O amor nunca foi sobre eternidade.
Ou sobre desconstrução.
Park Jimin agora sabe bem disso. Um florista com perspectivas imensuráveis sobre a vida, nunca se deixou envolver com pessoas famosas ou qualquer coisa do gênero, seu coração sempre soube qu...
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Seoul, Coreia do sul. 09 de março de 2018, 23:14min. Sky Flowers, área de atendimentos.
"Tão impossível é avivar o lume com neve, como apagar o fogo do amor com palavras."
PARK JIMIN
Sempre fui bom com lembranças.
Não faz parte de mim ou de quem sou, esquecer as coisas que me acontecem, nem mesmo detalhes atípicos que ninguém mais se lembraria, eu me lembrava. E num verão afável, me aconteceu uma das coisas que me marcariam para toda minha vida.
Assim como meus pais, meus avós também tinham uma fazenda, e ela era enorme. Com um lago de águas não muito claras, meus primos, tão jovens quanto eu, se apossavam dele para brincar ou simplesmente nadar por toda a tarde. E naquela tarde em questão, estávamos apenas eu e meu primo um ano mais velho, Jihan. O sol nos banhava por completo quando eu parei de correr com a pipa na mão, alegando cansaço, então, Jihan teve a ideia de nadarmos um pouco no lago.
E quando entramos, demorou menos de uma hora para que eu estivesse sendo levado lentamente para a parte mais profunda do lago. O afogamento veio lentamente, meu primo pensou que eu estava brincando quando eu já estava afundando, e ele, uma criança como eu, demorou a conseguir sair do lago e chamar por ajuda. Sendo sincero, eu não me lembro quanto tempo fiquei embaixo d'água até que desmaiasse.
Meus pulmões queimavam, eu engoli água em um dado momento, e minhas pernas doíam horrivelmente, uma vez que eu não parava de me debater.
Mas num certo instante, eu simplesmente parei. Sentia meu corpo afundar cada vez mais e deixei de tentar subir. A queimação sumiu, a dor desapareceu e eu consegui abrir os olhos, sem motivo certo, eu meramente não sentia mais nada naquele momento, enxergando a imensidão esverdeada da água, eu estava sentindo uma paz esquisita.
Uma vez vi em algum lugar que a morte é lenta, fácil. A vida é mais difícil.
E sabe, é verdade. Quando abri meus olhos, a luz do sol estava me incomodando e eu tossia sem parar, colocando a água que havia engolido naquela tarde. Meus pais e tios estavam em volta de mim e meu primo chorava, demorou muito para que eles me deixassem sozinho no lago novamente. E você pode até estar se perguntando porquê estou contando tudo isso, mas tem um motivo, eu prometo.
Eu jamais esqueci a sensação de estar sendo levado lentamente por algo que não era a vida. A sensação de estar debaixo d'água sem me mexer, sem gritar, sem reagir. Porque era assim que eu me sentia todas as vezes que algo me acontecia, tirava meu chão, me fazia ter um ataque de asma. Debaixo d'água, preso numa imensidão desesperadora de silêncio, falta de ar e simplesmente, numa correnteza fria de solidão.
