Capítulo 1

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Rio de Janeiro, 02 de Setembro de 2008.

Era noite. A Lua fora engolida pelo negrume e tudo estava mais escuro do que de costume. Passava das 11 da noite, e estava tudo quase deserto. Alan descia uma rua do Leblon. Em breve seria assassinado.

Durante uma hora inteira tentava entender porque ele não tinha aparecido. As aulas no colégio São Bento acabavam às 22:30 hrs. Talvez ele tivesse dado a volta pela Cupertino Durão. Saíra de casa disposto a dizer finalmente tudo o que sentia, uma decisão que levou muito tempo para ser tomada, rasgar-se ao meio para mostrar o quanto de esperança ainda existia em seu coração, de que pudessem ter um momento único e sincero.

— Alan.

A voz familiar o fez despertar do transe vago.

Voltou-se em direção de onde o som parecia vir, não enxergou mais que silêncio. Só depois que a vista se acostumou ao escuro pôde notar a figura encostada à porta da loja fechada.

— Vem cá! Não tá me vendo?

Sorriu.

— Vim aqui te fazer uma surpresa e acabei surpreendido!

Abraçaram-se. Alan amoleceu porque era isso o que mais gostava nele: como podia ser tão carinhoso e deixá-lo tão seguro. Alan queria vê-lo sob a luz, dizer finalmente aquilo para o que tinha se preparado a tarde inteira:

Nem teve tempo de se mover por conta própria outra vez. Foi girado com força e teve o rosto espremido contra o blindex frio da loja. Tentou protestar, mas era muito mais fraco e estava imobilizado.

— Me solta...

Sentiu o metal insensível rasgar entre suas costelas. Bateu pernas, mas estava sem ângulo para chutar. A lâmina entrou ainda mais, com força, sem piedade e sem explicação. Quando a lâmina saiu, seus pulmões se encheram de ar impuro. A dor aumentou. Tentou gritar, a voz não saiu.

Alan tombou pesado. Ainda teve tempo de balbuciar um por quê? O assassino deu um passo atrás:

— Essa é a melhor maneira de provar meu amor.

Alan sentia a vida esvair-se lenta e pesadamente, os pulmões recusando o ar impuro que entrava pela ferida. Do alto, a luz da lua nova, como a própria lâmina que era um prolongamento da mão do assassino.

Finalmente sentiu outra estocada no coração, e com ela uma certeza branda de que a dor e o sofrimento logo acabariam. O assassino não sorria, não esboçava outro gesto, seus olhos eram o próprio terror. Eram a morte, e tudo o que ela podia aliviar. Alan teria sorrido da ironia, se pudesse. E estava finalmente morto.

Eu, InabalávelOnde histórias criam vida. Descubra agora