Capítulo 3 - Eve Johnson

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Abro a porta do dormitório e penso na vergonha que passei ontem. Paguei minha cota do mês. Não quero sair desse quarto até o próximo ano.

— Chegou cedo — Sarah diz assim que passo pela porta.

A olho indignada. Ela nem ao menos está preocupada? Eu sumi a noite toda e cheguei perto do almoço. Poderia ter acontecido coisas horríveis comigo. Essas horas que eu entendo minha mãe. Ela sempre diz que temos que tomar cuidado com amizades que não nos agregam em nada.

Suspiro cansada e vou até a cômoda pegar minha toalha. Sigo para o banheiro em silencio, não faço nem questão de olhar em sua direção. Tomo um banho demorado e me apronto para estudar. Preciso terminar alguns desenhos da faculdade.

Levo toda a tarde para fazer meus trabalhos pendentes, para que possa ficar mais livre essa semana. Vou aproveitar para ir atrás de um emprego, minhas economias já estão no final. Contudo consigo pagar minha alimentação por mais um tempo.

Sarah aparece arrebentando a porta do dormitório no final da tarde. Ela entra batendo os pés no chão e se joga em sua cama. Pega o travesseiro e coloca no rosto abafando um grito. Resolvo ficar na minha e não falar nada, é capaz de sobrar para mim.

Quando volto a me concentrar no meu livro, alguém bate na porta. Como minha colega nem se mexeu para abrir, eu me levanto. Vejo a zeladora dos dormitórios parada de braços cruzados esperando. Ela é uma idosa baixinha, gordinha, e tem um bigode bem escuro.

— No que posso ajudar? — Pergunto. Ela continua do mesmo jeito.

— O reitor está esperando você e Sarah em sua sala agora. — Solta a bomba e se vira indo. — AGORA! — Grita antes de descer as escadas e sumir de vista.

Fecho a porta e olho para Sarah que agora está sentada em sua cama com seus olhos apreensivos. Ela brinca com as mãos e seus pés não param de balançar me deixando irritada.

— Você sabe porque o reitor está nos chamando? — Pergunto desconfiada. Essa garota fez alguma coisa errada.

— Não. — Se levanta rápido. — Acho melhor não o deixar esperando né? — Ela passa por mim e abre a porta saindo para o corredor.

Fizemos o caminho em silencio. Sarah ficou o tempo inteiro de cabaça baixa. Bato na porta e escuto a autorização para entrar.

— Sentem-se garotas. O que tenho para falar é muito sério. — Danavam, o reitor, cruza os dedos sobre a mesa. Ele é careca e não parece ser tão velho.

— Não foi culpa minha, senhor. — Sarah se senta ao meu lado. Sua voz tem medo. Fico os olhando tentando entender o assunto.

— O que eu estou fazendo aqui, senhor? — Pergunto o encarando.

— A senhorita não sabe? — Ele se curva mais sobre a mesa. Seu olhar é bravo. Nego com a cabeça. — Então me diga o que estava fazendo nesse vídeo.

Ele vira a tela do computador para nós e da play no vídeo que estava pausado.

As imagens parecem ser câmeras de segurança. Tem duas garotas paradas no corredor e uma delas parece ser Sarah de costas para a câmera. De repente uma garota loira se junta ao lado da minha colega de quarto. As três parecem estar discutindo. Sarah vai para cima da garota que está de frente para câmera e elas começam a brigar. Enquanto a loira está de braços cruzados olhando o espetáculo.

O reitor pausa o vídeo e nos olha.

— Alguém pode nos explicar o que aconteceu aqui? — Ele se encostando em sua cadeira.

— Eu não tive culpa — Sarah junta as mãos.

— Ninguém nunca tem Sarah. E você? — Se vira para mim — O que tem a dizer?

— Eu não sei. O que está acontecendo? — Pergunto ao olhar para os dois.

— Você foi cumplice de um ato brutal. Isso que está acontecendo.

— Como assim? Essa garota não sou eu. — Aponto para e tela do computador.

— Tem como provar? — Pergunta e eu nego. — Então foi você. As duas tem quinze dias para deixar os dormitórios. Procurem um lugar para ficar, aqui não ficam mais.

Ele pega alguns papeis, os assina e nos entrega. Eu não falo nada porque estou tentando raciocinar. Não tem como ser verdade, só pode ser uma pegadinha.

— E agradeçam que não estou dando suspensão das aulas. Eu poderia dar também. Hoje estou bonzinho. Estão liberadas. — Ele aponta para a porta atrás de nós.

Olho para Sarah quando saímos da sala. Me irrita porque ela continua de cabeça baixa.

— Por que não disse que não era eu naquele vídeo? — Pergunto trincando os dentes. Eu quero dar na cara dessa dissimulada. Nunca fui de brigar, mas dessa vez fui tirada do sério.

— Eu não podia. — Pela primeira vez ela me olha. Não consigo ver um pingo de ressentimento em seu rosto.

— Ah claro. Você sabe que eu não tenho para onde ir?

— A gente ainda deu sorte. Sabe quem era aquela garota do vídeo? — Pergunta e eu nego. — A filha do governador. — Me deixa sozinha e sai.

— Você bateu na filha do governador? Você é idiota? — A sigo. Sarah continua o seu caminho sem me olhar.

— Não adianta eu falar nada. Eles vão ficar do lado dela. Me desculpa, tá? Mas eu não posso fazer nada por você e nem por mim.

Desistoe fico parada no caminho. Como vou conseguir um emprego em quinze dias? Meu dinheironão vai dar. Vou ter que morar na rua. 

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Grace - Os Brassard (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora