Capítulo 4.

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Estávamos cavalgando a horas. A neve caia pesadamente e sem piedade. Eu puxava com dificuldade meu casaco mais e mais, para garantir algumas faíscas de calor.

Apenas pássaros e o chilrear e o farfalhar de pequenos animais ressoavam conforme nos afastávamos da Capial, Avalon. Não havia trilha ali ou nada civilizado. Carvalhos, olmos e faias se entrecruzavam, mal deixando espaço para claridade.

Nos encontrávamos lado a lado em um silêncio confortável. Magnus estava com o nariz avermelhado, e por um minuto pude jurar que seu rosto tinha congelado por completo.

Quem de fato, era o príncipe? Me questionei. A Casa Lockhart, como a maioria do reinos, era conhecida por ser adepta de governantes tiranos e cruéis. Líderes sem compaixão alguma, conquistadores. Era isso o que eu esperava do jovem herdeiro. No entanto, o que eu tinha visto até o momento era algo completamente diferente.

Gentileza, lealdade, honra, apesar de serem qualidades essenciais para um Rei, poucos a possuíam. E Magnus parecia dispor de todas.

Colocou a própria segurança em perigo para ir até o submundo, e arriscava a vida novamente seguindo para Caraval, com uma completa desconhecida. Tudo para se certificar que seu amigo esteja bem.

—Então- murmurei- como se conheceram? Você e Egon.

O príncipe que até então parecia distraído, me olhou de esguelha. Os olhos brilhando. Mas não respondeu de imediato.

—Que tal, um jogo?

Um jogo?

—Uma pergunta, por outra. É uma forma de nos conhecermos melhor.- sugeriu.

—Magnus querido, vamos ficar juntos apenas alguns dias.

—Exatamente. E preciso me certificar de que não estou viajando com uma louca.

Solto uma risada abafada.

—Acho que é um pouco tarde para isso.

O príncipe me encarava a fim de um sinal positivo.

—Certo, tudo bem. - digo exasperada.—Mas responda primeiro minha pergunta!

—Egon é o filho mais novo dentre sete irmãos, seu pai era um Lorde das planícies altas. E como não herdaria muito mais do que uma pequena propriedade, foi enviado para o castelo para ser treinado como soldado. Ele tinha quatorze anos na época. Foi quando nós nos conhecemos. Ele foi meu primeiro e único amigo.

—Não havia outras crianças na corte?

—Existiam, mas apenas ele me tratava como alguém normal, e não como uma criatura mítica e inalcançável. Ele me via como eu realmente era. Sem interesse algum. -Magnus comentou.

—Vocês dois tem sorte de ter um ao outro.

O príncipe assentiu, uma leve onda de preocupação pareceu correr por seu rosto. Como se estivesse pensando em que situação seu amigo se encontrava. Vivo. Morto. Seguro. Em perigo. Mil possibilidades passavam por seus olhos.

Quase senti empatia por seus sentimentos. Eu sabia como era essa sensação de incerteza. Ela corroía de dentro para fora, em uma aflição continua e dolorosa. Eu senti o mesmo enquanto procurava por Erick, na noite de seu desaparecimento.

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