A VIDA NA FLORESTA

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Alguns índios entraram correndo na floresta, eles eram ligeiros, tão rápidos como se tivessem asas nos pés e fogo nos olhos. Eram jovens cheios de força, vigor e entusiasmo. Entretanto, Kawã e seu irmão Anury deixaram a corrida para os outros e preferiram caminhar enquanto o grupo se distanciava.

— Você está bem?

Kawã percebeu algo diferente no seu irmão caçula já há alguns dias. Especialmente depois da festa dos campeões.

— Não sei direito, mas sinto algo estanho. Uma sensação que não sei dizer o que é. É confuso! É uma coisa na barriga... Respondeu Anury.

— Você precisa relaxar! No final, tudo vai dar certo.

— Relaxar? Mas eu não sei como fazer isso! E como vou ter certeza que tudo dará certo?

— Não pense, então. Talvez isso ajude.

— Você e seus conselhos! Disse Anury meneando a cabeça levemente. Me dizer o que fazer é fácil, mas me mostre como fazer, então. Quero ver se você consegue.

— Irmão, daqui a alguns dias, você vai iniciar a sua passagem e logo estará entre os guerreiros da tribo e os competidores dos jogos, e, com certeza, isso deixa qualquer curumim de sua idade com essa sensação incômoda. Eu também me senti assim. Revelou Kawã.

— Você se sentiu assim também? Jura? Perguntou espantado o pequeno tracajá.

Anury parou a caminhada forçando assim o irmão a parar também. Talvez o curumim não imaginasse que seu irmão, um valente caçador e o melhor arqueiro da tribo um dia pudesse ter tido o mesmo sentimento que ele estava tendo naquele momento. Kawã sabia o que o curumim estava sentindo e tentou usar bem as palavras para ajudá-lo.

— Sim, senti. E todos os índios sentiram o mesmo, inclusive nosso pai.

— Até nosso pai? Verdade? Como você sabe? Esbugalhou os olhos amendoados o pequeno tracajá macho.

— Sim, até ele. Como eu sei? Ele um dia falou para mim. Por isso, se acalme e tudo vai acabar bem. Confie em mim. Kawã embaraçou os cabelos longos do irmão jogando-os para tapar os seus olhos.

— Ouvindo isso talvez eu fique melhor.

Os dois voltaram a caminhar. O grupo já tinha saído e muito do campo de visão deles.

— Quando chegar o momento certo, nosso pai falará com você e terá a mesma conversa que teve um dia comigo, suas palavras foram de grande ajuda e me incentivaram bastante a permanecer firme. Então, quando as formigas o ferroarem, e você pensar em desistir, lembre-se das palavras dele. Elas lhe ajudarão como me ajudaram também.

— O que ele disse?

— O que nosso pai disse é algo que somente ele vai poder dizer pra você, eu não vou falar nada!

— Você não pode adiantar alguma coisa? Nem um pouquinho? Eu prometo que não conto nada, juro! Insistiu Anury.

— Não, não posso. E não adianta insistir. Não quebre a nossa tradição familiar. Kawã passou mais uma vez mão na cabeça de Anury assanhando seus cabelos. Isso irmão faz parte da nossa história.

— Mas pra que tanto segredo afinal, eu vou saber mesmo! Diz aí, por favor.

— Não posso dizer nada. O importante que você saiba e que eu, Jandira e nossos pais e toda a aldeia estaremos lá lhe dando o apoio necessário, porque sabemos o quanto você vai precisar. Seja forte, curumim! Aguente firme! E tudo passará logo. Afirmou Kawã.

Saga Amazônica - Mistérios da Floresta - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora