Destino incerto.

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        A pequena comemoração que os empregados haviam feito acalentava o coração da menina, que sentada em sua cama, observava a lua sorrindo em sua janela. O livro que sustentava em mãos era grosso, de cor escura. Parecia antigo, se levasse em conta a capa dura e as folhas amareladas. O título, escrito em letras douradas e desenhadas, indicava que era para uma melhor convivência e compreensão social. Nada fora do comum levando em conta sua situação.

       A ideia que teve de deixar as propriedades em que viveu por tanto tempo reclusa, pela vergonha do pai, a deixava sem muita bagagem social. Não sabia como se comunicar de forma adequada. Muitas das vezes, soava agressiva e arrogante, sendo taxada à maioria das vezes de "insuportável" ou "língua afiada". Temia a decisão que havia tomado.

       Se ajeitou mais confortavelmente entre os travesseiros e as cobertas. O vento frio que movimentava as cortinas era suave, deixando ainda mais prazerosa a sensação de estar entre os montes de lençóis. Acomodou o livro em cima do criado mudo, juntamente de seus óculos para leitura, desligando o abajur em seguida.

       Deitada em sua cama, refletia sobre o que a aguardaria na noite seguinte. Sabia que sua viajem seria longa. Nenhuma das pessoas as quais conhecia, iriam com ela. Estava sozinha nessa aventura. "Como vou sobreviver por um ano longe daqui?... Estou assustada"concluiu. Virou-se na cama várias vezes, até cair no sono, tendo seu quarto banhado pela luz gélida da "lua risonha".

                                                                            *** Quebra tempo ***

         A aurora se erguei no horizonte. Gotas de orvalho reluziam como pedras preciosas nos jardins da mansão. Pouco a pouco, a luz quente enchia toda a extensão da colina e da cidadezinha. As portas das casas e os comércios se abriam. Crianças se dirigiam para a escola, e os veículos começavam a rodar pelas ruas estreitas. As plantações recebiam com grande prazer a luz solar de mais um novo dia.

        O quarto iluminado fez a morena movimentar vagarosamente os olhos, despertando. Sentando-se na cama observou o dia que nasceu. Será que o amanhecer era igual em todas as janelas do mundo? "Que idiota" ralhou consigo. Como poderia ser igual? Circunstâncias em que se pode estar variam. Nem todas as vezes achava o amanhecer naquela casa como algo belo, mesmo muitos a contradizendo.

       Ouviu um bater na porta de seu quarto, revelando uma Cecile sorridente. A empregada sempre acordava de bom humor:

-Bom dia Srta. Viollet. Hoje o seu dia será cheio. Precisa se aprontar para ter suas aulas de música, pintura, literatura e filosofia. E precisa se preparar para sua viagem hoje à noite...- pronunciou com a voz embargada de tristeza, quase arrastando as palavras da última frase:

-Cecile, venha aqui...-pediu Viollet para a esverdeada, que se aproximou a passos lentos da cama:

-Sente-se- indicou a frente da cama para a mulher, que obedeceu. Os olhos de Cecile se mantinham baixos. Sua subordinação muitas vezes a impedia de olhar as pessoas nos olhos:

-Estou com medo Cecile... Não sei se a ideia que tive foi sensata ou não. Apenas não suportava mais estar à mercê das ofensas do meu pai... Sinto que talvez eu não devesse ir para essa escola. Mas não aguento mais estar confinada nas paredes dessa casa, onde o mais longe que fui , é o jardim- terminou sua confissão, quase se atropelando nas palavras. Teve o cuidado de não dizer que o verdadeiro motivo era a sua busca por um "companheiro perfeito":

         Cecile levantou os olhos, espantada pelo que ouviu. Já conversaram diversas vezes sobre os medos e inseguranças de ambas, mas nunca havia escutado uma coisa tão franca e sincera como aquela de Viollet. A morena preferia guardar seus problemas e conflitos para si mesma, enquanto Cecile tinha que lutar para conseguir que a menina desabafasse:

Amor de uma RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora