Talvez eu não tenha aptidão para ser o homem culto que todos esperam que eu me torne. Talvez a vida tenha me feito uma fortaleza e também tenha construído em mim a mais importante lição, que muitos morrerão sem saber.Provavelmente, essa minha sabedoria juvenil me levaria a te deixar para lá, afundar-me cada vez mais, nesses dias de bagunça, entre os livros de história, filosofia, religião, na música, acompanhados de vinho - que você sempre soube apreciar melhor do que eu-, e dos cigarros - aos quais eu matava os maços, enquanto você contava os seus um a um nos dias ruins -. Talvez, então, entre desenvolver materiais e realizar descobertas, eu poderia contribuir de alguma pequena forma para com essa nossa raça hostil, ingrata e mesquinha, que nada merece além da autodestruição, a qual planta e rega com tanto fervor.
Ao chegar perto do fim desta vida, perceberia que de nada valeu toda uma jornada voltada para papéis e teorias sem serventia, já que deixei sem hesitar, nem olhar para trás ou pensar uma segunda vez, as aventuras imaginárias das crianças que moraram em mim, além de todo o ardor da paixão mais insana que não me permiti viver à flor da pele. Deixaria para trás você.
Rezo a mim, sempre que me lembro de rezar, para que me permita as segundas e as centésimas chances de tentar e me machucar novamente -daí o porquê da fortaleza, pois é necessário ser forte para aceitar o encargo, por conta e risco-, mas que eu não deixe nunca de ser esta besta animal, ainda que pensante, que sente tudo de maneira desenfreada, desmedida. Que minhas vísceras e entranhas falem por mim. Que só assim, a poesia que jorra de mim não morra, e não viva a me corroer, nos meus pensamentos últimos, as traças do arrependimento.
Talvez eu não tenha aptidão para ser o homem culto que todos esperam que eu me torne, mas espero viver, de fato, nos trilhos do que me torna ainda humano (o pensar), uma jornada que me permita apenas histórias de um homem que soube, intensamente, amar.