Capítulo 20 - O reencontro

54 12 94
                                    

Perder, dói! Não adianta dizer não sofra, não chore; só não podemos ficar parados no tempo chorando nossa dor diante das nossas perdas.
Lya Luft

Consegui me acalmar depois de um tempo.
Por incrível que pareça só doeu na hora e depois como um passe de mágica... Puff!!! Deixei de sentir aquela dor.

Olhei para o relógio e marcavam 6h40, depois que despertei durante a madrugada, não consegui mais dormir.
Fiz um cafuné no cabelo de Cláudio que dormia abraçado a mim.

Ele me olhou e estava com uma aparência péssima, não que eu estivesse bem, mas sabe como é.

Me levantei, tomei um banho gelado e isso acalmou meu corpo, terminei de fazer minha higiene matinal e fui para a sacada fumar um cigarro.

-Pelo amor de Deus, você está fumando Helena!? - Disse Cláudio assustado.

-shhh... - o chamei com o dedo indicador e ele veio até mim, o abracei e olhei para o céu. - O que você vê? - Ele entendeu que eu não queria respostas e então continuei. - Eu vejo exatamente o que sinto, vazio! Nada feio e nada belo, nublado e cinza. Cláudio, a última pessoa que pensei que me abandonaria se foi e eu fiquei, talvez essa seja minha sina.

Sei que dizia coisas desconexas para ele, mas eram apenas pensamentos vagos que me passavam pela cabeça enquanto fumava.

Cláudio começou a chorar e me abraçou.

- Helena, você é sol e não um dia nublado. O que acontece com você?! - Ele solta um suspiro e segura meu rosto com suas duas mãos. - Vai colocar uma roupa, ficar pelada na sacada não te fará bem! Não vou sair do seu lado mesmo que me queira longe.

Então ele me solta e se vira indo a cozinha me preparar um café.

Olho mais uma vez para o céu nublado e penso comigo: um dia você também irá me abandonar, por que você continua ao lado de um cristal quebrado tentando concertar?

...

Tomamos café em silêncio, me arrumei e fomos pegar um ônibus para ir até o velório.

...

- Estarei aqui, se precisar segurar minha mão, prometo nunca soltar. - Cláudio me diz com um olhar que não sei descrever.. se era pena, dó ou carinho.

Continuei andando em silêncio e lá estavam todos que são da "familia", meu avô veio até mim e me dá um abraço.

Ele nunca me abraça!

Ele não diz nada e ali ficamos um ao lado do outro calados enquanto as horas iam passando.

Escuto passos em minha direção e meu coração gela, era ele, o meu carrasco, meu pesadelo. Começo a tremer e me sinto sufocar.

- Pai, princesa! - Aquele monstro me abraça e meu corpo trava, não consigo me mexer. Ele sussurra em meu ouvido: Hum, mesmo que hoje seja o velório de minha mãe, não consigo deixar de notar o quanto minha princesa está linda! Titio está sentindo saudades!

Não consigo parar de tremer, meu corpo não me obedece, sinto tanto medo que meu coração parece que vai parar.

Ele me solta e se vira para meu avô e eu não consigo ouvir mais nada, minha mente fica em silêncio e a câmera lenta volta... tudo passa devagar... tudo se torna uma tortura... respirar dói.

Cláudio parece perceber algo e me abraça pedindo para eu me acalmar.

PORRA HELENA, SE MEXE, CORRE... nada, estou estática.

...

Meu avô pegou na minha mãe é caminhamos em silêncio até aonde seria o túmulo de minha avó

Não conseguia derramar uma lágrima, mas sentia a dor e era tamanha que não consigo mensurar.

Quando me viro para sair, mesmo com as pernas trêmulas, sinto uma mão me segurar pelo braço.

- Aonde minha princesa pensa que vai? Hum? Eu irei levá-la para casa. - Disse aquele homem que eu tanto tinha nojo e medo, mas não consegui responder, não conseguia me mexer, nada, absolutamente nada.

Ele foi me puxando e me levando para fora do cemitério.

- Tio, Helena? Aonde vão, me esperem. - Cláudio veio correndo e meu tio o olha com desprezo.

- Seu moleque bicha! Vai para sua casa!! Eu levarei Helena embora. - Meu  carrasco disse aquilo com ódio no olhar e quando vi, Cláudio chorava em silêncio.

Mormurei para ele um "SOCORRO" e ele pareceu chorar mais.

- Senhor, sei que não gosta de mim e sinto muito por isso, mas estou ficando com Helena em seu apartamento e irei com vocês ou melhor, Helena e eu iremos de ônibus. - Cláudio disse tão firme que nem suas lágrimas o atrapalharam.

- Ok garoto insuportável, levarei vocês.

...

Chegamos no prédio e o pior acontece.

-Suba bichinha, tenho um assunto a tratar com Helena que não é da sua conta. - Disse aquele homem sujo.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora