Capítulo VII - O desconfiar dos servos

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KIM SEOKJIN


O próximo vilarejo não era tão acercado do que fora saqueado, contudo não eram as tantas milhas de distância. Ver a vila que eu havia passado um tempo da minha infância deserta, destruía as minhas fracas memórias daquele lugar. Não tinha o direito de chorar por aqueles que já não padeciam mais lá, não obstante eu sentia um aperto no peito quando me lembrava das casas vazias. Casas estas que outrora era cheias de pessoas, de animais, de belas plantas, cheias de vida. Fora curto o momento da minha vida que pude estar com aquelas pessoas. Mas fora o suficiente para marcar-me, para montar quem eu sou.

Se eu deixasse finas lágrimas descerem pelo o meu rosto, estaria sendo fraco, deixando memórias pretéritas atingirem-me no presente. É uma regra não escrita, os companheiros reais que não nascem no castelo devem esquecer sua vida passada. Largar laços antigos é necessário para se concentrar na tarefa de servir a realeza. Todavia ser necessário não significa ser fácil. Minha visão já estava borrada com as poucas lágrimas que resistiam, lutando para me fazer sentir coisas que eu não deveria.

Ouvi a sua voz grave, rouca e macia me chamar, contudo não levantei meu rosto para ele. Não queria que seus olhos fitassem sentimentos que há muito tempo já deveriam ter se findado.

— Jin? – me chamou baixinho, deixando seu cavalo encostar-se ao meu, sua perna tocar a minha. — Você pode chorar...

— Não, não posso. — respondi com a voz trêmula, quase arranhada. Meu corpo não queria mais soltar palavras, queria soltar apenas lágrimas. Olhava a minha mão segurando as rédeas, em uma falha tentativa de não olhar o seu rosto, e não deixar que meus sentimentos antigos molhassem meu rosto. Porém nada pude fazer quando senti seu leve toque no meu rosto, erguendo meu olhar para o seu, me prendendo as suas vontades, me prendendo à minha própria sensibilidade. Sussurrei perto do seu rosto. — Nam...

— Pode chorar Jin. Eu estou aqui. Apenas uma vez me deixe ser forte por você.

Eu apenas precisava das suas doces palavras para poder libertar tudo que estava preso, tudo que eu queria que não existissem mais. As lágrimas corriam eufóricas pelo o meu rosto, me trazendo um alívio apertado, contrariado. Senti seus dedos captarem minhas aflições, senti-os escorregando pelo o meu rosto, traçando linhas imaginárias que se formavam em um rastro molhado do que ainda sobrara de seus dedos. Seus olhos cravados nos meus, me davam conforto, carinho, me passavam um pouco do pecado que eu sabia que dividíamos juntos. Suas mãos firmes e cálidas puxavam gentilmente meu rosto para perto. Contudo, como se temesse um movimento errado, um tropeço falho, ele guiou seus lábios para minha testa e lá deixou seu beijo afetuoso, me aquecendo e me frustrando.

Deitei minha cabeça em seu ombro e lá permaneci até as lágrimas cessarem, sentindo suas mãos me acarinharem o cabelo e as costas. Lutei contra a vontade de abraçá-lo forte e deixar tudo o que eu sentia se esvair deixar que meus lábios procurassem os seus como há muito tempo eles queriam.

Engoli em seco me afastando e limpando as lágrimas remanescentes, com medo do que eu poderia fazer, com medo do que eu me deixaria fazer. Há tempos que eu me sentia assim, mas nunca iria deixar que isto me tomasse por inteiro. Ele, um duque Kim, e, eu, o seu companheiro. Não havia espaço para um sentimento tão doce e ao mesmo tempo tão incoerente.

— Obrigado... — agradeci olhando para as suas mãos, na tentativa de me manter longe.

— Disponha. Estou aqui sempre que precisar!

E lá estava ele, aquele sorriso que aparecia para iluminar meu dia, para me trazer uma paz momentânea e ao mesmo tempo infindável. Sorri como reflexo, mantendo, desta vez, meus olhos em seu rosto e no seu sorriso.

O trono de ouro - O príncipe perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora