É sempre difícil me expressar.
Parece que não existe um só detalhe à minha volta que não tenha se tornado parte da lembrança que tenho de ti, e eu sinto como se isso nunca fosse passar.
O desinteresse que eu sinto em trocar 15 minutos de conversa com qualquer ser humano, ou se quer me permitir conhecer alguém é absurdo, pois também sinto que ninguém será tão interessante, pelo simples fato de não ser você.
Pois bem, logo eu que vivo dizendo que existem bilhões de pessoas no mundo, com certeza há outros que combinem comigo, que digam que eu me encaixo perfeitamente em seus braços, como você me dizia, mas a verdade é que eu não quero outros braços. Porcaria!
Eu quero fotografar as nuvens e lhe enviar, perguntando o que você vê. Revelar as nossas fotos e colar pelos postes da cidade, para que todos vejam que nos amamos e você ande por qualquer lugar e se lembre de mim, como eu lembro de você vendo a parede cinza de um prédio, a folha verde de uma árvore, o meu pé sujo de areia, um livro de filosofia, uma garrafa de cerveja, um filme qualquer, a notícia de uma capivara correndo no centro de Curitiba, um casal de idosos na rua, a construção dos trilhos que cortam a cidade ou um anúncio de pacote de viagens.
Se ouço uma música, ando por um jardim, respiro um pouco mais fundo, registro uma fotografia do mar, acordo um pouco mais cedo ou não durmo, se mudo meu cabelo, tomo um banho, escrevo um livro, faço listas, você está em todas essas coisas. "Vinho, papel, caneta e você", você me disse uma vez, dizendo que eu sempre aparecia nos seus textos, mesmo quando você não queria. "É uma merda", você dizia. "É uma merda", você repetia sempre que contava o quanto pensava em mim sem querer. Pensando bem, eu não sei o quanto você queria gostar de mim.
Era um problema sentir-se vulnerável? Sempre achei que talvez você tivesse vergonha de mim, por isso não queria sentir tanto assim. Mas ao mesmo tempo você parecia ser a pessoa mais orgulhosa de mim que já pisou nessa terra.
Você me fazia acreditar que eu poderia correr tão rápido a ponto de levar o nosso planeta a girar para o lado oposto, quando me dizia que eu era incrível. Você me fazia sentir vontade de fazer voar a minha alma livre, recolocar as tintas na aquarela, tirar a pena do tinteiro e decorar as falas dos meus personagens.
Tinha alguma história da sua família, que eu já não lembro direito, mas que ia parar na cidade de Catende, e eu recitei a poesia da minha personagem de boneca de pano, que falava dessa cidadezinha. Você sorriu com os olhinhos brilhando, de um jeito que nunca vou esquecer, já que meus sonhos sempre fazem questão de lembrar.
Sinto falta de sentir meu mundo seguro e confortável, como só sentia quando encaixava minha cabeça no teu peito e fechava os olhos, respirando fundo pra sentir teu cheiro recém saído do banho, enquanto meu corpo cansado não me permitia, se quer, mexer os braços, com medo de que toda aquela segurança e aconchego escorregassem pelos meus dedos e fossem embora.
Lembro-me bem de alguns detalhes importantes que fizeram eu me apaixonar tão perdida e intensamente por você. A sede de acumular conhecimento, pelo simples prazer de saber, e o vício compulsivo no trabalho. Sim, seus vícios em ler e ouvir como louco, bem como "o trabalho dignifica o homem", suas aventuras para dignificar-se. Você foi onde encontrei o homem dos meus sonhos.
É sempre difícil me expressar tentando dimensionar a frequência disso. Da sua presença, mesmo ausente. Do um sentimento latente. Do seu olhar indiferente. E dói. e eu não sei se é possível realmente colocar na ponta da caneta todas as formas que te vejo.
Rezo todos os dias para que essa tormenta acabe logo. Que você suma da minha mente ou que decida voltar para mim.
É sempre difícil me expressar, principalmente quando não há forma de expressão que seja condizente com o a grandeza da minha saudade, ou que traga você de volta pra mim, no expresso da felicidade.