Hoje é dia 23/03, exatamente 18:00 hrs.
Ainda falando um pouco de ontem... Eu e meu marido resolvemos colocar os meninos no carro e dar uma volta pela cidade. Para que eles respirassem um pouco fora de casa. Foi bom pra eles. E pra nós também, já que a partir de amanhã já não poderemos estar fora de casa sem uma boa justificativa.
Quero salientar que tudo que escrevo é verídico. E está sendo bom pra mim escrever esse diário, pois há muito tempo eu não tinha inspiração mais para escrever. E descrevendo meu dia, não preciso de inspiração... apenas organizar os acontecimentos mais importantes do dia. Sendo assim não farei muitas correções e peço desculpas pelos possíveis erros na escrita.
Mas voltando ao ontem... Andamos por algumas ruas da cidade. O movimento era visivelmente menor do que de costume. As pizzarias e grandes redes de fast food funcionavam,mas somente para entrega e drive thru. Os olhos das crianças brilhavam com a possibilidade de parar em um deles e trazer para casa um lanche acompanhado por fritas e um gigante copo de refrigerante cheio de gelo. Mas o medo do vírus também me traz a insegurança quanto a contaminação dos alimentos. Eu sei que pode parecer paranoia, mas pra quem já era um pouco assim antes do vírus, imagine agora.
Sempre preferi fazer em casa nossos pastéis, pizzas e lanches. Claro que algumas vezes compramos, é inevitável pra quem tem filhos. Além disso em casa fica mais fácil substituir o copo gigante de refrigerante e cheio de gelo por um copo pequeno de limonada fresca.
Falávamos mais sobre o vírus. E sobre as pessoas nas ruas. Contávamos as que usavam máscaras e as igrejas apenas com seus pastores ou padres a orar com portas semi abertas.
Confesso que é algo que entristece muito é não poder estar em nossa Comunidade. Ver rostos amigos, apertar as mãos e ao final da missa abraçar os mais chegados. Não ver minhas crianças da catequese também é algo dilacerador... Rezo por todos eles, todos os dias. Já rezava, agora rezo mais. Não vou me estender sobre minha religião, sei que nem todas as pessoas que lerem professarão a mesma fé que a minha. Mas não deixarei de falar em Deus e Jesus Cristo! E respeitando aqueles que não crerem, ressalto que minha fé muitas vezes me mostrou o amor de Nossa Senhora pela humanidade.
Voltamos pra casa... Eu e meu marido um pouco mais refeitos do dia de isolamento. Os meninos, um tanto frustrado pelas mãos não estarem engorduradas e congeladas ao mesmo tempo.
No caminho, passamos por um novo bairro, onde não há muitas construções ainda e a falta de iluminação deixava a noite mais escura e bonita.
— Nossa se trouxéssemos o telescópio aqui dava pra visualizar muitas estrelas! Olha isso!
Aproveitando a observação do nosso filho mais velho, meu marido apagou por alguns instantes os faróis.
— Vejam! Aquele bichinho que ilumina! - gritou o mais novo.
Rimos da empolgação deles.
— São vaga-lumes, querido. Provavelmente os primeiros que você vê. - respondi sem realmente distinguir se eram mesmo vaga-lumes.
Chegando em casa, enquanto tomavam banho, preparei um delicioso lanche de frango com suco de limão. Os especialistas dizem que é preciso melhorar a imunidade e vitamina c é sempre bem vinda.
Hoje pela manhã fomos ao mercado. Eu de luvas e máscara, essa foi a condição a mim imposta. Mas o que parecia estranho se tornou comum, muitas pessoas também estavam assim.
Foram duas compras. Uma para nossa casa e uma para o meus sogros que já contam 85 e 73 anos. Também alguns medicamentos e luvas descartáveis. Máscaras que eu havia comprado muito antes de as coisas piorarem por aqui. Infelizmente não comprei a caixa que a moça estendeu no balcão a minha frente. Me questionei naquele momento se realmente precisaria daquilo tudo. Acho que sou uma pessoa otimista e as vezes é melhor ser precavida, antes de ser otimista.
Hoje tivemos 1.891 contaminados e 34 pessoas mortas.
Ainda assim, sou otimista!
Peço desculpas por não ter publicado ontem.( O chá de melissa está surtindo efeito e o sono se tornou incontrolável!)
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Depois do Vírus
Non-FictionUm breve diário dos dias repletos de incertezas que todos vivemos.