Onde está a luz?

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Dois dias sem escrever... O motivo?

Falta de vontade. Gostaria de estar escrevendo que a pandemia acabou e que uma vacina foi descoberta pelos cientistas. Mas infelizmente não. A corrida das grandes potências por medicações e uma vacina que venha salvar uma parcela da humanidade que ainda irá morrer por conta desse vírus é muito grande. Cada vez mais nos vemos próximos dessa realidade. Reportagens a mostrar os mortos nos principais países mostram o tempo todo o desespero e incapacidade de seus governos e poderes em frear esse mal que assola a terra.

E todos os dias incansavelmente eu me pergunto: Qual será o propósito disso tudo?

Hoje meu marido saiu para comprar ração, temos quatro cachorros. Mel, Bento, Luna e Theodoro. Mel, Bento e Luna foram tirados da rua. E o Théo é filho da Mel e do Bento. Dormem inocentemente pelo quintal a espera do som típico dos grãos de ração serem depositados em suas vasilhas. 

Também achou uma loja aberta para comprar folha de sufite, as atividades escolares não podem parar e é necessário material, principalmente para o Pedro.

Segundo o que ele me relatou ao sair é que o medo e a tristeza no olhar de algumas pessoas reflete o momento. Também reflete a ignorância de algumas pessoas que parecem passear despreocupadas com a realidade atual.

Há uma semana não saímos de casa. 

Minhas crises tem se alternado. Meu psicológico precisa estar bom. Preciso respirar bem e passar confiança para os meus filhos.

Daqui quinze dias será o aniversário de Davi... Ele fará 14 anos. Não seio como vai ser... a família toda reunida com um bolo e doces no centro da mesa já é um cenário difícil de se imaginar.

Mas isso não nos atormenta nem entristece. Comemoraremos de alguma forma...

O que nos entristece é ver a situação em que se encontra nosso mundo.

Somos o tempo todo bombardeado com as notícias do mundo e confesso que nesses dois últimos dias me senti muito abalada.

Hoje é dia 30 de março e segundo o ministério da saúde contamos 159 mortos pelo vírus e 4.579 casos. 

No Brasil existem muitas comunidades carentes. Pessoas que vivem no mais completo abandono social. E não precisamos ir até o nordeste ou ribeirinhos para nos depararmos com essa realidade. A cada mês fazíamos entrega de alimentos para famílias vindas de outros estados e que invadiram um espaço da prefeitura. São crianças das mais diferentes idades. Arrecadávamos durante os encontros na igreja e ao fim do mês entregávamos. Era pouco, mas acredito que ajudava a suprir o básico.

Agora não temos mais os encontros... E não arrecadamos alimentos a quinze dias. Hoje uma amiga disse que estão sendo distribuídas algumas cestas. E espero que cheguem até eles também.

Fico pensando se estou sendo egoísta em me isolar. Rezo pelas pessoas que estão lá fora. Rezo todos os dias, a todo momento. Por médicos, enfermeiros, e profissionais de hospitais. Rezo por pessoas que não podem se isolar, que precisam ainda continuar nos seus trabalhos.

Rezo pelas nações devastadas, pelas que estão desmoronando com os números de mortos a subir.

 No mundo são 35.000 mortos. Passando de 745.000 infectados. 

E não sabemos em qual momento passáramos a ser destaque nos jornais pelo mundo.

Quando saio pra fora da minha casa e olho para o céu, tudo está tão lindo que parece uma grande mentira todo caos que paira do meu portão para fora. 

Eu não ouso questionar Deus! E jamais diante de qualquer situação ousaria. Mas um vazio começa tomar conta de mim. Ontem falei com minha vó por vídeo. A doença dela não vai esperar o vírus se extinguir para continuar debilitando sua vida. Ela está protegida e isolada do vírus, mas não do câncer que insiste em deixá-la abatida e emagrecida a cada dia.

Eu gostaria de estar mais otimista e passar algo bom para quem quer que venha ler. Mas hoje confesso que estou fraca. Meu físico está abatido, reflexo dos remédios fortes para os pulmões.

Como disse tive vários sonhos, nos últimos dias, antes de tudo isso explodir em nossas vidas. Sonhei que estava em um grande buraco... ao redor muita terra, uma espécie de barranco. Eu tentava escalar e subir, mas não conseguia. Uma mão se estendia até mim e eu me agarrava a ela na intenção de subir. Eu não conseguia, escorregava. Depois, não me lembro mais.

Eu sei que isso vai passar. Tudo passa. As guerras passaram... E a vida floresceu!

E vai florescer também agora. O que nos resta saber é a que preço?

E o quanto estamos dispostos aprender com as duras lições que estão a nossa frente. Talvez seja a prova mais dura para a minha geração. Algo que nunca imaginamos passar...

Hoje preciso fortalecer a minha fé, o meu interior e uma boa dose de chá de melissa!

A luz virá. E a escuridão do túnel vai se desfazer. Mas ainda não foi hoje!


Depois do VírusWhere stories live. Discover now