UMA NOVA AMIGA?

10 0 0
                                    


Kawã invadiu a floresta de um jeito que nunca havia imaginado. Ele estava montado em uma cobra grande, a mais terrível das criaturas, e isso não era tudo, ela ainda o obedecia através de seus pensamentos. O índio olhou para trás e percebeu não estava mais sendo seguido por nenhum homem cobra ou anacondas. Ele diminuiu a velocidade até parar de uma vez. O índio saltou de sua montaria e observou a grandeza daquele animal. A cobra ficou simplesmente imóvel, completamente inerte, nem um movimento por menor que fosse, ela apenas esperava algum comando para ser obedecido.

— Por Tupã, como você é grande! — Exclamou assustado o índio. — Como nunca vi uma dessas antes? Você jamais passaria despercebida se arrastando na floresta. Algum índio veria você cunhã.

Kawã se admirou com o animal, seu tamanho, seu couro duro como uma armadura. O jovem manáos se assombrou como saiu com vida daquele lugar e ainda por cima trouxe consigo um arco, várias flechas e de quebra uma poderosa cobra que obedecia às suas vontades. Ele caminhou lentamente até o final da cobra olhando com atenção cada detalhe da serpente e seu assombro continuava maior com tudo o que via.

O couro duro como a casca de um ouriço de castanha, somente as grandes lanças e estacas bem apontadas conseguiriam penetrar aquela pele, ela parecia mesmo uma armadura. A sela era feita de couro de animais parecida com uma cadeira bem trabalhada. Os sacaris não montavam, mas sentavam nelas. O índio não soube identificar de qual animal era feita, entretanto, estava bem ajustada o que possibilitava o equilíbrio de quem a montava. Mesmo que a cobra fizesse movimentos bruscos, quem a montava não cairia.

— Como Tupã fez cobras de seu tamanho e as escondeu a ponto de eu nunca ter visto alguma assim perto da aldeia ou mesmo durante as caçadas? — Perguntou Kawã, todavia, a cobra guardava um profundo silêncio.

O índio já havia concluído que ela obedecia a seus pensamentos, então decidiu saber o que mais ela faria além de ter salvo a sua pele. Ele subiu novamente na boiuna próximo a cabeça sem se sentar na sela e deu alguns comandos. Primeiro, olhou para cima pensando no que pediria.

— Boiuna, me levante até aquele galho de castanheira. — Apenas com os pensamentos Kawã ordenou a cobra que prontamente o ergueu até o galho pedido. — Desça agora. — Ela o obedeceu descendo e colocando a cabeça no chão.

Tudo isso fascinou Kawã, mas também o deixou assustado. O que mais eles não sabiam sobre a floreta já que viviam há muito tempo nela? Isso o deixou intrigado e muito pensativo. O que ele achava que eram apenas histórias, eram mesmo reais e estavam saltando diante de seus olhos. O mapinguari, as cobras grandes, macacos falantes, o que mais ele ainda poderia encontrar, ou o porquê somente agora eles estavam se apresentando? O que havia acontecido para passarem despercebidos pelos índios por tanto tempo e por que estavam aparecendo tão rapidamente? Ele se ajeitou na sela da grande cobra e ficou meditando por alguns minutos.

Kawã percebeu uma movimentação repentina na vegetação. Alguém ou alguma coisa que não tinha a mínima pretensão de ser cuidadoso, vinha fazendo barulho a distâncias, pisando firme, derrubando galhos, espantando as aves. Ele se preparou para o inesperado, armou seu novo arco e aguardou o aparecimento do inimigo ou quem quer que fosse. Quando menos esperava quem rompeu a vegetação foi Tubal.

— Pelos bigodões de Zera, o que fazer você? Como poder você?

A primeira reação do macaco ao ver aquela cobra gigante foi de medo e assombro. Pois ele já havia visto o quê cobras como àquela tinham feito ao povo. Quanta dor e destruição elas já tinham causado para todo o seu povo.

— Calma meu amigo! Ela está controlada. Não se assuste tanto assim, ela fara apenas o que eu mandar. — Pediu Kawã tentando manter Tubal tranquilo.

Saga Amazônica - Mistérios da Floresta - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora