📌 𝐅𝐎𝐂𝐔𝐒.𝐂𝐎𝐌

📌 𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐈𝐈𝐈

HINATA CORREU PELO apartamento em busca de uma cadeira menos desprovida de beleza, mas tudo o que encontrou foi a da mesa de jantar, que além de gritar escandalosamente "eu sou pobre", não era nada confortável. O relógio apontava onze e vinte e nove, o que indicava faltar apenas um minuto para a transmissão. Afobada, vestiu a máscara feita de papel comprada na lojinha da esquina, não era grande coisa, mas servia.

Desajeitada, chutou uma peça de roupa para trás da cama, dando passos largos para se sentar na cadeira. "Trinta segundos", sua garganta secou de ansiedade e decidiu pigarrear para aliviar. Nervosa, começou a procurar o seu melhor ângulo: inclinada para a esquerda, direta, frente, olhando de cima ou baixo? Nenhuma a agradou, antes pudesse filmar de perfil.

Assim que o contador bateu em cinco segundos, arrumou a postura, se Sakura estivesse ali provavelmente estaria caçoando da sua cara dizendo coisas como "você não é uma duquesa" ou "está posando pra uma revista rural?". Segurando o riso, confirmou se o arco de orelhinhas não estava torto e suspirou no segundo em que a luz da webcam mixuruca ficou vermelha. 

— Agora não tem mais volta. — repetiu para si mesma, observando o contador permanecer no zero.

Tudo o que Hinata mais queria no momento é que, ninguém presente na sua vida usasse este site – tudo para diminuir as chances de alguém descobrir a identidade por trás da máscara de festa que custou um iene.

Esperando alguém milagrosamente entrar na sua live, começou a cantarolar "help!" dos Beatles, um dos seus grupos favoritos. A Hyuuga esticava os lábios conforme reproduzia a melodia, tentando ao máximo não desistir e se jogar na cama novamente. Ao encarar o contador novamente, viu um indivíduo entrar no chat.

— Olá Hiroishixi, em que posso ajudar? — forçou a voz para parecer mais grave e seduzente. Internamente repreendeu-se, torcendo para que o companheiro ou companheira não a abandonasse. — Temos alguém tímido por aqui?

Mentira, a única pessoa que deveria sentir vergonha era ela. Afinal, quem estava fazendo papel de trouxa?

A morena mordeu o lábio inferior e deixou os ombros caírem, se negando a acreditar que estava mesmo fazendo aquilo. O olhar julgador de seu pai invadiu a mente, sem contar que se tornaria uma piada completa na empresa.

— Eu sou mesmo patética, não é? — pela primeira vez nos cinco minutos, o usuário começou a digitar no chat e Hinata ficou atenta, esperando algo como "e aí, tudo bem?", "faça alguma coisa" ou, "vou doar trezentos mil pra você", mas isso não aconteceu. Tudo o que o indivíduo digitou no chat foi um "sim" seco e sem empatia.

Antes mesmo de reagir, o usuário deixou a transmissão, tornando aquele local solitário novamente. A Hyuuga persistiu e continuou por pelo menos uma hora, um verdadeiro fiasco. Todos os outros que vieram foram iguais ou piores do que o primeiro, logo constatou que seria difícil conquistar o público.

No dia seguinte, certificou-se de fazer suas tarefas diárias chegando mais cedo no trabalho. Pelo silêncio do andar, Hinata constatou que Naruto ainda não havia chegado, o que lhe dava liberdade para descansar um pouco.

O toque nada discreto do seu telefone ecoou pelo local, fazendo-a atender a chamada de Sakura antes mesmo de piscar:

— Só pra ficar esperta e ter certeza de que não vai se atrasar! — brincou do outro lado da linha, fazendo a perolada revirar os olhos.

— Eu não vou me atrasar porque já estou aqui, Saky.

— Quem é você e o que fez com a minha amiga? — exclamou pasma. — Como foi ontem? Ganhou dinheiro? Ficou famosa? Foi legal? Quer saber esquece, to subindo aí.