Era manhã de neblina espessa na praia do Leblon. Por volta das cinco da manhã a jovem detetive Valéria Mayer recebeu um chamado para investigar a cena do assassinato. O corpo tinha sido encontrado por um dos funcionários da loja.
Ao chegar ao local, Valéria viu o corpo de um adolescente no chão da porta de entrada. Já alguns passantes haviam se detido, curiosos e chocados. Alguns policiais militares isolaram o corpo e tomavam depoimentos de moradores.
Valéria encontrou o adolescente de costas para o chão, as pernas dobradas e tombadas para o lado esquerdo, a cabeça para a direita, na direção da rua. Muito sangue descera pelos degraus de mármore até o meio fio. O bairro, considerado um dos lugares mais pacatos do país, residência de famílias bem abastadas, via-se diante de uma cena de assassinato sem precedentes.
Como não havia indícios de luta, nem hematomas visíveis na cabeça e no corpo, deduziu, precisamente, que a vítima conhecesse o assassino. Sem câmeras de segurança em volta, a esperança seria colher depoimentos de moradores que talvez pudessem ter visto algo das janelas de seus apartamentos.
Enquanto os peritos coletavam evidências, Valéria percebeu que havia algo no bolso direito da calça da vítima. Virou-se para o perito e pediu que retirasse.
Um bilhete em letra cursiva.
“Meu querido,
Sei que nosso relacionamento começou de forma inesperada. Sei que sempre te disse que não queria compromisso, que queria curtir a vida. Sei também que você é comprometido e por conta disto, só ficou comigo porque precisava de desprendimento. Pensei muito nas últimas semanas e percebi o óbvio. Que não consigo ficar longe de você. Já te falei isso algumas vezes. Mesmo sabendo que você tem um companheiro, é mais forte do que eu.
Por conta disto, tenho uma proposta a te fazer: quero ser seu amante.
Te amo tanto que não tenho palavras pra expressar o tamanho do meu sentimento, assim, por escrito. Quero te dizer tudo pessoalmente, mas não sei se tenho coragem. Então, se pelo menos você ler essa carta já fico feliz. Te amo, te amo muito!
Com amor, Alan.”
Não demorou muito para que aparecesse alguém da família. Entre lágrimas Leonardo confirmou ser irmão da vítima.
Foi amparado pelos policiais quando tentou erguer o corpo do irmão. Valéria Mayer tinha uma história a ser desvendada pela frente.

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Eu, Inabalável
Gizem / Gerilim“Leonardo desperta. Olha para o relógio de cabeceira e percebe que ainda tem bastante tempo para se arrumar e ir para o colégio. Ao se levantar sente algo diferente. Verifica o quarto. Tudo está em seu devido lugar. Ele coça os olhos para ter certez...