Ato VI : Parábola do Fio Vermelho

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É de chuva que meu dia é feito
E toda noite tem aroma de tempestade.
Diga-me, quantos demônios derrotamos,
Sozinhos, na noite passada?

É de folhas secas que meu rosto é feito
E o olhar esconde abismos de saudades.
Diga-me, quantos deuses falharam
Com promessas de eterna felicidade?

Devo manter o silêncio,
Mesmo contra minha vontade,
Como o deus que escondeu sua face
Por envergonhar-se de sua impossibilidade.
Onde está minha voz e sua alteridade
Senão no abismo glorioso de teu abraço?
Bem sei! - Devo acalentar o tormento e, neste caso,
Deitar-me amalgamado ao Azul de minha sanidade.

Meu dilúvio matou multidões em mim
E ao fim, nenhum arco-íris curvou-se sob o mar
Enquanto meus sonhos arderam numa fervura em desalento
Por tudo que fizeram-me esperar.
Faça-me deus
E torne-me grandioso;
Me chame de salvador
E farei de mim odioso
Como todos os outros filhos de deuses
Que vieram salvar o mundo, em frenesi,
E sucumbiram sob o doloroso peso
Da realidade.

Pois é de sono que meu dorso é feito
E de todo aroma de incapacidade.
Diga-me, honestamente, de onde tiramos
Esse insuportável fardo da infinidade?

É tristeza que preenche meu peito
E até nos pés há o chumbo da infelicidade,
Pois meu amor só cabe no inexistente! - 
Meu amor só cabe na eternidade.

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04/08/2018

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