Labirinto de espelhos

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Desde a infância fui considerada uma criança diferente. Louca, para ser mais exata. Nunca me encaixei nos padrões impostos pela sociedade, diferente das outras meninas, eu não gostava de brincar com bonecas, aprendi a ler muito cedo, por isso passava a maior parte do meu tempo lendo.
 
Além de tudo isso... Eu tinha sonhos... Na verdade continuo tendo. Eu adentrava um labirinto de espelhos, onde eu via minha imgem em sua forma jovem, adulta e idosa. Andava sem parar encantada com tudo aquilo, conseguindo desvendar os segredos que aquele labirinto escondia. Então, encontro uma porta preta como ébano, caminho até  ela esticando minhas pequenas mãos para tocar a maçaneta para abri-la. 

Um feixe de luz bate em meu rosto fazendo-me fechar os olhos, quando me acostumo com a luminosidade consigo abri-los novamente. Nossa, que lugar maravilhoso.  Haviam inúmeras flores que eu jamais havia visto antes, e em meio àquele ambiente, vi uma silhueta masculina,  que se aproxima pouco a pouco  de mim. Quando estava próximo  o suficiente  para ver seu rosto... Eu acordo. 

Esse sonho vem se repetindo por anos. 
Hoje tenho 15 anos, e  anseio por um dia ver o rosto desse rapaz... Apesar de ser apenas um sonho, quero realmente saber como é  sua aparência.  Não sei o motivo, mas, toda vez que me vem  à tona a lembrança desse rapaz, é  com o se ele existisse e estivesse esperando por mim.

Com a idade que estou agora, para muitos estou na idade certa para me casar. Estava dentro de uma carruagem com minha mãe,  uma das damas mais conhecidas da cidade. Estava me levando para ver a senhora Nakada,  a casamenteira da cidade. Não era a primeira vez que isso acontecia.

-Kalina, espero que faça tudo certo dessa vez. -fala minha mãe.

-Essa é  a décima vez que a senhora me leva para ver a senhora Nakada.  Por que eu preciso me casar?  Eu ainda sou muito nova para isso. -respondo.

- Para trazer honra para à nossa família. 

- Uma simples  honra é mais importante do que a felicidade de sua filha? Eu posso trazer honra de várias  formas, posso partir em uma expedição com o papai e ajudá-lo no trabalho, ou até  mesmo  posso ter o meu próprio trabalho. 

- Isso não é coisa que uma mulher possa fazer, Kalina. -fala ela suspirando para não se irritar.

-Então serei a primeira mulher a fazer isso. -digo elevando minha voz.

- Não. Você irá  ver a senhora Nakada  e ela irá lhe ensinar  a se comportar para conseguir um pretendente.

- Quantas vezes vou ter que repetir que não quero me casar?

-  Pode repetir  o quanto quiser. Você  irá  se casar de qualquer maneira. 

Mais uma vez, lá estava eu fazendo algo contra a minha vontade. Minha mãe sempre me obriga a fazer coisas, principalmente quando papai está  viajando em suas expedições. 

A carruagem para de andar e o sacaio  da família abre a porta para eu e minha mãe  sairmos. Somos recebidas com sorrisos e abraços vindos da senhora Nakada.

-Que bom que chegaram! Pronta para mais uma tentativa, Kalina? -pergunta senhora Nakada.

-Com certeza não.  Quanto mais eu venho aqui, mais aumenta minha vontade  de sair correndo e abandonar tudo. -falo seca, fazendo minha mãe  e senhora Nakada  me olharem impressionadas.

Senhora Nakada era uma mulher de classe. Sempre muito bem vestida com os seus vestidos extravagantes com mangas bufantes. Seu cabelo era sempre preso num coque  alto, mostrando seu rosto pequeno e redondo. Seu corpo era um pouco gordo com algumas curvas, para uma senhora com pouco mais de quarenta anos, estava em boa forma, seus olhos pequenos e puxados, sua boca pequena e sua pele bem cuidada lhe davam um ar de juventude.

-Então, vamos entrar! -diz a senhora Nakada dando um fim naquele silêncio constrangedor. 

Adentramos a casa e nos sentamos em algumas cadeiras que estavam em volta de uma pequena mesa de madeira. 
Sempre sou obrigada a usar vestidos longos, fico desconfortável quando me sento, por isso, deixo minhas pernas levemente abertas para eu poder aliviar aquele desconforto. Minha mãe  desaprova tal ato.

- Kalina, sente-se como uma dama. Feche as pernas. -diz minha mãe  séria

A obedeço, fecho minhas pernas e melhoro minha postura. Minha mãe e senhora Nakada ficam conversando  sobre como eu sou "indomável".

-Bom,  a primeira lição vai ser como se deve servir chá  ou café  para o seu marido. Senhora Rose, poderia me ajudar a trazer as coisas?

-Sim. Kalina, fique aqui  e se comporte. -diz minha mãe  acompanhando senhora Nakada.

Dou um suspiro aliviada, jogo minha cabeça  para trás e fecho os olhos. Ouço um barulho vindo do andar de cima, imagino que seja um dos filhos da senhora Nakada e continuo no meu lugar. Então ouço uma voz  chamando meu nome.

-Kalina... 

Abro meus olhos rapidamente  para ver se minha mãe  está me chamando, mas não era ela. Escuto novamente a voz me chamando.

-Kalina, venha...

A voz vinha das escadas. Decido ver quem me chama. Vou em direção às escadas subindo cada degrau rapidamente até chegar no andar de cima. Ao chegar lá, vejo que há uma porta entreaberta no final do corredor. Deixo minha curiosidade  tomar conta do meu corpo e vou até  a mesma entrando no local. 

Dentro haviam inúmeros espelhos, parecia que eles se multiplicavam a medida em que eu os olhava. Então, paro em frente a um espelho e olho o meu reflexo, a imagem se distorce e um outro reflexo aparece. Uma menina, uma pequena menina, que se parecia bastante comigo quando era criança. Magra, pele clara, os cabelos lisos e longos meio loiros e olhos curiosos. Ela estava usando uma camisola lilás com renda branca nas mangas. Igual ao que eu usava quando era mais nova.

- Mas... O que está acontecendo? -digo para mim mesma olhando impressionada para a menina.

- Eu sou você, Kalina. No passado -diz ela.

A voz fina da garota ecoou em meus ouvidos me fazendo ter lembranças do passado, dos meus sonhos. De repente a menina desaparece e o meu reflexo volta. Olho para os lados e vejo mais espelhos do que antes.

-Kalina... -a mesma voz de antes sussurra meu nome.
- Quem está aí?! -pergunto.

- Venha...

Como um toque de mágica acabo sedendo e vou a procura do local de onde a voz estava vindo.

- Muito bem, minha querida... Atravesse o labirinto de espelhos.

Labirinto de espelhos... É como se eu estivesse sonhando outra vez, mas parece tão real.

- Você está chegando perto, continue.

A cada passo que eu dou me sinto cada vez mais imersa nisso. Aquela vida sem dúvidas tem poderes sobre mim.
Então, vejo uma porta. A mesma de meus sonhos, preta como ébano. Meus pés caminham em sua direção ainda hipnotizados.

Estico minha mão para tocar aquela maçaneta dourada. Ao tocar a superfície gelada da maçaneta, acordo da hipnose.

Olho para trás e vejo todo o caminho que percorri. Então, vejo o último espelho. A imagem de uma senhora aparece, que aparentemente sou eu daqui a alguns anos. Seus cabelos eram grisalhos presos à coroa de tranças, suas vestimentas e seu rosto lhe davam um ar de soberania, mas algo estava errado, seus olhos estavam completamente pretos.

- Tenha cuidado, criança.

Sua imagem desaparece rapidamente, e volto a minha atenção à porta novamente. Lentamente viro a maçaneta abrindo a porta. Aconteceu o que eu esperava. Já tinha visto isso antes. No meu sonho.

Um feixe de luz bate em meu rosto me impossibilitando de manter meus olhos abertos, os abro novamente e fico impressionada. Tudo era igual ao meu sonho. Uma risada escapa de minha boca, estava impressionada com tamanha beleza daquele local.
Imediatamente toco na superfície das flores exóticas que lá estavam, admirando cada detalhe. Olho para o céu e vejo sua cor levemente azulada com nuvens cor de rosa. Uma forte ventania sopra soltando o penteado que estava em meu cabelo, fecho os olhos para sentir o ar em meu rosto. Respiro fundo, o cheiro das flores me encantava, tudo lá me encantava.
Escuto um barulho de algo se mexendo em um arbusto, me deixando espantada.

- Quem está aí?! Apareça! 

A Verdade Não Contada - JungKook -Onde histórias criam vida. Descubra agora