Estamos no dia, 22 de março. A exatamente dois dias do outono. O dia está nublado e são 16:13 minutos no horário de Brasília. Um domingo... e poderia ser como outro qualquer...
As crianças brincam no video game na sala, meu marido dorme no quarto ao lado, tentando repor o sono atrasado por trocar o horário do trabalho que é noturno, pois agora estará de férias a partir de amanhã.
E eu que havia perdido a vontade de escrever por não conseguir o objetivo que todo escritor sonhador deseja, me peguei em frente ao computador... E as palavras simplesmente começaram a sair. Sei que serão breves. Não será uma literatura comum, nem tão pouco um Best -Seller. Mas talvez algum dia, no futuro seja um livro. Simplesmente um livro.
Vivemos no Brasil, em uma pequena cidade no interior de São Paulo.
Eu, meu marido e dois filhos de 9 e 13 quase 14 anos. Que não saberemos se será comemorado como de costume.
Os noticiários anunciavam pela primeira vez pela Organização Mundial da Saúde que autoridades chinesas notificaram casos de uma misteriosa pneumonia na cidade de Wuhan, metrópole chinesa. Ainda não se sabe como se deu a primeira transmissão para humanos. A suspeita é que tenha sido por algum animal silvestre. Duas pesquisas apontam outras possibilidades: Uma delas cita a cobra e outra, os morcegos.
Mas o fato é que esse vírus se propagou aos poucos para o mundo inteiro. E hoje somos assombrados pelo pavor de sermos contaminados.
Em alguns países o pânico se apoderou da vida das pessoas. China 3.130 mortos...Na Itália mais de 4.800 pessoas tiveram suas vidas ceifadas por esse terrível vírus. Isso se estende a milhares de países em seus distintos continentes. O cenário nos parece algo apocalíptico.
E chegando ao Brasil, a impressão que tenho é que as pessoas não têm a real noção do que está acontecendo. Apesar de já estarmos há alguns dias sem escolas abertas, shoppings centers, igrejas fechadas, falta de álcool em gel e máscaras. Parece que as pessoas não estão entendendo muito bem o que está acontecendo. E ainda vão as ruas como se nada estivesse acontecendo.
A última vez que sai de casa com meus filhos foi na quarta-feira, dia 18. Fui ver meus pais e minha vó que está muito doente.
Tive os devidos cuidados de higiene, usando máscara e álcool em gel, principalmente por precaução a saúde de minha vó que já está tão debilitada.
Ontem a tarde recebemos o decreto do governo de estado que a partir de terça-feira deveremos nos manter em quarentena por 15 dias.
Amanhã iremos ao mercado para abastecer um pouco a despensa. Não é fácil manter crianças ansiosas em casa. E ainda manter o controle da nossa própria ansiedade.
Temos no nosso país nesse momento um número de 1.128 casos de pessoas contaminadas e 18 pessoas que morreram por conta dessa contaminação.
Eu felizmente tive a possibilidade de me isolar com as crianças em casa. Não trabalho fora no atual momento. E digo felizmente por que também tenho uma doença crônica pulmonar, o que me coloca num grupo de risco.
Meu único trabalho é o voluntário, na comunidade em que professo minha fé. E é ela, a minha Fé em Deus que me mantem firme e otimista! Por quanto tempo? Não sei...
O que sei nesse momento é que tenho que dar o máximo de tranquilidade para meus filhos.
Assistimos filmes, comemos pipoca, desenhamos, jogamos bola no quintal. Brincamos com nossos cachorros. Falo com meus pais todos os dias por vídeo e tenho o coração mais tranquilo em saber que meu marido também estará em casa conosco.
Rezo por todo mundo. Pelas pessoas contaminadas. Pelos profissionais de saúde. Pelas vidas ceifadas. Pelos idosos que são as maiores vítimas.
E penso que uma hora tudo isso passará. Todo pesadelo de acordar todas as manhãs na ansiedade de saber se uma vacina foi encontrada. Se um medicamento foi eficaz no combate desse vírus. A palavra corona vírus talvez seja a mais pesquisada nos últimos dias.
Mas hoje, quero respirar fundo e imaginar como será "Depois do Vírus"!
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Depois do Vírus
Non-FictionUm breve diário dos dias repletos de incertezas que todos vivemos.