Uma recordação

8 1 0
                                    



O último dia em que escrevi foi 01 de abril. Muitas coisas aconteceram nesses quase cinco meses...

Sim, a Mel estava realmente prenha e nasceram oito lindos filhotes. Foi algo lindo e abençoado que nos envolveu durante os dias difíceis em que vivemos. A pandemia continua alastrada pelo mundo, o vírus já ceifou no Brasil 141.441 vidas. No mundo 989.278, ou seja, beiramos a "Um milhão de pessoas mortas". Mas o incomum aconteceu! Ele, o vírus, agora faz parte da nossa rotina e é como se fosse aquele parente que evitamos receber em nossas casas rsrsrs.

Boa parte das pessoas desacreditam e levam suas vidas normalmente! Se eu conheço pessoas assim?

Sim, eu conheço!

Conheço pessoas que desacreditam, que não se cuidam! Pessoas que lutaram e venceram! Pessoas que lutaram e perderam! Pessoas que partiram... Infelizmente! Não perdi ninguém da minha família, embora tenham alguns se contaminado.

Não perdi para o vírus. Perdi para o câncer... Ela, a minha florzinha se foi! E por isso fiquei tanto tempo sem coragem para escrever. Foram e estão sendo dias de muita tristeza! Mas eu precisava finalizar esse breve diário... Não quero mais falar sobre esse vírus... nem usar a ausência,(prefiro usar a palavra ausência) da minha vó.

Foi muito triste... Ela teve 3 dias. Exatamente 3 dias para se despedir de toda a família. Partiu do seu leito, no seu quarto, rodeada pelas filhas e alguns netos. Eu não estava lá. Preferi não estar...

Visitei-a no dia anterior a sua partida. E ali, já não via minha vó. Apenas o sofrimento. Eu só pude dar um carinho em sua face emagrecida e dizer que tudo ia ficar bem. Que ela ficaria bem... que todos ficariam bem. Mas ela já não podia responder... E ao sair daquela casa e fechar o portão, uma voz me dizia. Será a última vez, e assim foi.

Ela partiu no dia 30 de abril. Foi como um grande pesadelo: Primeiro o telefonema da minha mãe com a voz embargada e eu deixei o telefone sobre a mesa por que já sabia o que ela diria, mas eu não queria ouvir.

Depois ouvir meu marido ao longe conversando com a minha mãe... Nenhum vírus é capaz de lhe roubar o ar aos pulmões como uma notícia devastadora de que a pessoa que você tanto ama já não está mais aqui.

Depois todo processo. Velório, enterro... Um pesadelo que somente depois que você acorda da noite mal dormida, percebe ser real. E aprende que ele te acompanhará por todos os dias da sua vida. Essa perda gerou em mim um bloqueio muito grande. Eu não queria perder meus pais, eu não queria a ausência deles na minha vida também e durante meses não fui vê-los, por medo de contaminá-los eu sei lá com o que. Tive crises do pulmão, tive crise de ansiedade, fui levada ao hospital e o inferno da depressão se instalou. Luto todos os dias. Essa semana vou ao medico, preciso de ajuda.

Há um mês voltei a visitar meus pais, um visita breve, mas feliz. 

Meu marido agora voltou a trabalhar no período  da noite e a vida vai voltando no anormal.

Ontem, depois de quase cinco meses, estive em frente a casa da minha avó, estão reformando, os novos donos já retiraram boa parte das minhas lembranças.

O bule acima... na fotografia. Uma recordação dela, onde ela pedia para colocar o café muitas vezes quando estávamos juntas na varanda nos fins de tarde...

Quero finalizar aqui. Preciso focar em algo novo. Ou recomeçar algo inacabado... Tenho muitos rsrs.

Desejo a você que está lendo esses relatos muita luz, força e coragem para enfrentar os embates da vida. Descobri que escrever a nossa própria história é algo muito difícil as vezes. Mas ainda ouço cantar de pássaros pela janela e isso me ajuda a crer que DEUS existe e em todo sofrimento ela habita o nosso coração!

Até a próxima história!!!


PS: (Vó, a senhora foi a pessoa mais forte e incrível que eu já conheci! E o como sempre te disse: É minha rocha disfarçada de florzinha) Amor Eterno!


Depois do VírusWhere stories live. Discover now