Luto Eterno - 17 de dezembro

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          No dia seguinte, às 7:20h.

-"Toc toc"- Joe bate forte na porta, já está ali um bom tempo batendo e nada de Kandecy atender... então ele entra, a porta não estava trancada.

        Ao Joe entrar, Kandecy acorda assustada, ela ainda estava alí, na mesa da cozinha. Ainda muito cansada, com os olhos vermelhos e inchados, passou a noite inteira acordando assustada.

- Bom dia querida, desculpe te assustar assim, mas você demorou atender. Já são quase oito horas, temos que ir, depressa.

- Eu só vou tomar um rápido banho. Prometo não demorar muito. - diz Kandecy desanimada, mas sabe que aquela é sua única opção, e precisa ir.

- Essas caixas e sacolas são para levar até o carro? - pergunta seu avô, ao ver caixas e sacolas de roupas espalhadas pela casa.

- Sim. E são só essas... Não tenho muito o que levar. - responde Kandecy indo ao banheiro e fecha a porta.

        Seu avô vai pegando as caixas e sacolas e levando até o carro, realmente eram poucas coisas. Ela levava apenas suas roupas, coisas de sua mãe e alguns acessórios da casa.
Os apartamentos lá são "Planejados", alugados com os móveis. Então ela leva apenas o que é seu.

        Kandecy termina o banho em poucos minutos. Antes de sair da casa ela para na porta, olha para cada canto se lembrando de sua mãe alí, ela sorri com lágrimas nos olhos e diz baixinho:

- Eu te amo mãe.

        Ela tranca a porta, e desce as escadas, carregando com si as suas duas câmeras.
        Na portaria ela entrega a chave ao porteiro. E antes que ela vá, ele diz:

- Kandecy! Eu sinto muito. Sua mãe era a melhor pessoa deste minúsculo prédio. Todos a amavam. - diz o porteiro com os olhos brilhando de lágrimas, triste e ao mesmo tempo orgulhoso da mulher incrível que era a mãe de Kandecy.

- Obrigado. - diz Kandecy sem muito o que dizer, mas com um sorriso nos lábios. Ela se vira, e sai do prédio.

        Seu avô já estava lhe esperando no carro logo à frente. Ela abre a porta do carro, e antes de entrar olha para trás, olha pela última vez o prédio onde cresceu, com uma das câmeras ela fotografa e entra no carro, respira fundo, mas não consegue segurar as lágrimas.

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                     Às 8:23 horas.

        Ao chegarem no cemitério onde acontecerá o enterro de sua mãe, Joe estaciona o carro. Os dois descem, e na entrada Kandecy trava. Por alguns segundos a imagem de sua mãe gelada no hospital, passa na sua mente como um flash, mas de um jeito suficiente pra que possa lhe torturar muito mais.

        Eles seguem até uma pequena capela onde está gravado o nome de Catarina, a mãe de Kandecy. Não foi difícil de encontrar pois era uma das capelas mais simples do cemitério. Ao passarem pela pequena entrada, lá estava sua mãe, bem mais pálida dentro de um caixão de madeira branca, com bordas douradas e vestida com um vestido rosado bem claro, é lindo. Kandecy não tem coragem de tocar em sua pele gelada movam.

        Em poucos minutos chegam mais algumas pessoas, amigas de sua mãe com muitas flores lindas, se bem que precisava pois tudo ali estava tão sem cor, e sua mãe ficaria muio feliz.
        Dava pra notar as faces de tristeza estampadas em cada rosto, que so de olhar dava pra ver suas almas em profundo luto, assim como Kandecy.

        Então cada um faz seu discurso, antes de fundir o corpo numa imensa gaveta de concreto na parede da capela.

        Depois que todos falaram seus discursos, os últimos são Kandecy e seu avô.

- Catarina, minha filha querida, minha única filha.
Dói demais ter passado tantos anos longe, e ainda dói mais ter que te ver deste jeito, fria, pálida e pela primeira vez seu rosto sem expressão nenhuma.
Eu me arrependo muito de ter deixado você ir embora de casa aos 19 anos, quando sua mãe partiu. Eu estava sofrendo, eu fui fraco e não so perdi sua mãe, como também perdi você... Mas eu não queria te prender àquela casa que simplesmente ficou sombria.
Você tinha um brilho assim como sua mãe, você encantava todos em sua volta, você era um anjo na terra e agora está em seu lugar, nos céus.
Eu pensei q nunca precisaria lidar com mais uma morte, pois o próximo seria eu... Mas não foi.
Eu sinto muito por tudo, eu devia ter ligado sempre pra dizer o quanto eu te amo, mas eu fracassei em tudo. - diz Joe, com todas as suas forças e chorando muito, e mais uma vez em sua vida, ele estava sentindo de novo a dor da perca.

        Ele então se afasta para dar espaço a Kandecy.

- Mãe, eu não sei o que fazer da minha vida agora sem você! Pela primeira vez na vida eu estou sem sonhos, sem planos... Pela primeira vez estou perdida dentro de mim mesma.
Você sempre foi forte e seguia tudo de cabeça erguida! E eu tenho medo agora, pois não sei como ser forte como você. Mas mãe, eu te amo muito. Agora a senhora está em um lugar melhor onde pode descansar, não precisa mais ser forte aguentando o peso em suas costas.
Me desculpa mãe, por tudo e por não ter o que dizer agora, mas é porque eu não sei lidar com essa dor, e nunca saberei. - diz Kandecy com seus olhos fechados tentando conter as lágrimas.

        O corpo de Catarina é fundido na parede. Kandecy e seu avô voltam para o carro depressa, assustados e sem quererem ficar mais nenhum minuto ali. Os dois não falam nada um ao outro, parecem bem distantes dentro de si mesmos. Entram no carro. Já são 9:30h.

Kandecy & ZavOnde histórias criam vida. Descubra agora