Capítulo três: Bicho Papão

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O relógio marcava 01h32  da manhã, meu corpo tremia de ansiedade. Andei em passos leves, pois não queria acordar ninguém, fui assim até a porta da frente de minha, agora, antiga casa e saí. Naquele momento, algo me dizia que não haveria mais volta.
Chegando perto da esquina, avistei Sana e Momo, ambas cuidavam da entrada para a mata.
Me aproximei rapidamente das duas

— Minari, você tem certeza mesmo? Digo, não querendo te desencorajar, mas me parece amedrontador ali - disse Minatozaki, apontando 'pro meio do mato, com uma expressão de medo e receio

— Tenho certeza sim, Sanana, tem lanterna e algumas pilhas na mochila. Vou ficar bem - falei tentando a acalmar, mas acho que estava dizendo aquilo para mim mesma

— Tudo bem então, você tem que ir logo, antes que alguém nos veja - Momo fala tentando mostrar firmeza, mas eu a conhecia o suficiente para saber que aquilo era só uma pose

— Isso não é um adeus, okay? Iremos nos ver novamente, eu prometo - as abracei, parecia que seria a última vez que iria vê-las

— Não é um adeus mesmo, mas sentiremos sua fala, Mimi. Se cuida e mande notícias o mais rápido que puder - Sana tinha uma carinha triste, mas com um sorriso pequeno nos lábios

— Até logo, meninas. - saí correndo em direção a entrada daquele que seria meu recomeço.

🌔🌒

Okay, acho que não foi uma boa ideia usar tênis de cadarço em meio dessas árvores, algumas folhas e gravetos enroscavam-se no mesmo, quase me fazendo cair algumas vezes.
Andei "tranquilamente", já sabia o caminho, era só seguir em frente acompanhando meu mapa feito a mão.

Enquanto andava, me veio à cabeça: minhas melhores amigas são realmente as pessoas mais fortes que já conheci nesses dezessete anos que me entendo por gente, afinal antes do um ano, ninguém sabe que é uma pessoa, pelo menos eu acho.

Enfim, por que digo isso delas?
Bom, Momo mora com os avós, já que seus pais achavam-se novos demais para ter que criar uma criança e "perder a juventude", Hirai não sabia nada daqueles dois, não mandavam nem sequer um pouco de dinheiro para ajudar os de idosos á criarem a menina. O casal tinha sua própria renda, é claro. Dona Hirai vendia os legumes e frutas de sua pequena grande horta que ficava no quintal de trás da casa. Senhor Hirai trabalhava numa mercearia no final da rua, aquele lugar já fechou e reinaugurou tantas vezes que já se perdeu até as contas, mas o velhinho nunca desistia do mesmo. Momo tinha orgulho de seus avós, os amava mesmo que ambos fossem ignorantes e preconceituosos sobre diversos assuntos.

E Sana? Bem, quando ainda era pequena, foi deixada aos cuidados da tia, irmã de seu pai, pois o homem não se sentia capaz de cuidar da criança depois do falecimento da esposa. Mas ninguém sabe, nem mesmo Sana, como a mulher morreu. O Senhor Minatozaki sempre mandava dinheiro para a garota e a tia, porém parou depois que a acastanhada completou 16 anos. 
Elas são as pessoas mais incríveis que conheço.

Você não deveria estar aqui, garotinha

Um sussurro me tirou dos devaneios, parecia vir de trás de mim. Um frio percorreu minha espinha e congelou-me no lugar.
A vontade era de correr o mais rápido que minhas pernas permitissem, mas não foi bem isso que aconteceu

Virei lentamente para trás, com os olhos quase se fechando. Foi então que vi que um par de olhos amarelos estavam me olhando a alguns poucos metros de distância, o dono daquele olhar era alto, muito alto, esquio e vestido com uma longa roupa preta e com um sorriso horrível no rosto pálido e magro.
O grito que até então estava preso, saiu rasgando minha garganta e fazendo meus pulmões doerem de tanto ar que se foi junto.

Virei na direção contrária daquele ser e corri, corri o tanto que meu corpo permitia.
Sem olhar para trás e rezando que aquela coisa tivesse ficado onde estava, parei em uma árvore alta, com galhos bem tortos, ela não tinha folhas por conta do inverno, era assustador.
Encostei nela, tentando recuperar e normalizar minha respiração, enquanto meu corpo já gelado tremia por completo.
O que era aquilo? Será se o Bicho Papão era daquele jeito? Deveria ter ligado e jogado minha lanterna naquele merda, quem ele pensa que é 'pra me assustar desse jeito?!

Depois de alguns minutos, voltei a caminhar, mas só então notei que havia deixado meu caderno, onde tinha o mapa, cair no meio do caminho. Não iria voltar lá, é claro, não estou afim de morrer, sou jovem demais 'pra isso.

Olhei em meu celular e já eram 02h00 da madrugada, deveria apressar meus passos, nada bom acontece depois deste horário.

Soltei um suspiro e olhei ao redor, por quê tive essa brilhante ideia? Mas agora, não tem mais volta!

Continuei o caminho que nem sabia se de fato era o certo, porém teria que ir por ele.

Parando 'pra pensar, nunca tinha ouvido nenhuma lenda onde contava sobre olhos amarelos, e sim lilases ou até mesmo vermelhos. A vila tinha suas histórias e lendas urbanas, mas havia sempre um porquê para todas elas. Passei minha infância as escutando e temendo o escuro, a rua durante a noite.
Uma dessas histórias, basicamente dizia que se você saísse pela rua depois do anoitecer, um ser com os olhos em um tom claro de roxo roubaria sua alma, sua vida e até mesmo seu sangue. Acho que é por isso que ninguém naquele lugar saia depois do sol se pôr.

Por que não lembrei dessas coisas antes? Podia ter ficado com medo, como estou agora, e desistido dessa ideia maluca que tive. Mas nããão, só lembro agora que tem um ser sei lá do que atrás de mim!

Apressei o passo, mas meu tênis enroscou num galho, me levando ao chão. Não podia piorar mais, ou sim?
A roupa que usava estava suja de barro, já que tinha chovido um pouco na tarde anterior, o tênis preso naquele maldito pedaço de madeira, o mapa ficou em algum lugar que não quero descobrir e para finalizar, aquele calafrio percorreu-me novamente a espinha. Mas dessa vez, o ser estava na minha frente, e seus olhos lilases pareciam hipnotizar-me.

Corra, criança. Não é o "Bicho Papão" que irá pegar a sua alma esta noite.

🌸🌸

Eai rapaziadinha do mal, mais de 1000 palavras, irraa.

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