17 de julho de 2018
— OK, mas você tem certeza? - Bárbara perguntou, o lábio inferior preso entre os dentes enquanto esquadrinhava o rosto do rapaz a sua frente em busca de qualquer sinal de hesitação. Os olhos acesos de Jungkook denunciavam a empolgação diante do que estavam prestes a fazer, mas ela não desejava influenciá-lo mais do que já havia feito ao dar aquela ideia. A verdade é que fazia isso constantemente, sem que qualquer um dos dois se desse conta: a cada dia que se passava, o rapaz se aproximava mais daquela rebeldia graciosa que o encantou desde que colocou os olhos nela pela primeira vez - Não vai se arrepender, vai? Você é chato com isso, que eu sei...
— Aigoo! - Jungkook revirou os olhos para a preocupação da mulher enquanto cruzava os braços de modo a, inconscientemente, tornar sua postura um tanto mais imponente, assegurando que 'sim, tinha certeza', e... — Eu não sou chato, você que é. - devolveu, toda a pose de adulto indo por água abaixo com o bico infantil que se formou nos lábios cheios que se protraíram de modo adorável. Na maior parte do tempo, o tamanho e o senso de responsabilidade adquirido precocemente construíam um verniz de maturidade em torno dele, mas ainda era um garoto. E Babi gostava disso, tanto... Gostava riso de moleque - ainda que se sentisse queimar pelos sorrisos maliciosos - dos olhos ávidos e curiosos do mundo. Gostava da alma repleta de uma amabilidade quase inocente. Céus, gostava tanto dele.
Por isso sorriu - era raríssimo que as eventuais infantilidades dele a tirassem do sério - enquanto segurava as bochechas do garoto com uma mão e se colocava na ponta dos pés para pousar um beijo estalado no queixo bem desenhado do rapaz, piscando de forma condescendente que dizia claramente "é chato, mas eu gosto mesmo assim."
— Ok, sir... - concordou, agachando-se para vasculhar o armário do banheiro até encontrar o que procurava para então se erguer com duas pequenas caixas entre as mãos. O pouco espaço fazia com que estivesse presa entre a pia e o corpo de Jungkook, que a encarava com expectativa nos olhos escuros e espertos - Tira a camisa antes...
— Sem nem um beijinho primeiro? Meu Deus, noona! - Jungkook arqueou as sobrancelhas em uma falsa inocência que fez a mulher lhe dar um tapa estalado no ombro, rindo alto.
Nunca perdia a graça quando era ele quem fazia uma piada quase sexual, quando há pouco mais de um ano corava furiosamente por muito menos. E aquela era só mais uma das coisas que tornava Babi tão diferente de da maioria das pessoas em sua vida: Jungkook nunca era tão Jungkook, quanto era ao lado dela. Babi ressignificara a liberdade, que agora tinha tons de cor de rosa, porque em uma existência monitorada, onde cada gesto era analisado e cada palavra dita gerava especulação, era nela que encontrava a tranquilidade de se despir por inteiro, mostrando-se por quem era. Só... JK.
— Se quer sujar essa blusa branquinha o problema é seu, não sou eu quem vai lavar... - a mulher desdenhou, o olhar debochado morrendo em outro um tanto mais interessado no instante em que o rapaz se afastou um pouquinho para abrir espaço e atendeu ao pedido, livrando-se da blusa.
Oh, merda.
Jungkook tinha um jeito próprio de tirar a camisa, puxando-a pelos ombros e não pela barra, e de alguma forma aquele gesto tão banal tinha um apelo absurdo para a mulher que já vira uma centena de vezes, nos mais diferentes contextos - fosse para se refrescar num dia quente, quando a arrastava junto dele para o banho, depois de suar na academia ou, seu preferido, encarando-a ao pé da cama, segundos antes de cobrir o corpo dela com o seu. Aquela cena tinha um impacto. Especialmente quando ele estava bem assim, com as costas voltadas para ela lhe dando tempo para admirar cada pedacinho daquela que era uma de suas partes favoritas em um corpo que não tinha um defeito sequer.
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DECALCOMANIA • Jeon Jungkook
Short StoryAinda que não fosse capaz de se lembrar da primeira vez em que teve um pincel entre os dedos, Bárbara nunca se esqueceria do dia em que compreendeu, enfim, o que era arte. Até então, sua ideia era que o artístico estava na alma, e não no amor. Afina...