Gobi

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O badalar das faíscas do fogo que trepidava se perdiam na imensidão do céu mais profundo que os próprios oceanos, os ventos, mais comuns a noite, cortavam com os grãos de areia que levavam, a pele daqueles que sentiam o frio em contraste com a secura quase sufocante. O lugar recebia temporariamente um viajante silencioso em seu sofrimento interno. A solidão consumia a mais vigorosa das almas. Andando até não ser capaz de medir o tempo, as razões pela qual Namjoon vagava por esse deserto eram desconhecidas. Enfrentava o maior adversário do ser humano, a natureza, até agora estava se saindo bem, mas não sabia até quando aguentaria.

Nessa vastidão de areia e calor insuportável e a solidão, deixavam o formato abstrato e virava físico, opressivo pelo sentimento de estar no meio do nada, era uma prisão sem grades ou paredes, apenas o imenso desconhecido, tentando deixar de lado estes pensamentos ominosos, Namjoon olha para a Lua acompanhada das pequenas estrelas que pintavam o céu, a única companhia que teve em toda sua vida, mas tão indiferente quanto qualquer um. Ele rezou em silêncio, “Peço para ti, Lua, que ilumines meu caminho com tua luz prata até alguém que eu possa amar por toda a eternidade.” A Lua não estaria tão indiferente agora, acatou seu pedido.

Quando o viajante foi para o mundo dos sonhos, viu a Lua, enorme em toda a sua glória a sua frente, ele a tocou e pôde sentir a superfície arenosa, ela não brilhava tanto quando estava no céu. Namjoon não sentiu aquela opressão ao estar no deserto quando estava perto da Lua. Ela era sua companhia, ela ajudaria ele a não se sentir tão sozinho, mas o que não sabia era se Namjoon estaria preparado, contudo, descobriria a medida que o tempo fosse passar. O seu pedido fora realizado. O calor escaldante o retirou dos campos oníricos até a realidade.

Sua rotina era a de sempre, limpava todos os rastros que deixava, guardava seus objetos, olhava o mapa e seguia pelo calor do deserto impiedoso. A viagem seguia a pé, às vezes Namjoon encontrava outro contingente de humanos, mas evitava que eles notassem sua presença, entretanto, tinha momentos que era inevitável e Namjoon rezava a Lua para o salvaguardar. Namjoon viu um em particular, mais especificamente uma caravana, decidiu olhar mais de perto e todos estavam o mais rápido possível, um chamou sua atenção, ele estava com vestimentas que eram de seu interesse, usou sua lábia para conseguir um preço favorável, felizmente nunca falhava.

Namjoon parou por um momento para olhar o céu e notou uma estrela, o céu estava sem nenhuma nuvem como sempre, mas havia um ponto menor que a Lua perto da mesma. Ela conseguia exercer seu brilho com máxima potência mesmo com o Sol dominando todo o céu. Namjoon decidiu seguir até o seu destino, estava quase chegando, um pequeno oásis no deserto. Quando a noite chegou, Namjoon viu que a estrela não estava mais no céu, mais a frente uma linha cinza se formava. Namjoon decidiu investigar, esses fenômenos eram estranhos demais para serem deixados de lado. Apagou o fogo, deixou seus pertences numa gruta próxima à montanha e seguiu caminho até a cortina de fumaça. Não era muito longe dali, quando chegou tudo que viu foi um grande buraco na areia, não era tão profundo, mas sua imensidão poderia ser facilmente confundida com um lago que secou. Namjoon notou o que parecia ser uma forma quase imperceptível, no centro, correu até lá tomando cuidado para não cair pelo caminho.

No centro havia o que parecia ser um humano, desacordado. Namjoon se deu um tapa, deveria estar sonhando. “Não é possível que ele tenha vindo do céu.” A razão em sua mente contra argumentava. Cobriu o jovem com sua veste de cima e o carregou em seus braços. Seus cabelos pretos desengrenhados cobriam o rosto angelical, sereno, não havia notado que estava em terra, num mundo completamente desconhecido.

Quando nosso desconhecido vindo do céu acordou, a primeira visão que teve foi de nosso viajante acendendo uma fogueira. Apenas se sentou calmamente. Olhou para os lados assimilando o grande nada ao seu redor. Namjoon foi ao seu encontro com peças de roupas. Namjoon sentou a sua frente examinando o outro viajante incomum, era como ele, possuía dois olhos. Uma boca. Um nariz. Cinco dedos em cada mão. Dois braços. Duas pernas. Mas como era possível ter vindo direto do céu. Namjoon pensou em várias maneiras diferentes de estabelecer um diálogo. “Mas ele saberia falar? E se…” Vários 'E se' circulavam pela sua mente. Antes de estabelecer contato com o desconhecido a sua frente lhe entregou as roupas para que pudesse se cobrir e quase o ajudou a se vestir, mas o companheiro mostrou que não era necessário.

Se sentou a frente de Namjoon o encarando, este abria e fechava a boca tentando articular alguma sentença, porém, nada saía. Estendeu a mão, Namjoon a pegou, era um pouco maior que a sua. “Taehyung.” Foi tudo que disse. “Namjoon.” Taehyung colocou a mão no rosto de Namjoon, examinando-o, Namjoon foi pego de surpresa, mas nada disse. “Temos que dormir, amanhã será um longo dia.” Taehyung apenas assentiu, e se aninhou próximo a Namjoon antes que pudesse o afastar. Deitaram juntos sob a areia, Namjoon encarou o céu imaginando como a Lua o havia presenteado. Se levantou cuidadosamente sem acordar Taehyung, estendeu um pano para que pudessem dormir com maior conforto. Apagou o fogo. Deitou novamente Taehyung no tapete. Ele dormia profundamente, tão sereno quanto o havia encontrado, afastou os fios que cobriam seu rosto. Observando cada detalhe. Também sentiu os olhos fecharem sozinhos. Era um novo capítulo em sua jornada.

Quando Taehyung acordou, tudo que sentiu foi a faca solar cortando sua visão. Namjoon se aproximou e entregou calçados. Taehyung agradeceu com seu sorriso quadrado, Namjoon não conseguiu resistir, e sorriu também mostrando suas covinhas. Taehyung se aproximou para tocá-las como uma criança ao ver algo novo. Os dois não saberiam, mas ali um fio havia sido atado, os dois não se separariam, não importando quantas vidas iriam trespassar.

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