Capítulo 2

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"Porra", foi meu primeiro pensamento quando comecei a recobrar a consciência. Mantive minha respiração tranquila, olhos fechados e comecei a sentir o ambiente ao meu redor. A cama macia sob mim não parecia uma maca, o que era bom, eu não sentia nenhum fio conectado a mim, o que era ainda melhor, meu ombro e coxa estavam anestesiados, minha boca seca. Eu tinha sobrevivido.

Aos poucos as memórias foram enchendo a minha mente. Os soldados dirigindo o carro, a batida, os russos atirando, os tiros que eu recebi como o inferno, o caminho, George Bellini me carregando para o seu carro, Serena gritando o meu nome. Serena.

Imediatamente abri os olhos e comecei a vasculhar ao meu redor, para minha surpresa foram os olhos da minha irmã que eu encontrei.

—Verônica? —Ela questionou pulando da poltrona onde estava encolhida, parecia estar ali há muito tempo, meio amassada, com olheiras que eu nunca tinha visto em seu rosto. —Ah meu Deus, Verônica. —Serena chorou caminhando em minha direção. Quando chegou ao meu lado ela tocou minhas mãos delicadamente.

Voltei a olhar ao meu redor, um criado mudo ao meu lado, um jarro de água, um copo, a porta aberta e passos vindo em direção. Três pessoas. Três homens para ser mais exata.

—Ela acordou? —Uma voz conhecida e odiosa questionou e eu olhei em direção da porta. Os três irmãos Bellini estavam ali. Eu não tinha muito tempo.

Em um único movimento me levantei agarrando o jarro de água e batendo-o com toda minha força no criado mudo criando um caco de vidro mortal. Eu não via minhas armas em lugar nenhum, aquilo teria que servir.

—Verônica? —Serena questionou arfando e os homens sacaram suas armas em minha direção. Eu me prostrei entre eles e minha irmã.

Os ferimentos por onde as balas passaram doeram como o inferno, meu estômago revirou e minha mão tremeu mas eu tinha um objetivo. Eu não falharia. Mantive a o braço onde o ombro tinha sido atingido preso ao meu peito e me apoiei na perna boa. Eu já tinha vencido em circunstâncias piores. Os Bellini não sairiam dali com vida.

—Nós vamos embora daqui, Sel. —Eu prometi para minha irmã, mas mantendo o olhar fixo nos homens. Os olhos de Edward queimavam em minha direção, sua glock mirada em minha testa. George e Thomas tinham facas em punho, estavam concentrados, mas não tão raivosos. Considerando que eu tinha minha irmã comigo devia me preocupar mais com eles do que com Edward, um tiro e ele poderia acertar Serena, a chave para as suas rotas, e ele não gostaria de danificar o patrimônio.

—Verônica do que você está falando? —Serena questionou chocada, eu podia ouvir o choro em sua voz.

—Abaixa. Isso. —Edward rosnou.

—Eu não vou deixar você machucar a minha irmã. —Respondi igualmente raivosa. Ele podia ter uma arma, mas eu tinha o fogo do inferno queimando em minhas veias, Edward Bellini não me mataria.

—Do que você está falando? —George interferiu o rosto parecendo realmente confuso. —Ninguém está machucando a uccellino. —Ele parecia quase ofendido, eu quis rir.

—Eu sei que vocês três, bastardos nojentos, estão abusando da minha irmã durante todo esse tempo. —Eu rosnei dando vazão a toda a minha raiva, apertei o pedaço de vidro na minha mão e assisti o vermelho do meu próprio sangue pingar no chão de madeira escura. Em breve seria o deles. Carótida, radial e femoral. Um corte e eles sangrariam em segundos para a morte. 

Edward, George e Thomas pareceram chocados com as minhas palavras. Cínicos do caralho.

Pela minha visão periférica vi que estávamos no primeiro andar, fugir pelas janelas seria mais fácil do que pelo segundo andar, mas pelo que eu sabia a mansão era cercada. Respirei fundo ignorando a dor que fez meus joelhos tremerem, eu tiraria minha irmã dali. Serena nunca mais sofreria nas mãos deles.

Jogos de Ruína - Livro II [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora