Depois que Nathaniel terminou a música, ele sorriu pra mim, o que fez minhas bochechas queimarem por um instante. Ele não parecia nada desconfortável em trazer uma desconhecida para uma sala de música, cantar uma música pra ela e depois abrir um dos sorrisos mais lindos sem se importar com nada.
Acho que ele é louco... — deduzi.
— Mia? — Nathaniel estava bem próximo de mim, quase deu pra sentir sua respiração.
— Ah-desculpa... — desnorteada, tento colocar a cabeça no lugar. — é que ninguém nunca compôs uma música pra mim, ainda mais alguém que acabou de me conhecer... — tentei fazê-lo entender o óbvio.
Nathaniel apenas jogou a cabeça para trás, dando uma bela gargalhada que me deixou mais confusa ainda. Depois ele abriu as pernas, apoiou os cotovelos nos joelhos e curvou as costas pra frente. Bem próximo de mim.
— Eu vejo... — ele sorri serenamente.
— Vê o que? — agora minha mente bugou.
— A luz em você. A luz de Deus.
Eu fico em choque. Nunca pensei que ouviria alguém dizer isso pra mim. Ainda mais... um desconhecido.
Eu? Sal da terra e Luz do mundo? A luz de Deus?
— Eu... — as palavras somem e Nathaniel percebe.
— Fique tranquila, Mia. Eu não sou nenhum perseguidor. Eu apenas gostei de você a primeira vista... digamos que eu quero ser seu amigo. Se você topar, é claro. — Ele pega na minha mão, seus olhos se cravam nos meus e seu sorriso me transmite paz. Ele me faz sentir segura naquele momento.
— Topo... amigos. — com um aperto de mãos, "selamos" a amizade.
Nathaniel guarda o violão, pega na minha mão e me conduz para fora da sala. Ele — praticamente — cola meu corpo ao seu, me abraçando pela cintura.
Me sinto constrangida, mas nada muito anormal. Apenas não estou acostumada com tanta aproximação, apesar de gostar um pouco dessa atenção dada pelo Nathaniel. Mas não posso me deixar levar pelo seu sorriso doce e seu jeito envolvente. Eu vim para estudar e não para namorar e pra piorar as coisas, ele é amigo do Rodrigo.
Não quero confusão pro meu lado, jamais!
Caminhávamos pelo corredor, quando bem à frente vejo Rodrigo vindo na nossa direção. Sua expressão séria me incomoda e me desgrudo de Nathaniel nos afastando. Ele estranha o meu comportamento e tenta pegar a minha mão, mas Rodrigo o segura pelo ombro e eu dou as costas para os dois, saindo às pressas do corredor e indo para o refeitório.
O refeitório é enorme de longe se nota as famosas "panelinhas" formadas. Eu, com certeza, quero ficar de fora desses grupos.
Me sento em uma das mesas vazias. Após pegar minha bandeja de comida. Antes de comer, eu fecho os olhos e oro. Quando os abro, levo o maior susto, quase derrubando tudo no chão. Havia três garotas ao meu redor. Elas me encaravam com olhares bem ameaçadores, mascarados por seus sorrisos plastificados. Com certeza não era coisa boa elas estarem ali comigo. Aí tinha coisa...
— Você é a nova aluna transferida do Brasil, certo? — a morena pergunta.
— Sim, porque?
— É que vimos você chegando com o professor Samuel, depois conversando com o Nathaniel e... talvez tenha algum tipo de contato com o Rodrigo. — ela falava pausadamente e sempre me encarando. Aquilo não era uma pergunta simples, era um interrogatório.
— Então... você é alguma intercambista que veio morar com os Morelles? — as três me confrontam com o olhar.
Talvez estivessem esperando uma reposta que as agrada. Se sabem tanto sobre a vida dos Morelles, devem ter alguma atração pelo Samuel ou pelo Rodrigo, já que viram o momento que cheguei com um deles e perceberam a minha aproximação com o Nathaniel, sugerindo então que Rodrigo seja o motivo.
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Só Pode Ser Brincadeira!? (Parado)
EspiritualMilena Hathaway Rodrigues não é uma simples garota. Seus pais são cristãos, assim como ela e a sua fé em Deus é o seu maior tesouro. Mas, nem tudo são um mar de rosas para nossa protagonista, ainda mais quando - subitamente - ela decide se declarar...