ÁPICE

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Havia chegado no ápice.

Gemeu, mas não era a esse ápice que havia chegado. Havia sido bom, mas sinceramente, estava farta dos inúmeros garotos que lhe pagavam uma dose e alguma nota pequena em troca de sexo com uma mulher "experiente". Então gemeu apenas para satisfazer seu ego masculino. Revirou os olhos, mais por tédio do que por orgasmo.

Ele rolou para o lado. Ela pegou o resto do cigarro e tragou. Observou o mais novo: esbelto, vigoroso, forte, bonito, no ápice da juventude. Florence também estava no ápice.

Sua ressaca estava no ápice. A fumaça do maldito cigarro era a única coisa que a preenchia. Estava no ápice do tédio. Sempre os mesmos garotos, nomes diferentes, rostos e sorrisos iguais, vozes diferentes, falas iguais.

Nem havia se dado o trabalho de ao menos perguntar o nome do cara que tagarela ao seu lado. Nem iria. Estava prestando atenção no teto que parecia desabar culpa sobre si e a voz dele era como um zunido distante, então apenas o ignorou enquanto tentava sobreviver à triste realidade que desabava sobre si: estava sozinha.

Por mais que bebesse, por mais que fumasse, por mais que se protistuisse, estava só. Florence estava sozinha. No fundo ninguém além de si ligava para ela, para seus sentimentos mais profundos ou para seus pensamentos mais puros ou para seus planos e sonhos. Figuras masculinas sempre à sua volta pedindo um pouco de carne, de beleza, de algo raso, fútil e fácil; nunca à procura de amor, profundidade ou algo por qual se vale a pena batalhar. Mulheres sempre a pisoteando com sua juventude e beleza plástica, seus padrões, suas curvas e sorrisos perfeitos que a faziam sentir uma barata de esgoto. Vícios cada vez mais pesados em suas costas, que a faziam sobreviver nos dias ruins mas a esmagavam nos dias de sol forte.

Culpas, dores e amargor, essa era sua vida. E tentava sufocar isso nas noites de bebedeira e nas madrugadas quentes dividindo a camas com tantas pessoas.

Florence estava no ápice da decadência.

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