{7} Tio Wil

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A pensão era bem próxima da estação. Ao chegarem, Wilson pediu um quarto com duas camas.

"Você se importa? Não trouxe muito dinheiro para pagar por dois quartos. Não esperava ter que passar a noite por aqui. Entre outras coisas..." Disse Wilson a menina.

"Tudo bem. "

"Estes são os horários dos banhos quentes, não adianta pedir para acender a caldeira fora desses horários. Estão avisados. Aqui está a sua chave. " Disse o recepcionista de forma brusca enquanto entregava um papel com os horários e a chave.

Eles haviam chego com uma pequena folga antes do último horário de banho que era das 22h às 22h30. foi o tempo suficiente para poderem jantar tranquilamente na pensão.

O quarto era simples mas tinha tudo o que precisavam, duas camas para dormir e um lavabo. O local de banho era coletivo, separado por feminino e masculino.

"Consegue tomar banho sozinha? " Perguntou Wilson a menina. Apesar de já ter 11 anos, era bem comum crianças nobres não conseguirem fazer muitas coisas sozinhos, pois geralmente tinham empregados disponíveis para fazê-lo.

Tirando arrumar o próprio cabelo e amarrar os cadarços dos sapatos, Margareth conseguia fazer quase tudo sozinha. Mesmo tendo empregadas que podiam fazer por ela, a menina queria se mostrar exemplar ao pai e deixar a mãe orgulhosa. Vivian também sempre tentou ao máximo ensinar aos filhos a se virarem sozinhos, algo pouco comum em uma família de nobres.

"Consigo. "

"Se trocar também? "

"Claro. "

Wilson sorriu. Vivian foi uma ótima mãe.

Margareth tomou banho primeiro e Wilson, após se certificar que ela estava bem, foi em seguida.

A menina tinha um pijama reserva e trocou o que estava sujo. Wilson não havia trazido roupas extras então apenas recolocou a calça e a camisa que usava por debaixo do paletó velho.

Ela se deitou primeiro, Wilson voltou do banho, apagou a luz e se deitou em seguida.

Porém nenhum dos dois conseguia realmente dormir. Margareth estava com a cabeça a mil, cheia de perguntas, tristezas, medo e ansiedade. Enquanto Wilson estava indignado, frustrado e triste demais.

"Meu pai morreu por culpa de uma mulher? Que mulher? Não foi minha mãe né? " Margareth foi a primeira a cortar o silêncio. Era a pergunta que a estava mais perturbando.

Wilson levou um susto, achou que a sobrinha já estava dormindo.

Ele pensou muito. Não podia contar tudo, além de ser proibido por lei, ia gerar um colapso na mente da menina que era nova demais para isso, sem contar que sequer ele tinha certeza do que realmente aconteceu, não podia colocar mais incertezas na cabeça da menina. Mas uma parte ele podia contar, na verdade deveria contar, pois amanhã provavelmente sairia na capa do jornal local e não seria bom para a menina descobrir daquela forma. Mas não seria fácil.

"Você sabe que mulheres são proibidas por lei de dirigir certo? " Wilson achava uma lei extremamente estúpida.

"Sim..." Margareth não entendia o porquê. Seu pai fazia questão de sempre reforçar todas as coisas que as mulheres não podiam fazer para ela e para a mãe. Sua mãe nunca falava nada e ouvia de cabeça baixa, mas aos poucos a menina começou a ver que não fazia nenhum sentido ser taxada como incapaz só por ser uma menina, tudo que seus irmãos faziam ela também sabia fazer!

Wilson respirou fundo e disse:

"O acidente de automóvel que levou seus pais... sua mãe estava dirigindo um dos automóveis. Seu pai foi atrás dela com outro automóvel... mas a pista estava molhada, os automóveis derraparam e os dois acabaram caindo de um precipício. " Não foi bem assim, mas isso era tudo que Wilson podia falar. E era o que ia aparecer nos jornais.

Kalípodes  - Entre Engrenagens e PetúniasOnde histórias criam vida. Descubra agora