Tempestade de dores

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Às 6:03h da manhã.

        Kandecy se desperta com um pulo e tenta se levantar, mas sente seu corpo cansado e dolorido. Por não ter dormido bem e com todo esse ocorrido a deixa mais fraca, ela apenas se senta e está com a cabeça vazia, mas com aquela mesma dor no peito. Kandacy não consegue pensar no que fazer e a única coisa que sabe é que tudo isso não foi um pesadelo, por mais que queira que fosse.

Aquele hospital frio e silencioso rapidamente volta a vida e ao calor humano, se enche de pessoas esperançosas que chegavam a cada minuto para ver familiares internados. Kandecy fica reparando no quanto aquelas pessoas são fortes por conseguirem sorrir mesmo com riscos de perder alguém, talvez só estejam aproveitando o máximo dos últimos momentos.

        Kandecy permanece ali observando, pois não tinha ideia do que fazer e nem onde ir. Para sua sorte, a médica Marlene aparece entrando na sala. Se aproxima de Kandecy e diz:

- Bom dia, Kandecy. Como você está?

        Kandecy não responde, pois achava aquela pergunta totalmente desnecessária, afinal quem ficaria bem por perder a pessoa que mais ama?

- Entraram em contato com o seu avô, ele foi o seu único familiar que conseguiram encontrar, e ele chegará aqui em algumas horas. Você terá que esperar aqui. Está com fome? Eu lhe trago algo que queira comer. - diz a médica.

- Não estou com fome. Obrigada - respondeu Kandecy com uma voz fraca e trêmula.

   A médica então se retira da sala.

        Por ainda ter 17 anos, Kandecy não poderia viver sozinha, então ela já sabia que por determinação da justiça terá que ir morar com seu avô. Ela não tinha contato com ele já fazia uns 8 anos, apenas sua mãe ligava raramente para saber como ele estava.

        Seu avô, Joe, tem 65 anos, ele não mora na cidade como Kandecy, ele mora em um pequeno Vale na floresta, naquela área há poucas pessoas e as casas são quilômetros de distância umas das outras. E lá ele mora sozinho.

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               Às 14 horas da tarde

        O avô de Kandecy, Joe, chega ao Hospital. Ele passa na porta da sala quando avista a única pessoa que havia lá, Kandecy. Mesmo fazendo anos que ele não a vê e ela já tenha crescido, logo de cara a reconheceu.

- Ohh! Kandecy? Minha linda como você está sempre mais bela! - diz seu avô muito surpreso e feliz em vê-la, entrando na sala.

        Ele logo se deu conta do olhar triste na face de Kandecy, e então se lembrou exatamente o que tinha trazido ele até alí. Ela não diz nada, apenas começa a chorar novamente e ele a abraça. Os dois permanecem alí por um bom tempo, até que ele diz:

- Kandecy minha querida, eu sei que você está muito cansada, mas precisamos sair deste hospital. Tenho que ir resolver as coisas da sua mãe, e se você quiser irei deixá-la em sua casa para arrumar suas coisas. Você terá que ir morar comigo agora. – diz Joe tentando conter as lágrimas.

        Kandecy sente grandes calafrios pelo corpo ao saber que precisa voltar em casa por uma última vez. Ela assente com a cabeça, confirmando.

        Os dois se levantam, e apoiados um ao outro eles seguem até o carro de seu avô, é um Fusca marrom, um tipo de carro que raramente se via na cidade.

        Ele abre a porta de trás do carro para ela entrar

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        Ele abre a porta de trás do carro para ela entrar. E seguem.

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        Em 15 minutos (15:09 horas) eles chegam à casa de Kandecy, e antes que ela desça do carro seu avô pergunta:

- Quer que eu entre com você querida?

- Não precisa. - responde Kandecy respirando fundo e com a voz ainda fraca e com o olhar fixo para baixo.

        Kandecy desce do carro e fica alí parada, observando por alguns minutos sua própria moradia.
   
       É um pequeno prédio, são 4 apartamentos minúsculos e tem apenas escadas para subir, o dela é o último andar.

        Ela decide entrar no prédio, sobe as escadas lentamente e chega até a porta de seu apartamento, ela abre e tudo parece preto e branco, sem cor, sem vida... Foi a pior coisa que ela já sentiu em toda sua vida.

        Logo em cima da mesa na cozinha, estavam suas duas câmeras, as que ela sempre carrega para fotografar tudo que chamar sua atenção. Em uma delas estão fotos e vídeos de momentos marcantes com sua mãe, ela fica ali por um bom tempo olhando aquelas lembranças. Então, ela passa o resto da tarde alí em seu apartamento arrumando tudo o que poder até o anoitecer.

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                Às 23 horas da noite

        Kandecy está sentada no chão do banheiro segurando Gilete em uma das mãos, com o pensamento de acabar com tudo... Com toda aquela dor e a agonia de não saber mais por qual caminho seguir, acabar com aqueles pensamentos de ter perdido sua mãe... Rapidamente Kandecy se levanta assustada com umas batidas na porta, ela guarda a Gilete e caminha até a porta, pelo olho mágico vê que é seu avô.

      Por pouco ela não fez nenhuma besteira.

        Ela abre a porta, seu avô percebe o rosto assustado dela, e a abraça, mas não fazia idéia do que ela tinha acabado de tentar fazer. Ele diz:

- Querida eu trouxe um jantar pra você - diz indo em direção a mesa - Sente-se, você precisa se alimentar.

        Kandecy senta, e ao sentir o cheirinho da comida ela percebe que é o seu favorito, almôndegas. Mas sem fome, ela apenas olha. Seu avô senta em sua frente, apenas a mesa separa os dois.

- Querida, amanhã às 8 horas será o enterro de sua mãe. - diz ele com os olhos cheios de lágrimas - Virei te buscar, nós iremos e logo depois vamos embora para a minha casa. Tudo bem?

        Kandecy não responde, ela apenas abaixa a cabeça sobre a mesa. Seu avô se levanta, e a deixa sozinha no apartamento.
        Cansada de sentir tanta dor o dia inteiro e ter acabado de tentar fazer algo horrível, ela rapidamente adormece alí mesmo apoiada na mesa. Dormir é sua única forma de alíviar toda aquela dor.

Kandecy & ZavOnde histórias criam vida. Descubra agora