20°- CAPÍTULO ✝

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Fecho os olhos e respiro fundo, começando a caminhar pelo corredor do oitavo andar. Lentamente, me aproximo da sala de música, vendo Taehyung sentado sobre o pequeno banco do piano, de frente para o instrumento quebrado e caído. Ele não se mexia, era como uma estátua, pelo menos, era o que eu pensava até ele olhar em minha direção. O seu olhar era sem emoção e não do seu jeito típico e apático, parecia sem vida, vazio.

Em silêncio, me aproximo e sento do seu lado. Ele continua me encarando, mas não diz nada.

— Espero que esteja se sentindo um pouco melhor. — Falo, baixo.

Ele me encara por mais alguns segundos antes de voltar a olhar o piano quebrado.

— Eu vou matá-lo. — Seu tom de voz parecia certo e isso me deixa receosa. — Vou matá-lo do mesmo jeito que ele fez com a minha mãe. — Sua boca era a única a se movimentar em seu rosto.

— Acho que você não deveria pensar nisso agora. Tente apenas ficar melhor. — Suspiro alto. — Tenho certeza que é o que ela gostaria e sei que você se parece muito mais com a sua mãe, do que com seu pai, então, não aja como ele, Taehyung.

Ele me encara de canto de olho.

— Eu sou um vampiro, Elena. Você consegue entender isso de uma vez por todas? Pare de me cobrar ações como as suas, porque eu não sou e nem posso ser um humano. — Ele bufa.

Sei que ele está passando por um momento difícil, mas não vou brigar com ele e deixar que essa raiva do seu pai, o consuma.

— E a sua mãe alguma vez ligou para isso? — O encaro firmemente e ele devolve o olhar na mesma intensidade.

— Eu não sei como é sentir dor por um mísero corte. Eu não sei como é envelhecer depressa, Elena. — Sua voz se torna um pouco mais alta. — Eu não sei como é verdadeiramente sentir prazer ao beber alguma coisa que não seja o sangue, ou como é estar em um lugar sem sentir o cheiro do sangue das pessoas. Não sei como é entrar em um lugar sem sentir a presença de alguém. Eu não sei como é ter um corpo quente o tempo todo. — Ele se inclina um pouco em minha direção, enquanto sua voz ganha mais expressividade, acompanhando seu olhar. — Eu não sei como é enxergar as cores do seu jeito. Eu não sei como é estar dentro de uma igreja, porque eu não posso entrar em uma. E não sei como é ser um humano, porque eu sou um vampiro!

Suas palavras me atingem certeiramente, porque eu conseguia sentir a sua dor.

Solto uma grande quantidade de ar pelo nariz, fazendo barulho.

— Você fala como se eu fosse uma humana comum. Eu também passei por isso, Taehyung. — Me mantenho firme, antes de olhar ao redor e pegar uma pequena lasca de madeira no chão, da qual, uso para fazer um pequeno corte no meu pulso.

O vermelho vivo, logo se faz presente na minha pele, em uma pequena quantidade.

— Isso é o que você é e o que quer, Taehyung? — Estendo meu pulso em sua direção. — Então, quem liga se você é um vampiro? Ela não ligou e eu não estou ligando agora. — Uma única gota de sangue escorre do meu pulso, pingando sobre o banco do piano, entre nós. Taehyung a acompanha com o olhar, antes de me encarar.

Seus olhos voltam a ganhar vida, de um jeito único e forte, e Taehyung não é capaz de resistir, pois, segura meu pulso, antes de se curvar e tocar seus lábios sobre o pequeno corte, bebendo a pouca quantidade de sangue que fluía dali. Com os olhos fechados, ele afasta sua boca do corte e quando os abre, seus olhos estão tão vermelhos quanto o sangue que manchava sua boca.

Taehyung me olha como se fosse capaz de me dilacerar e me puxa pelo pulso, me fazendo ficar com o rosto perigosamente perto do seu.

— Eu matei milhares, mas não posso matar você. — Seus olhos ferozes, encaram minha boca. — Porque tocar você, me faz sentir vivo.

DRÁCUS DEMENTER: LYCANTHROPE || KTHOnde histórias criam vida. Descubra agora