Capítulo 11. Imersão da fada

57 32 4
                                    

Vestir todo o pano branco pertencente ao longo vestido de Iara não era umas das tarefas mais fáceis. Todos os dias novos vestidos chegavam. Os velhos eram levados pelas mulheres de vestidos pretos. Iara tinha a impressão de que estes vestidos eram pintados novamente, desta vez de preto, e usados por estas mesmas mulheres do serviço braçal.

O fim de tarde daquele dia nublado foi melancólico. O que estava ainda mais estranho para Iara, era a ordem que tinha recebido: Esteja na represa às dezessete horas. O horário já se aproximava, e todo o silêncio da fazenda incomodava muito a investigadora.

Antes de partir, Iara se arrumava. Olhava-se no espelho, sentia saudades de passar uma maquiagem no rosto, um leve batom vermelho, um lápis nos olhos; parecia que já fazia meses que estava naquele local. Era entediante. Não havia o que fazer. Já tivera todas as conversas possíveis com sua amiga Carla. Chegou até a repetirem assuntos.

Em frente ao espelho, a pele morena de Iara brilhava, a cor mais linda, uma leve mistura do sangue africano com o indígena. Iara era uma verdadeira sereia, e era esse o motivo de seu nome. Ela nunca gostou tanto de seu nome ser comparado meramente a beleza. Queria ser reconhecida pelo seu trabalho e importância. Mexeu seus cabelos, pretos e curtos. Cortava sempre que sentia um pouco maior que seus ombros. Achava que passaria uma imagem maior de respeito, uma opção para a época.

Ao terminar de se arrumar, Iara começou a caminhar até o local. Abdias falou que deveria ir sozinha, sem Carla. Apesar da relutância da amiga em ir junto, que de nada adiantou. À medida que passava em frente às casas, notava que estavam fechadas sem o menor barulho no interior. A represa não era tão distante, bastava apenas subir uma pequena elevação e desce-la rente ao conglomerado de casas. Iara, já próxima ao local, ouvia extrema cantoria e louvores.

A visão de Iara do local a assustou. Grande parte dos moradores da fazenda se encontravam ali. Festejavam e glorificavam em frente a um altar, enquanto outros mantinham os olhos grudados em Iara. Quando se aproximou o suficiente, alguns dos presentes caminharam para se aproximar dela, estendendo as mãos como se ela fosse uma santa; "quem tocar será curado", pensou Iara.

Um homem alto, de cabelos loiros e ralos, de cara avantajada e bigode na altura do nariz atirava-lhe o olhar. Portava um microfone nas mãos e vestia-se com certa elegância, apesar das vestes sobrarem no seu corpo devido à sua magreza. Encontrava-se em cima de um dique nas margens do lago.

— Vejam irmãos! — esbravejou, o mais alto que pode, o homem loiro. — O companheiro providenciou a nossa mãe!

Todos bradaram gritos em torno do lago. Era possível ver pessoas sentadas ou em dança ao longo de toda a margem.

— Tragam-na, tragam-na e iniciemos já a cerimônia.

Ao ver que vinham em sua direção para leva-la até aquele homem, Iara tentou correr. Porém foi agarrada pelos braços.

— O que vão fazer comigo? — perguntou Iara.

— Nada que uma escolhida tenha medo. Hoje será seu teste de água. — disse, com um sorriso de lado a lado da boca, o homem loiro.

Iara não entendia o significado daquelas palavras, porém, sabia que tudo aquilo não terminaria tão bem. Num instante, acima do dique, ela foi amarrada e atada a uma cadeira por um grupo de homens. Mãos, pernas e pescoço atados à cadeira. Iara gritava pedindo por piedade, mas todos os presentes na cerimônia continuavam com a cantoria.

O homem loiro deu ordem para que fosse jogada no lago. Colocou o microfone o mais próximo possível da boca e soltou um grito.

— Que seja tudo guiado pela mão de Deus! — escutou Iara, antes de afundar. 

A Terrível História de Ponteville (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora