10 Anos Depois

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Tenho acordado bem indisposta ultimamente, não tenho disposição para mais nada e estou começando a achar que estou doente, nada para no estômago e vivo tonta, Peeta está cada dia mais preocupado e vê-lo assim me deixa nervosa, não gosto de ser dependente e nem de dar trabalho, sempre fui a pessoa que enfrenta tudo, durante nossos 10 anos de casamento fiquei doente algumas vezes mas nunca assim, Peeta sempre foi paciente comigo e sempre buscou no livro de remédios da minha família alguma coisa para aliviar meu desconforto, porém dessa vez nada parece ajudar, me sento na cama já me sentindo tonta e de repente vem a ânsia, corro para o banheiro e tudo que comi ontem a noite volta de uma vez, estou tremendo e suando quando Peeta entra no quarto, tento não demonstrar, mas ele me conhece melhor que qualquer pessoa e diz
- Tá bom, já chega. Você vai ao médico hoje e não quero mais ouvir desculpas. Você está desse jeito a semanas Katniss, você vai hoje e eu vou junto.
Tento persuadir ele, mas no fundo sei que não tem escapatória, eu sou teimosa mas quando Peeta encasqueta com algo não há nada que possa ser feito pra mudar.
No café da manhã já não consigo mais empurrar nada, nem mesmo os pães de queijo que Peeta faz e são meus preferidos, como uns morangos e só. Então subo e me troco para ir até o médico. Peeta vai comigo mas não entra na consulta. Quando entro o médico me pergunta
- Muito bem Katniss o que anda acontecendo?
- Não estou me sentindo bem ultimamente, ando tendo muitos enjoos, indisposição, tonturas, não consigo comer e estou perdendo peso. - quando colocado assim até eu sei a que "doença" esses sintomas se parecem, mas não pode ser... Será? Não faz nem dois meses que cedi a vontade de Peeta, será que será assim tão rápido? O Dr me trás de volta e diz
- Muito bem, vamos fazer um exame e quero colher sangue também. Tenho que mandar a amostra para a Capital e vai levar semanas para termos o resultado, mas tenho certeza que pode conseguir de maneira mais rápida com a sua mãe.
Eu assinto, realmente não gostaria de colocar minha mãe nisso, mas esse exame vai levar semanas para voltar e com minha mãe ia demorar apenas dias.
Uso o telefone da clínica para ligar para ela e digo que irá receber uma amostra de sangue minha e a solicitação dos exames peço que ela me mande os resultados o quanto antes. Minha mãe soa preocupada quando me pergunta o que houve, explico a ela que não ando me sentindo bem mas que não deve ser nada demais e que só fui ao médico por insistência de Peeta. Ela se despede dizendo que assim que a amostra chegar vai levar para testar imediatamente.
Desde todos os acontecimentos da guerra eu não suporto fazer exames, ir a médicos e muito menos o cheiro de hospital sempre o mesmo odor de doença e morte disfarçado de desinfetante, agradeço por no 12 não termos um hospital propriamente dito, é mais uma clínica e por isso os cheiros não são tão fortes mas ainda assim é o suficiente pra me deixar desconfortável, assim que saímos de lá tudo que eu quero é ir para a floresta e absorver os cheiros que eu tanto amo de folhas e natureza, mas Peeta é um empecilho
- De jeito nenhum você vai pra floresta nesse estado. Você mal se aguenta em pé sem ficar tonta, não tem comido e vive enjo... - ele para no meio da palavra, com certeza percebeu o mesmo que eu ao colocar as palavras todas em ordem. Ele me olha confuso e diz - Katniss, você está grávida? - um sorriso já surgindo em seu rosto.
- Não sei Peeta, o médico não me disse nada, disse apenas pra esperar o exame ficar pronto. Mas não acho que seja, essas coisas não são assim tão rápidas. - eu respondo, aterrorizada de ser de fato isso, quando concordei em dar o filho que ele sempre quis nunca parei para pensar na possibilidade de engravidar de fato, mas juntando tudo agora o pânico começa a me dominar. Respiro fundo para me acalmar e acabo tendo que virar para vomitar, assim, do nada sem nenhum aviso. Ouço Peeta rir enquanto me apoia e assim como ele, tenho certeza que estou grávida, a raiva cresce por ele rir e eu passar mal eu me recomponho e saio em disparada em direção da clareira enquanto ele me chama, sei que ele não desistiu de me seguir, mas está pelo menos respeitando meu espaço.
Eu entro na floresta e sigo diretamente para minha pedra e de Gale, foi aqui que conversamos uma vez sobre ter filhos e eu disse a ele que jamais teria um, lembro de ele dizer que se não existissem os Jogos ele teria, eu fui resoluta mais uma vez dizendo que nunca os teria. Mas agora acho que já tenho um a caminho, um filho de Peeta. Me lembro de pensar na arena relógio que Peeta seria um ótimo pai, mesmo antes de eu sequer imaginar que ele ficaria comigo, afinal naquele momento, eu estava preparada para morrer por ele.
Sei que Peeta será um pai excelente, ele sempre quis ter filhos, passamos 10 anos casados e nesses 10 anos ele sempre me pede pra termos um filho, ele sempre me diz o quanto ele sonha com uma pessoinha correndo em nossa casa, uma pequena mistura de nós dois, o fruto do nosso amor. Pra mim, sempre foi suficiente só eu e ele, sem trazer mais nenhuma alma para sofrer nesse mundo. Mas antes eu não queria tê-los por causa dos Jogos Vorazes, da fome, das dificuldades da vida no 12, hoje porém vivemos em tempos de paz, não existe mais os Jogos Vorazes, não existe mais fome nem somos mais escravos da Capital, eu e Peeta somos felizes, sempre temos comida na mesa, temos amor de sobra na nossa casa, então por que eu não quero ter filhos? Começo a pensar em todos aqueles que eu perdi, meu pai, Prim, Cinna, Finnick, Rue, Mags, Wiress, Castor, Boggs e tantos outros, percebo então que tenho pavor de perder mais alguém. Peeta, Haymitch e eu somos sobreviventes, nós lutamos e conseguimos viver, cheios de cicatrizes no corpo e na alma, penso em minha mãe no sofrimento dela quando perdeu meu pai, quando me viu ir para a Arena, quando me viu voltar pra lá, quando viu a guerra me consumir e principalmente quando perdeu Prim, não quero passar por tudo isso, não quero ser mãe pois estaria vulnerável protegendo alguém que nem sempre eu poderia proteger, como não pude proteger Prim.
Passam-se horas e eu continuo sentada na pedra perdida em pensamentos, sei que Peeta está sentado mais atrás apenas me observando, ele nunca se senta comigo nessa pedra, nunca conversamos sobre isso, mas sei que ele já viu a entrevista que Cressilda fez comigo e com Gale sentados naquela exata pedra lado a lado falando de nossa caçada e amizade, ele sabe que aquele lugar é do Gale e ele nunca tentou pegar para si, ele nunca interrompe meus momentos de reflexão, sempre respeita meu tempo e sabe que nesse momento, tudo que eu mais preciso é de um tempo para digerir tudo isso, quando o sol já está alto no céu ele se aproxima e diz
- Vamos para casa Katniss, vai ficar tudo bem e você precisa comer alguma coisa.
Sei que tem algo errado na maneira como ele está falando, algo de errado na sua postura mas ele apenas me dá um sorriso triste e me estende a mão. Seguimos juntos até nossa casa, em silêncio. Ele arruma nosso almoço e sentamos para comer ainda em silêncio, consigo comer um pouco mais, já que não tinha comido quase nada e já tinha passado mal duas vezes naquele dia, Peeta me observa em silêncio, com o rosto fechado perdido em pensamentos, não consigo evitar me sentir culpada pela reação que tive e espero que ele esteja pronto para falar.
Ele não procura conversar até a hora em que nos deitamos para dormir, está abraçado comigo e diz
- Katniss, se eu soubesse que você ficaria tão mal com o fato de estar grávida eu não teria te pedido para termos um filho. Me perdoa por te causar dor e se o resultado for positivo e você não quiser ter esse bebê eu vou te apoiar, eu sei o quanto você já sofreu e eu não suporto te causar mais dor. Me perdoa?
Sou pega completamente de surpresa pelo que ele andou pensando, eu fiquei chocada, sim é verdade, não foi minha idéia, mas eu concordei por ele. Sei que seria incapaz de odiar um filho e meu medo maior é mais por mim mesma do que pela criança, Peeta não me causou dor, Peeta só me trouxe paz e alegria, nada que vem dele pode ser ruim, nem mesmo tendo uma parte de mim, não tem como essa criança ser ruim. Eu já matei muita gente na minha vida, mais gente do que eu gostaria de admitir, mas eu jamais mataria um filho de Peeta, jamais mataria um ser indefeso. Eu nunca tiraria essa criança, eu sei que não vai ser fácil mas eu escolhi tê-lo por ele. Ele me observa atentamente e eu sei que preciso escolher minhas palavras com cuidado agora, me viro pra ele e digo
- Nada no mundo me assusta mais do que ser mãe. Eu tenho medo de perder mais alguém que eu amo, tenho medo de não poder proteger essa criança como não pude proteger Prim, tenho medo de ele sofrer como nós sofremos. Mas ele é um pedaço de você também e eu nunca poderia machucar você, nunca poderia machucar um filho nosso. Não estou dizendo que vai ser fácil pra mim Peeta, mas eu aceitei ter esse filho e se eu estiver mesmo grávida nós vamos tê-lo e vou fazer o meu melhor pra deixar ele bem.
Ele se ilumina ao compreender todas as minhas palavras e diz
- Eu te amo meu amor e não importa o que vá acontecer eu vou estar com você, em todos os momentos. Você vai ser a melhor mãe do mundo, acredita em mim?
Eu assinto e lhe beijo, ele me abraça e nós fazemos amor de uma maneira completamente nova, ele toma um cuidado especial comigo e beija minha barriga várias vezes, nem ao menos temos certeza que estou grávida e já consigo ver o quanto ele ama essa criança.
Adormecemos abraçados e acordamos com o telefone tocando no andar de baixo, Peeta se levanta para atender e eu fico na cama, ainda preguiçosa. Quando me levanto e desço as escadas ele está parado em frente ao telefone me vê e diz que a amostra do exame já está com a minha mãe e que ela irá trazer os resultados pessoalmente para abrirmos juntos.
Passam dois dias e minha mãe chega, nunca estive tão nervosa na vida, ela entra abraça Peeta e a mim, nós nos sentamos na mesa da cozinha, ela vai para o fogão preparar um chá enquanto eu peço que Peeta abra o resultado, estou tão nervosa que tenho medo de rasgar o papel antes de conseguir abrir o envelope. Ele abre e lê o que está no papel, então ele se levanta me olha com lágrimas nos olhos e diz
- Nós vamos ter um bebê Katniss, nós vamos ter um filho meu amor.
Vendo a alegria dele eu não consigo me conter e sorrio pra ele enquanto ele me abraça e comemora. Minha mãe está chorando e nos abraça dizendo que vai ser avó, ele corre porta a fora para contar a Haymitch e eu me viro para minha mãe e digo.
- Estou assustada. - ela me olha com ternura e diz.
- Você foi a mãe de Prim com apenas 13 anos, você vai ser incrível para o seu bebê. Você está perto de experimentar a maior felicidade do mundo que é carregar seu bebê no colo minha filha. Você será uma mãe incrível Katniss.
Alguma coisa nas palavras de minha mãe me acalma e eu consigo finalmente relaxar e colocar minha mão na minha barriga, sentir uma vida dentro de mim e sorrir.

Os Amantes Desafortunados do D12Onde histórias criam vida. Descubra agora