Capítulo 1

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O semestre mal começou e já estou cansada. Muito por sinal. Talvez eu tenha sido idiota em ter estudado as férias inteiras, mas o que posso fazer se tenho um objetivo a alcançar? Quem veio de baixo sabe muito bem como é necessário se tornar o melhor ou então você não tem nada.

Para muitos, atualmente, sou uma riquinha mimada e arrogante, mas na real eles não me conhecem. Eu já vi e vivi o inferno. Então, não me julgue sem ao menos conhecer minha história. Entretanto, não vou te contar agora. Nosso momento para conversarmos já já chegará e aí você me diz se ainda me acha uma mimada.

Estudo Direito em uma das melhores universidades que o dinheiro pode pagar, mas não se engane, porque as vezes nem tudo é dinheiro. Ou você é bom ou não é. Mesmo que minha mãe tenha sido uma das desembargadoras mais importantes do país isso não significa que eu conte com o status ou me vanglorie. Escolhi fazer Direito para dar aporte jurídico a todos aqueles que a justiça abandonou e continua a abandonar dia após dia e às vezes me irrito com a postura de meu noivo que é delegado e age de forma desumana. Mesmo o próprio culpabilizando nossa justiça e afirmando que a mesma é falha, não consigo concordar com algumas atitudes.

Hoje, uma sexta-feira ensolarada, visto um macaquinho jeans com puídos, uma camiseta branca, tênis preto nos pés e óculos escuros para esconder o quanto estou cansada. Optei por um look que diz "Foda-se". Na minha bolsa preta, carrego o básico, ou seja, um bloco de anotações, uma caneta, carteira e celular.

Entro pelas gloriosas portas da universidade, coloco os óculos no topo da cabeça e busco no celular uma informação muito importante. O número da minha sala e consequentemente o andar.

Início de semestre é sempre assim né? Universidade lotada com pessoas extremamente ansiosas e felizes por estarem vendendo suas almas e que a partir do quarto semestre estarão se perguntando "Valeu a pena?". Bom, para mim vale até hoje, apesar de cogitar colocar fogo em todos os textos e livros como num ritual pagão.

Olho para um dos cartazes com a foto de Emily Bittencourt pregado em um enorme mural e me sinto mal por ler "Desaparecida". Emily era bolsista do curso de direito, muitos diziam que ela também era acompanhante de luxo e que era desta forma que se mantinha na universidade. Todas essas más línguas deveriam se engasgar com o próprio veneno.

- Fiquei sabendo que o novo professor de Direito do trabalho é um gato. Algumas das meninas o viram saindo ao lado do "professor doutor" Fontoura. - Vocês podem ter a total certeza que esse "professor doutor" foi o mais puro deboche da Aléxia, porque ele quase a reprovou ano passado, mesmo ela oferecendo algo que, segundo ela, era muito interessante em troca, se é que me entende. Fora que ele também tem um ego super inflado por ser considerado um dos melhores advogados do país.

Deixe-me apresentar Aléxia, a loira que me acompanha pelo corredor. Somos "amigas". Você deve estar se perguntando o motivo de usar as aspas, mas posso explicar. Aléxia seria ótima se não tivesse a grande necessidade de chamar atenção e suspeito até que essa atenção, em determinados momentos, seria do meu noivo Victor, pois já vi como o olha e se comporta em sua presença. No geral ela é uma gata. Loira platinada, olhos azuis, pele bronzeada, corpo malhado. Ela cheira a férias na Grécia. Hoje com seu vestido florido que conta com uma generosa fenda na coxa não seria diferente.

- Ele não ferrando a minha vida, já está ótimo, Lex. - Respondo.

- Fala sério. Você está noiva e não morta, ok? Pode olhar caras gatos sem culpa.

- Lex, eu olho para os caras que são gatos. A questão é que ele não passa de um professor universitário que vai me ajudar muito se não atrapalhar minha vida. - Respondo um pouco irritada.

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