"Dez anos de azar, quinze minutos de sorte."

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Havia sangue embaixo de suas unhas e isso não a incomodava, ela teve dificuldades em amarrar o cinto da katana sobre o vestido branco então o estranho mascarado lhe fez o favor de colocar a espada de Yusuke em seu cinto, ele parecia com pressa pra sair, rasgaram o vestido de Hana pouco abaixo dos joelhos para facilitar que corressem, não era uma roupa descente mas não precisavam se preocupar com isto. Ela ia prender os longos cabelos pra ir, mas de relance olhou-se no reflexo da armadura de Yusuke caída no chão, vendo o rosto de uma Oiran, vendo sua própria delicadeza ela fez uma careta, se aproximou do jovem desconhecido, pegando a faca que ele carregava na sua cintura sem aviso.

- O que está fazendo? – Ele perguntou colocando a mão para sacar a sua própria katana, provavelmente achando que Hana iria taca-lo, mas ela levou a faca para as longas madeixas, cortando em um único golpe os longos cabelos na altura do ombro, e então levando a faca para a própria bochecha, causando um profundo corte ali. – Você é louca?

- Não... Eu só quero garantir que eu nunca mais voltarei para a vida de antes. – Sorriu enquanto sua bochecha sangrava e então entregou a faca para o homem. – Me chame de Hana.

- Moisaka... – Ele se apresentou, olhando-a como quem olha uma aberração mas ao mesmo tempo com admiração o suficiente para sorrir e então pegar a máscara, colocando-a. – Vamos, Hana.

Ambos saíram pela janela e foram para o quintal dos fundos da casa, haviam homens mortos ali caídos ao chão, ela sempre ouviu e leu que era difícil ver cadáveres, pessoas ficavam traumatizadas ou amedrontadas, até mesmo enojadas... Mas ela não conseguia sentir absolutamente nada por uma pessoa morta. Talvez inveja, inveja pela paz que a morte trazia, não temia ou enojava a morte, não sentia nada por ela... A completa apatia lhe fazia sentir bem.
Foi difícil para ela pular o grande muro mas Moisaka lhe ajudou, puxando-a pelos braços para que pudessem cair no meio de um matagal. Ela olhou ao redor, não via luzes ou ouvia a cidade, o distrito de Shimabara era o maior distrito de bordéis de Quioto e pelo que ela sabia ela sempre viveu lá, como poderia não estar vendo nada.

- Onde estamos? – Ela perguntou enquanto ele andava entre o mato.

- Nas fronteiras de Shimabara. – Ele resmungou baixo, enquanto parecia procurar alguma coisa no horizonte, mas estava tão escuro que era quase impossível ver mais que um palmo a sua frente.

- Nunca estive tão longe... – Hana sorriu animada.

Eles demoraram para achar o cavalo de Moisaka, e ele xingava toda vez que trombava de frente com uma árvore na escuridão, o que ele fazia muito bem tendo em vista que estavam em um descampado que quase não tinha árvore, o que fazia Hana rir. Nunca havia conhecido um samurai tão atrapalhado em toda a sua vida, mas também não havia conhecido mais do que três, o cavalo dele era preto o que não ajudou nem um pouco na procura deles, mas repentinamente Hana sentiu uma movimentação no solo, e silenciosamente deslizou para um canto, trombando com um animal que relinchou em reclamação.

- Como achou ele? Onde está? – A voz de Moisaka surgiu.

- Segue minha voz. – Pediu. – Eu estou descalça, da pra sentir o som das patas dele no solo. – Explicou com calma e recebeu um xingamento baixo em resposta, enquanto tentavam montar os dois, luzes surgiram no horizonte em direção onde ficava a casa que haviam fugido, e então o barulho de vozes.

- Ah merda... – o samurai disse e então puxou Hana com força pra cima do cavalo. – Você é religiosa?

- Ah? Eu? Por que eu seria? – Ela riu, se ajeitando no cavalo.

- Por que vai ter que rezar! – Assim que disse isso o som de algo batendo contra a árvore foi ouvido e gritos ao longe. Flechas.

Estavam em campo aberto, o cavalo relinchou alto parecendo perceber o desespero e disparou na direção oposta da casa, Hana viu iluminação e olhou para trás apenas para ver flechas de fogo sendo lançadas e caindo no chão, queimando rapidamente a grama e apagando, ela arregalou os olhos e então olhou para frente apenas para tremer ao ouvir um forte trovão. Havia pelo menos quinze minutos de descampado até entrarem em uma floresta com árvores onde poderiam se proteger das flechas. Quinze minutos de sorte, era tudo que precisavam.

Flores murchasOnde histórias criam vida. Descubra agora