Aprendendo a confiar

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Quando se é criança e está perdida em um país desconhecido e com língua diferente da sua é uma experiência assustadora, mesmo que seja em um corredor qualquer de um mercado onde está fazendo compras com sua mãe. Confiar em um estranho para te ajudar a encontra-la, é um grande passo.

Olhando a garotinha sonolenta ao meu lado, só posso pedir que o bom Deus a quem sou fiel possa me dar forças para ajuda-la a encontrar sua mãe, como aquele desconhecido me ajudou uma vez.

Naquele dia, nos poucos minutos em que levei para perceber que havia me afastado de mais de mamãe e que não poderia encontrar-me com ela sozinha, tive que fazer minha escolha continuar chorando nas prateleiras de frutas ou pedir ajuda para alguém, aquela foi a primeira vez que me lembro de confiar em um desconhecido, foi aquela escolha que definiu a pessoa que eu sou hoje. Uma mulher forte que pode superar a solidão para confiar novamente em um desconhecido.

"Você não pareceu tão forte assim!" -acusou minha mente.

E realmente eu não fui, enlouqueci e perdi minha consciência nesse tempo em que passei sozinha. Perdi todos que amei e achei que sozinha poderia continuar, me afastar da dor, não foi realmente assim e acabei sendo a lunática do Apocalipse. Felizmente graças a essa menininha pude voltar a mim, fazer o que fui treinada proteger vidas.

Esses dias em que estamos juntas tem feito muito bem a mim psicologicamente, mante-la viva me fez esquecer os problemas e focar nos perigos ao redor. Ainda tenho pesadelos e escuto as vozes acusatórias no silêncio da noite, porém são tão raras que me fazem pensar que sumirá algum dia.

Barulhos de algo forçando a porta da velha cabana me despertaram.

"Droga mais uma vez dormi ao invés de ficar de guarda."

Sophia abriu os olhos assustada e grudou em mim buscando segurança. A cabana em que estávamos era um pequeno chalé de madeira abandonado muito antes de a infecção, tínhamos apenas uma porta e a janela da cozinha por onde escapar. Ainda estava amanhecendo e a visibilidade era muito pouca, não conseguia distinguir quantos caminhantes estavam na porta ou se havia outros ao redor da casa.

"Fugir e correr o risco de ser atacada na floresta, ou ficar e ter a casa invadida por uma dezena de caminhantes?"

-Sophia eu preciso que suba para o sótão, e fique quieta até eu chama-la. - pedi a pequena que se agarrou mais firme a mim.

-Por favor, eu não quero ficar sozinha.- reclamou ela em Pânico.- Não me deixa sozinha Lupi.

Os golpes estavam mais fortes e a porta iria ceder a qualquer momento.

-Vamos eu vou com você.- Falei a puxando até o alçapão que levava ao teto.

O lugar era apertado e escuro, mas era protegido o suficiente para me perguntar o porquê não havia subido na noite passada. Espiei o lado de fora por uma telha faltante e percebi que estava clareando, mais alguns minutos e poderíamos voltar a caminhar. Olhei ao redor esperando que a altura pudesse me ajudar a encontrar nosso caminho de volta, mas nada só o que via eram árvores como, e eu não fazia a menor ideia de por onde seguir. Era até engraçado de se pensar que uma bombeira, criada por um militar não soubesse nem mesmo rastrear suas próprias pegadas.

"Desculpe pai, eu deveria ter prestado mais atenção em suas aulas." - Meu pai de criação foi um homem espetacular, que adorava levar as filhas em acampamentos e lições de sobrevivência. Eu nunca consegui nem ler um mapa, já Rosita era sua menina dos sonhos aplicada e uma ótima oficial do exército.

Apesar de todo amor e devoção que recebi eu me ressentida por não conseguir ser perfeita como minha irmã, e me arrependo de ter deixado essa besteira nos afastar.

Uma pena a humanidade não ter evoluído até encontrar uma máquina do tempo, seria uma ótima oportunidade de tentar consertar tudo antes de nos perdemos no Apocalipse. Sem poder voltar a única opção que me resta é seguir em frente.

-Água está escutando?- perguntei a Sophia, tentando confirmar que estava escutando direito.

-Sim, acha que podemos nos lavar?

-Vamos dar uma olhadinha primeiro.- rezando para que tudo estivesse seguro, caminhamos para o corrego. - Vou descer e te ajudo tudo bem, queria?

Tudo parecia tão calmo como sempre, então desci o barranco, para encher nossos litros de água e ajudar a pequena. Esse parecia ser um daqueles momentos felizes em que esquecemos de tudo, brincando de jogar água uma na outra e sorrindo percebi o quão importante era esses momentos de distração para mim, uma adulta com treinamento sobre pressão. Não poderia imaginar o quão difícil era para ela, uma garotinha sozinha em um mundo de monstros.

-Acho melhor irmos queria, ainda temos que encontrar um esconderijo para passar a noite.

Com o rostinho desanimado Sophia obedeceu meu pedido e juntou sua roupa molhada, jogando em minha mochila. Ela estava vestindo uma camiseta e legging que encontramos, era um número adulto e ficou enorme nela, mesmo assim era uma roupa seca e limpa.

Ajudei ela a subir e passei a mochila e o meu inseparável facão vinha preso em minhas costas, estava chegando ao topo quando ouvi Sophia gritar e se encolher. Um caminhante em decomposição vinha lentamente para ela.

-Corre Sophia.- Gritei me arrastando na beira do barranco, onde apenas meus braços estavam para cima da borda. Seus olhos repletos de medo me encararam e desajeitadamente a garotinha levantou e correu, quando outros gemidos foram ouvidos.

-Estou atrás de você querida, confie em mim! - gritei. Levantei peguei a mochila e corri seguindo o miserável morto de fome.

Eu uma vez tive que confiar em um estranho para me ajudar a achar o caminho de volta. Desta vez eu sou o estranho e peço aos céus que possa retribuir o destino mantendo a viva.

Hello my zombies, alguém vivo depois desse final??
O que acham que vai acontecer com Sophia dessa vez?
Quero pedir um pouco de paciência com minha demora em postar capítulos novos, eu estou passando por um momento de exaustão mental e constantemente não tenho inspiração em escrever por isso sumi, mas sempre volto não se preocupem.

Obrigada por ler essa fanfic e outros comentários lindos ❤️
Beijinhos da Fe

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⏰ Última atualização: Jun 24, 2020 ⏰

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Sob Suas Asas (Daryl Dixon)Onde histórias criam vida. Descubra agora