один

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1988

John sentia que estava prestes a explodir. Estava em um carro um tanto confortável, mas seu corpo doía sem motivo aparente. Sua perna se retorcia algumas vezes provocando uma dor sufocante. O garoto estava tentando esconder o que sentia ao máximo de seus pais que estavam no banco a frente e de sua irmã que estava ao seu lado. "A viagem de Slough até Londres não é tão longa, aguente firme John", o garoto pensou para si mesmo. Puxou o seu pequeno caderno de sua bolsa e rabiscou algum desenho para tentar esquecer da dor que tanto o incomodava. No fim apenas desenhou uma paisagem mal feita.

Depois de um tempo a dor se acalmou e o garoto pode observar Londres por sua janela. Achava aquele lugar um exagero, pomposo demais, as pessoas pareciam nunca sorrir, com exceção é claro, dos turistas que eram muito fáceis de reconhecer.

John viu prédios e construções passarem rapidamente, "são todos iguais", pensou o garoto a respeito dos edifícios. Escutou o barulho do pneu passando sobre o cascalho e logo percebeu aonde estava. O carro parou com um tranco fazendo com que John atingisse o seu rosto no banco, o que causou risadas da sua irmã mais nova.

— Vocês dois. — A mãe disse atraindo a atenção dos filhos para si. — Comportem-se. — Disse sinalizando para que os filhos saíssem do carro.

John pegou a sua bengala de apoio e desceu do automóvel. Virou-se e pode perceber a grande casa que se estendia a sua frente, sua pintura era de um branco triste, tinha um grande jardim e era repleta de janelas com uma porta enorme centralizada.

— O nosso palácio! — Harriet, irmã mais nova de John gritou e sumiu de vista pelo jardim para chegar a porta. A mansão Watson tinha mais de 100 anos. Sua família se consistia em grandes médicos que eram grandemente conhecidos em toda Londres.

O garoto andou, andou e andou. Parecia que aquele jardim não tinha fim. Quando estava prestes a desistir viu sua irmã saltitando a sua frente e batendo na porta que logo foi atendida.

— Pequena Watson. — Um homem com alguns fios de cabelos brancos, que usava um smoking e tinha postura ereta disse. Seu nome era Grayson. O mordomo.

— Sr.Gray! — Harry gritou e abraçou o homem que hesitou por um momento mas logo cedeu. — Qual quarto eu vou ficar? — A garotinha perguntou finalizando o abraço e abrindo o maior sorrisão.

— Lamento dizer que não vai mais ser o Cygnus. — Grayson disse e o sorriso de Harriet se desfez aos poucos. — Você foi promovida ao quarto Aquila! Suba logo, suas coisas já estão lá. — Ele disse e a garota logo começou a saltitar para as escadas com um sorriso de orelha a orelha.

— Olá Grayson. — John disse aproximando-se do homem.

— Olá, John. Sinto muito por sua perna.

— Está tudo bem, acidentes acontecem. Poderia me informar se vou ficar no Cepheus como em todas as visitas? — John perguntou arrumando a mochila em seus ombros.

— O seu quarto agora é o Andrômeda, suas coisas já estão lá. — O mais velho respondeu.

— Se me permite perguntar, por que essa mudança repentina de quartos? — John questionou achando a situação deverás de estranha.

— Receio que não poderei responder essa pergunta Sr.Watson. — O mordomo disse tentando desviar o seu olhar do de John.

— Tudo bem. — O garoto respondeu e se dirigiu a escadaria, subindo com dificuldade.

O quarto Andrômeda era 3 vezes maior do que Cepheus. Tinha um enorme armário de roupas, uma cama gigante que poderia caber umas dez pessoas, um banheiro e uma sacada que tinha vista para todo o jardim, essa foi a parte que John mais gostou.

O garoto admirou um pouco mais o local e foi para a sacada. Ainda era dia, talvez umas cinco horas da tarde, o sol brilhava sobre a copa das árvores deixando a paisagem mais bonita do que o normal, o farfalhar dos pássaros indo para seus ninhos tomava conta do silêncio, era algo tão bonito que John suspirou.

— Esse era o quarto do seu avô. — Uma voz soou pelo cômodo assuntando o garoto, virou-se e pode ver a figura de sua mãe parada na porta, se aproximando um pouco mais. — Também foi o quarto do pai dele, e do pai do pai dele, e do pai do pai do pai dele, bom, você me entendeu. — Ela disse rindo, John apenas deu um sorriso mínimo. Um silêncio pairava no ar, o garoto estava ao lado de sua mãe apenas observando o sol descer no horizonte e sumir entre as árvores. — Não viemos só para o fim de semana. — A mãe disse.

— O que? — O Watson mais novo perguntou.

— Eu disse que iríamos passar o final de semana aqui mas menti. Vamos nos mudar permanente para Londres. — John parecia não expressar nada. — O seu avô deixou a casa para nós após sua morte, por dois meses eu e seu pai viemos discutindo a respeito do que fazer, e essa foi a nossa decisão final. Me surpreende que você não tenha descoberto antes, é sempre tão observador.

— Mãe, eu não tive tempo de dizer adeus para os meus amigos, e as minhas coisas? E a escola de Harry? — John perguntou rapidamente.

— São apenas alguns minutos daqui até Slough, você poderá vê-los. Suas coisas já estão a caminho e Harry se adapta bem as coisas, ela adora Londres. — "Eu não", pensou John.

— Tudo bem. — O garoto disse usando a frase que mais usava a meses. A mãe o beijou no topo da cabeça e saiu do quarto, deixando para trás um John indignado, mas sabendo que não poderia fazer nada, ele apenas sentou-se na cama, pegou o seu caderno e desenhou até pegar no sono.

𝐥𝐢𝐧𝐞𝐚𝐠𝐞 {𝐣𝐨𝐡𝐧𝐥𝐨𝐜𝐤}Onde histórias criam vida. Descubra agora