em meu estômago era uma companhia frequente. Mamãe andava cabisbaixa pela casa, ela se culpava por toda a nossa situação como se ela tivesse jogado a merda desse vírus no mundo. Eu estava irritada, uma bomba relógio prestes a explodir.

Passava meus dias vigiando aquelas bestas caminhar de um lado para outro, e tentando não deixar a fome ocupar minha mente. Estávamos chegando ao quarto dia sem alimento quando me decidi sair e procurar por algo, não podia deixar mamãe morrer de fome. Armei um plano para sair pelos fundos e invadir a casa vizinha, levaria a antiga pistola do meu padastro, apesar de saber que o barulho poderia atrair mais deles, ela manteria segura caso precisasse afastar alguns deles.

-Não vai filha, é muito perigoso lá fora.- Reclamou mamãe.

-Eu vou mãe, não é mais questão de segurança, agora é de sobrevivência. Precisamos de alimentos ou morreremos aqui.

-É minha culpa, eu deveria ter estocado mais comida...

-Não mãe, mesmo se estivéssemos em um mercado a comida um dia iria acabar.- Mamãe me olhava com os olhos cheios de lágrimas e culpa.- Ei escuta eu sei que não está gostando da minha ideia, mas sabe que precisamos, eu tenho treinamento militar vou ficar bem.

Arrancar as madeiras da janela sem chamar atenção daquelas coisas, era praticamente impossível. Minha sorte era de que como um bairro afastado poucos daqueles caminhantes estavam circulando por aqui, felizmente nenhum tão perto para escutar o som das madeiras. 

Pulei a janela assim que consegui abrir, corri para casa vizinha, tomando cuidado de não me enroscar na cerca viva que dividida as casas. Aparentemente tudo parecida em ordem, mesmo assim fui cautelosa na minha invasão, entrando por uma janela quebrada me vi na sala da casa. O chão estava cheio de cacos de vidro, que a cada pisada emitida um grande barulho, no completo silêncio fúnebre do local.

Algo se moveu no segundo andar atraído pelo som, o desespero do momento arrancou toda a minha racionalidade e fazendo com que minhas pernas ganhassem vida. Corri para o lado oposto da janela de onde entrei, atravessei dois cômodos até chegar a cozinha da casa, escutei quando a coisa no segundo andar rolou escadas a baixo e mesmo ao chão continuou a se arrastar para mim. 

Esperei alguns segundos para ouvir mais alguma movimentação e nada, agradeci aos céus por ser apenas um caminhante. Com o coração na boca comecei a abrir  armários em busca de qualquer coisa que desse para comer, felizmente a família parecia ter feito um bom estoque de comida aqui, joguei tudo o que consegui dentro da mochila apressada e de olho no corredor onde o ser rastejante, estava chegando cada vez mais perto. Queria não ter que matar aquela coisa que se arrastava no chão atrás de mim, então apenas a deixei lá e voltei para casa.

Mamãe que me esperava aflita levou um susto com minha chegada repentina na janela, agradeci por não ter deixado a arma com ela. Joguei a mochila para dentro e ela me ajudou a entrar, trancamos a janela novamente e cobrimos o vidro com uma placa de madeira. Não pregamos com medo do barulho, apenas encostamos e a porta da sala foi fechada a chave por segurança.

Contei a minha mãe sobre o estoque de comida da casa e de que estaríamos bem por um bom tempo até ter que vasculhar outro local, omiti a parte de ter encontrado um caminhante dentro da casa para que ela não ficasse mais nervosa do que já estava. Ela ficou animada e agradeceu ao senhor por nosso pequeno banquete, os dias foram passando rapidamente e a comida estava novamente acabando, planejava ir até a casa vizinha na manhã seguinte mas infelizmente não tive tempo.

Sob Suas Asas (Daryl Dixon)Onde histórias criam vida. Descubra agora