Certa manhã, depois das festas de passagens, Kawã e seu pai saíram novamente para caçar. O jovem gavião gostava muito de sair com seu pai, pois a cada caçada ele o observava atentamente tentando aprender com a sua companhia a ser um caçador melhor. Sair para caçar com Acir era estressante, pois ele espantava as caças na maioria das vezes. Isso deixava o jovem gavião muito chateado. Somente o favor de Tupã ou muita sorte mesmo para o sucesso daquelas caçadas.
Na última vez que saíram juntos, pai e filho, tinham pescado um grande pirarucu. Antã havia repartido com várias famílias. A noite passada, eles reuniram-se em volta da fogueira e um dos anciãos contou para os curumins à história do índio Pirarucu. Essa era uma história repleta de mistérios, pois se acreditava que o índio Pirarucu vivia nas águas do Amazonas e continuava com o coração duro e arrogante como antes.
Pirarucu era um índio da tribo dos Uaiás que habitava as planícies do Sudoeste da Grande Mãe. Ele era um bravo guerreiro, porém, tinha um coração perverso, mesmo sendo filho de Pindarô, um índio de bom coração e, também, chefe da tribo. Pirarucu era cheio de vaidades, egoísmo e excessivamente orgulhoso de seu poder. Um dia, enquanto seu pai fazia uma visita amigável a tribos vizinhas, Pirarucu se aproveitou da ocasião para tomar como reféns índios da aldeia e executá-los sem nenhum motivo aparente.
Pirarucu também adorava criticar os deuses. Tupã, o deus da floresta, observou o índio por um longo tempo e cansado daquele comportamento ofensivo decidiu puni-lo. Tupã chamou Polo e ordenou que espalhasse o seu mais poderoso relâmpago na área inteira. Ele também chamou Iururaruaçú, a deusa das torrentes, e ordenou que ela provocasse as mais fortes torrentes de chuva sobre Pirarucu. Este pescava com outros índios as margens do rio Amazonas, não muito longe da sua aldeia.
O fogo de Tupã foi visto por toda a floresta. Quando Pirarucu percebeu as ondas furiosas do rio e ouviu a voz enraivecida do deus, ele somente as ignorou com uma risada e palavras de ofensas e desprezo. Então, Tupã enviou Xandoré, o demônio que odeia os homens, para atirar relâmpagos e trovões sobre Pirarucu, enchendo o ar de luz. Pirarucu tentou escapar, porém, enquanto corria por entre os galhos das árvores, um relâmpago fulminante acertou o guerreiro. Ele de coração duro, mesmo abatido permaneceu orgulhoso se recusou a pedir perdão.
Os companheiros de Pirarucu correram para a selva terrivelmente assustados, enquanto o corpo de Pirarucu, ainda vivo, foi levado para as profundezas do rio e transformado em um gigante e escuro peixe. Pirarucu desapareceu nas águas e nunca mais retornou, porém, por um longo tempo foi o terror da região. Depois de ouvir essa história, os curumins ficaram pensativos sobre como não se devia aborrecer Tupã e aquilo que ele era capaz de fazer com os índios arrogantes.
Antã e Kawã eram bons caçadores e formavam uma bela dupla. Kawã foi bem ensinado pelo pai, ele sabia coisas novas e se tornou um bom caçador graças aos conselhos e exemplo de Antã. Eles prepararam tudo o que precisavam: arcos e flechas, zarabatanas e espinhos, enfim. Com tudo arrumado os dois caminharam para fora da aldeia. Eles iriam por uma velha trilha pouco explorada pelos índios e Antã era um dos poucos que a conhecia. Nela, os dois caminharam por horas e ouviram apenas os cantos dos pássaros, nenhuma caça foi vista durante horas caminhando na mata.
Os dois andaram por caminhos esquecidos. Poucos índios iam para aquela parte de selva. Havia caminhos e limites que os manáos não podiam ultrapassar. Era perigoso. Mas devido a escassez Antã resolveu ir mais longe naquele dia. Para a maioria dos índios, aquelas partes da floresta não tinham boas caças, portanto, não valia a pena passar muito tempo por essas bandas. Entretanto, nas atuais circunstâncias, não custava nada que Antã e Kawã fossem por aquela direção. Talvez a sorte deles mudassem para melhor, eles estavam dispostos a apostar nisso. Durante a caminhada, Kawã insistiu com o Pai querendo saber o porquê de tanta preocupação por parte dos anciãos e o cacique.
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Saga Amazônica - Mistérios da Floresta - Livro I
FantasyKawã é um índio adolescente, um jovem guerreiro manáos. Campeão por duas vezes dos jogos tribais e um excelente caçador. Certo dia, viu sua vida virar de pernas para o ar quando em uma caçada com seu pai, o viu sendo morto por uma das criaturas lend...