Capítulo 40

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Lili
Eu andava por uma grande quantidade de pessoas, todas homens. Na tentativa de não esbarrar em ninguém, meu corpo desviava dos vultos que passavam, todos indo na direção oposta à minha. Minha cabeça mantinha-se abaixada, meus olhos no chão, e foi quando os levantei pela primeira vez que notei: Todos eles me encaravam.

Eu não sabia onde estava. Imediatamente, desviei novamente os olhos para baixo, e por algum motivo me dei conta de que Cole caminhava ao meu lado. Senti um alívio libertador com sua presença, mas foi quando nossas mãos se tocaram acidentalmente que ele falou.

- Aqui não.

Encarei-o, cheia de dúvidas. Cole continuava olhando para frente, imponente, caminhando de forma segura. Então, como um estalo, me dei conta do que estava acontecendo: ele sentia vergonha de mim. Vergonha de me assumir como alguém que deveria estar ao seu lado. Vergonha do que todos eles, que caminhavam contra nós, pensariam se nos vissem de mãos dadas.

Cole sentia vergonha de ser visto com uma puta.

- Lil...

Abaixei a cabeça, não conseguindo encará-lo. Não conseguindo formular uma frase sequer, porque uma tristeza imensa me calava.

E então, eu estava sozinha outra vez.

- Lil...

Eu estava sozinha. Ele não me amava. E eu sabia disso.

- Lil... Acorda...

De repente, tudo que eu conseguia ver era seu rosto, um pouco longe, mas seus olhos dourados muito próximos. Fui voltando à realidade lentamente, sua presença tomando forma diante de mim.

Era ele. Suas mãos passando suavemente por entre meus cabelos. Seu perfume me trazendo de volta à consciência mais depressa. Depois de um momento breve, consegui me situar, e lá estava eu, de volta ao quarto de Cole, deitada em sua cama, coberta por muitos dos lençóis embolados. Ele estava ajoelhado, arrumado e perfumado com um tipo de blazer escuro, muito próximo ao meu rosto. Mais próximo do que o necessário.

- Desculpa te acordar tão cedo. É que eu tenho que ir trabalhar.

Pisquei os olhos algumas vezes, ainda um pouco atordoada por causa do sono, mas com um alívio imenso em estar fora do meu pesadelo. Que horas deviam ser?

- E você vai ter que ficar aqui... Sozinha.

Ele não tirou os olhos de mim. Também não se moveu um centímetro sequer, ou parou de me tocar. Mas eu podia ver que alguma coisa o incomodava.

- Você... vai ficar? Promete que não vai embora?

Medo. De novo, ele estava com medo de que eu o deixasse. De novo, ele considerava essa possibilidade, e me perguntei o motivo pelo qual eu mesma já estava começando a esquecer dela.

- Eu vou ficar.

Ele continuou me encarando, como quem quisesse buscar nas minhas palavras alguma pista de que aquilo era mentira. Pisquei algumas vezes para tornar meu olhar mais firme, até que ele finalmente pareceu acreditar em mim.

- Essa casa é sua, ok?

Não respondi, mas ele não pareceu se incomodar.

- Deixei o número do meu celular anotado, está em cima do criado mudo do quarto de hóspedes. Qualquer coisa que você quiser, ligue pra mim. E fique à vontade. Vou estar de volta à noite.

- Ok. - Respondi, olhando diretamente nos olhos dele.
Permanecemos em silêncio por um bom tempo, e pela primeira vez em muito tempo aquele silêncio não era desconfortável. Não era um silêncio carregado de desconfianças, segredos ou perguntas caladas. Era apenas aquilo.

De Repente, Amor| Sprousehart (√)Onde histórias criam vida. Descubra agora