"Apenas dez dias"

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Rue entregou para Hana um pano e um pouco de água para limpar o sangue dos lábios, das mãos e do rosto. Havia um corte em sua sobrancelha e o quase cicatrizado e profundo corte em sua bochecha havia sido aberto novamente durante briga, sangrava um pouco, a garota sentia seu corpo dolorido mas não se arrependia do que havia feito, nem um pouco. O mais velho se sentou do outro lado da mesa, em frente a ela, ele estava com alguns machucados no rosto também mas não pegou nenhum pano pra limpar.

- Você deveria limpar o sangue do seu rosto também. – Ela torceu o pano que já estava um pouco sujo com o sangue dela e então jogou em direção do garoto, que o pegou no ar.

- Obrigado... Sabe, o que você estava pensando? Quem ataca um homem duas vezes o seu tamanho? – O moreno começou, rindo e negando com a cabeça. – Você é insana, mulher. Não consegue escapar de problemas nem por um único dia, não é mesmo?

A garota deu de ombros, sorrindo e cruzando as pernas, realmente arrumar confusão era tudo que fizera desde o dia da sua cerimônia. Havia matado Yusuke, fugido de Shimabara, se aliado a outro senhor feudal e agora havia atacado o filho do mestre de armas e provavelmente lhe dado uma cicatriz que ia durar pra sempre. Não conseguia se arrepender de nenhuma das suas decisões então não estava se sentindo mal por isso, não é como se fosse louca e atacasse pessoas sem motivos e as pessoas que ela havia machucado haviam feito coisas antes para merecerem isso.
Uma criada apareceu repentinamente para deixar um pouco de chá em cima da mesa e levar a bacia com água suja de sangue, a mulher pareceu tomar um susto ao olhar Hana mas não fez nenhum comentário a princípio.

- Então, o que você queria tanto falar comigo que a fez aparecer do nada em minha casa? – Rue cruzou os braços enquanto encarava a garota, que estalou a língua e pendeu a cabeça para o lado, tinha esquecido por um momento que haviam coisas importantes para ser feitas ali, não apenas agredir o irmão mais velho do amigo.

- Preciso de alguém pra me treinar, o daimiô disse que eu deveria fazer isso sozinha mas infelizmente eu não conheço ninguém nesse lugar. – Explicou a garota enquanto apoiava-se em cima da pequena mesa, ignorando o chá e as xícaras ali, não se interessava em beber ou qualquer coisa do tipo, precisava de ajuda e esperava que o garoto pudesse lhe oferecer isso.

- Você quer que eu te treine? - Ele riu, negando com a cabeça enquanto servia para si próprio um pouco de chá. – Não sou um professor, então agradeço a oferta mas não.

- Não estava falando de você me treinar, homem. – Ela negou rapidamente com a cabeça. – Estava falando sobre você me ajudar a encontrar alguém disposto a fazer isso, a me treinar. Eu não posso simplesmente chegar em qualquer um e pedir para ser treinada e como você é filho de alguém importante talvez as pessoas reconsiderem o meu pedido caso você esteja comigo... Além do que, também não conheço ninguém que possa me treinar e você mora na cidade então deve conhecer e...

- Tudo bem, tudo bem eu já entendi o que quis dizer. – Ele disse ao ver que a garota estava um tanto quanto perdida ao tentar explicar exatamente o que queria, não a julgava, imaginava que sua posição era mesmo confusa e de certa forma sentia empatia por Hana além de estar grato por ela ter tentado lhe defender mesmo diante do próprio senhor feudal. – Bom, vai ser difícil achar algum samurai que aceite treinar uma mulher e ainda com já quinze anos, o treinamento samurai começa aos sete anos de idade então você está bem atrasada, sabe? Talvez se você ainda fosse uma criança os mestres menos convencionais ficassem tentados a assumir o desafio de treinar uma mulher... Mas ainda podemos ir até eles. Existem cerca de sete grandes mestres em Hiyokuna, podemos ir até eles. – Rue parecia pensativo enquanto falava e explicava o que ela precisava fazer, bebericando o chá ao final de sua fala, ainda pensativo. Hana ouvia atentamente a cada palavra que ele proferia tentando gravar o máximo possível já que sabia que aquilo era importante, tinham sete pessoas em toda a cidade que poderiam lhe treinar. E isso lhe dava sete chances, imaginava que pelo menos um entre esses homens aceitaria esse desafio.

Flores murchasOnde histórias criam vida. Descubra agora