Capítulo 24

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...
Eu insistia para mim mesmo que o que iria fazer não era nada demais.
Eu não pagaria pelo programa dela. Tudo o que eu queria era vê-la, dizer um oi. Era ridículo, mas eu tinha certeza que no momento em que a visse e simplesmente trocasse meia dúzia de palavras com ela, eu me sentiria muito melhor. E era só o que eu queria. Era muito pouco para me crucificar.

Mas mesmo assim, eu me crucificava. Eu era um fraco, e nunca duvidei disso, mas era revoltante saber que minha fraqueza não me permitia seguir com um plano tão bem pensado. De qualquer forma, essa era a hora de escolher entre meu orgulho e a dor que atravessava e rasgava meu peito de um lado a outro, a dor que diminuiria se eu a visse.
Eu não conseguia mais lidar com aquela dor.

Quando atravessei a porta da frente da Casa de Tanya, senti meus nervos à flor da pele. Não era normal aquele nervosismo todo, mas eu não quis pensar sobre isso, então apenas continuei andando um pouco apressado para o lugar mais escuro do ambiente.

Sentei-me na mesa vazia mais ao canto, enquanto olhava em volta para ver se alguém havia reparado em mim.

- Nossa, estávamos preocupadas com você!

Virei-me surpreso e vi Ashleigh sentada ao meu lado. Quando foi que ela chegou ali?

- Ah, oi.

- Olá. Então, por onde esteve?

- Ocupado.

Minha atenção agora estava voltada para o ambiente, mais precisamente para a busca de uma certa garota que trabalhava naquela casa.

- Nós estranhamos você ter ficado tanto tempo sem vir ver a Lil.

Olhei para ela sem entender o que ela quis dizer com aquilo.

- Quê?

- Bom, ela parece ser sua favorita, né? Todas nós ficamos surpresas por você ter ficado tanto tempo longe dela. Quer dizer, só quem pareceu não dar muita importância pra isso foi ela.

Encarei-a sem saber o que falar. A verdade era que até eu mesmo estava surpreso de conseguir ficar tanto tempo longe dela, então não poderia julgá-las por sentir a mesma coisa. Mas agora, estava passando por um pequeno dilema. Por um lado, fiquei aliviado porque, se Lili não havia dado importância ao meu desaparecimento repentino, isso talvez significasse que ela não tenha ficado chateada comigo. Por outro lado, por que ela não havia dado importância? Ela não tinha dito que me queria por perto? Será que ela não fazia questão da minha presença?

Será que não sentia tanto a minha falta quanto eu sentia a dela?

- Bom, você parece ainda estar se decidindo quem vai escolher hoje, então vou te deixar em paz. Ah, eu estou livre.

Dizendo isso, piscou para mim e saiu rebolando da forma vulgar que eu bem me lembrava ser dela.

Voltei minha atenção para o ambiente outra vez. Me sentia seguro estando em um lugar particularmente escuro e escondido, mas era uma questão de tempo até Vanessa contar às outras meninas que eu finalmente havia aparecido, e meu esconderijo seria descoberto. Por isso, me permiti aproveitar ao máximo o tempo que tinha comigo mesmo.

Eu deveria procurá-la? Será que ela estava ali? Talvez já estivesse acompanhada no andar de cima, e o pensamento fez com que uma dor me atingisse como um soco.

Eu queria vê-la. Queria que ela estivesse sozinha e bem. Queria que nenhum filho da puta a tivesse machucado, e outra vez senti uma dor angustiante ao constatar que, se ela estivesse ferida, eu seria o culpado.

Comecei a procurar em volta com mais urgência, enquanto tentava enxergar entre o numeroso grupo de homens no recinto. Alguém me ofereceu um whisky, mas como notei que a voz não era da pessoa que eu procurava, neguei a oferta sem dar muita atenção. Duas meninas tentaram me seduzir para que eu pagasse pelo programa, mas eu nunca estive tão pouco afim de uma transa como naquele momento – o que era estranho, visto que eu estava há um tempo razoável sem sexo – então neguei.

De Repente, Amor| Sprousehart (√)Onde histórias criam vida. Descubra agora