Sobrevivendo

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É incrível a capacidade do ser humano de se adaptar a uma situação, se alguém me dissesse que estaria hoje nessa situação nunca acreditaria. Andar quilômetros por dia a pé na mata sem água ou comida?

Riria da pessoa e direita que seria impossível, "nessas condições ninguém sobrevive muito tempo" eu diria. E talvez esteja certa afinal, tempo é outro fator e perdi a noção.

Naquele primeiro dia em que sai para o mundo não acreditei em tudo o que via a cidade de Atlanta uma grande metrópole destruída, estabelecimentos quebrados, prédios queimados, e corpos espalhados por todo lugar. Lembro de pensar enquanto andava de carro pelas ruas vazias que eu precisava achar pessoas, eu queria tão desesperadamente ver outro ser humano em minha frente. Se eu soubesse o que aconteceria, nunca haveria desejado nada.

Flashback on

As ruas de Atlanta estavam em completo caos, algo só comparável a filmes apocalípticos. Aquele tipo de filme que eu adorava assistir, e as vezes torcer para que todos os personagens morressem para ser realista, bem agora aqui estou eu em um filme destes com vários caminhantes desejando meu fim "realista".

"Rodovia estadual" estava escrito na placa a beira da estrada que levava até o centro da cidade, olhei para os prédios aí longe com fumaças e em destroços e poderei se devia seguir até o centro e arriscar ser encurralada ou se devia seguir para locais mais afastados. Trancada dentro do carro e perdida em pensamentos não percebi a aproximação, não até ver alguém bater em minha janela.

-Não para a cidade, não vá parar lá!- gritou a garota do lado de fora. Ela estava eternamente suja, mas não aparentava ter mais que quinze anos.

-O que tem lá?

- Jogaram bombas, estão todos mortos todos eles.- Ela respondeu mexendo as mãos de maneira nervosa. A garota parecia estar em choque, e sozinha. -Você comida? 

-Desculpe não tenho nada, você está sozinha? - Meu lado médica não poderia deixar a garota sozinha.- Precisa de ajuda?

-Eu eu não estou sozinha não, eu estou bem, estou bem...- falou ela se afastando do carro, ainda olhando para mim e sem perceber que dois caminhantes se aproximavam.

"Merda" pensei quando minha mão automaticamente abriu a trava do carro. Ela era alguém vivo, alguém que passei horas pedindo e que não perderia para estes bichos.

Peguei meu facão ao lado do meu banco e parti para cima deles, o primeiro já segurava o braço da garota que gritava estérica, passei o facão no braço daquela coisa e o joguei para o chão com  chute, impulsionei meu corpo, dobrando para frente e desci o facão de encontro com seu pescoço fazendo a cabeça rolar. Me preparei para pegar o próximo quando uma flecha atravessou sua cabeça, derrubando o corpo nojento em cima de mim. Empurrei aquela coisa para o lado e respirei aliviada.

-Desculpe por isso, eu ainda não sei calcular para onde eles vão cair.- falou um rapaz negro com um arco e flecha na mão. 

- Obrigado.- agradeci por ter ajudado. O garoto que aparentava ter a mesma idade da garota me ajudou a levantar do asfalto.- Onde está a garota?

- Ah a Tami, desculpe por ela. - ele falou sem jeito, e estreitei os olhos.- Ela... Ela voltou para o grupo.

Meu instinto de proteção me fez dar passos para traz no mesmo instante em que a palavra grupo soou, haviam pessoas escondidas por ali. Parecia algo como uma isca, mandar a adolescente para uma fã de filmes eu já havia visto isso diversas vezes na tela.

-Calma não precisa ter medo, são só minha família.- Tentei voltar para o carro, mas o garoto me chamou só mesmo tempo em que gritava.- Mãe pode sair!

Sob Suas Asas (Daryl Dixon)Onde histórias criam vida. Descubra agora