O Lobo Dentro de Nós

V

    E então, como uma tempestade que chega sem aviso e muda completamente todo o ambiente à sua volta, o dia mais temido para Elena se concretizou. Não se sabia ao certo o que havia causado aquilo, mas com certeza os cientistas da capital iriam descobrir. Quando é o que não se podia prever.

    A irmã de Elena não apenas se tornou a mais nova vítima da síndrome do uivo, como também um dos casos mais raros: ela havia se transformado em plena luz do dia, em meio a uma rua movimentada, na presença de uma multidão e de duas amigas próximas. As garotas não souberam dizer exatamente como a transformação da jovem havia se iniciado, pois estavam em choque e precisariam passar por uma severa reabilitação antes de conseguirem pronunciar mais do que algumas palavras confusas e entrecortadas. Só o que se sabia era que a vítima voltava da escola no horário vago para o almoço, estava a caminho de casa e na companhia das duas amigas. As três conversavam obviedades quando, após um comentário cômico de uma das meninas, a jovem começou a gargalhar intensamente, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam próximas do local.

    Subitamente, a irmã de Elena entrou em um estranho estado de transtorno. Suas pupilas estavam dilatadas. Suas veias saltavam para fora e pulsavam no compasso de seu coração. Sua pele estava pálida. Suas feições não eram leves, eram intensas, quase como se ela estivesse sentido a maior raiva de toda a sua vida. As pessoas ao redor começaram a gritar, então algumas autoridades locais foram acionadas. A vítima foi contida e levada para um local temporário de análise e coleta de dados. As duas amigas foram direcionadas para o hospital mais próximo, para a ala de transtornos e traumas psicológicos. As três famílias foram avisadas, mas somente a de Elena voltou para casa com um integrante a menos.

    "Sua filha, infelizmente, acabou de se tornar mais uma vítima desta terrível epidemia, minha senhora. Ela não apenas contraiu a síndrome do uivo como também o fez em público. Esse é um caso especialmente raro que pode ser de extrema relevância para o desenvolvimento dos estudos que irão proporcionar à humanidade a cura dessa terrível doença". Foi exatamente isso o que disseram para a mãe de Elena na Central de Atendimento Imediato, criada unicamente para o controle da epidemia. Elena estava presente, é claro, e não pôde deixar de sentir uma estranha agonia com as palavras daquele homem desconhecido.

    Ela e a mãe não puderam nem ao menos se despedir da jovem. Após a coleta das informações sobre sua família e seu histórico, a garota foi levada "para a capital", disseram. "Ela estará segura lá". Elena não sabia ao certo se podia confiar nestas palavras. Não sabia nem ao menos se ela mesma estava segura.