prólogo.

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— Jeongguk, podemos conversar? — ouvi minha mãe me chamar da cozinha, e prontamente me aproximei dela, me sentindo tenso ao notar os olhares apreensivos dos meus pais, que estavam sentados na mesa. Ah, o que fiz agora? Ai meu Deus...

— Está tudo bem? Eu fiz algo ruim? — questionei medroso, me sentando em uma das cadeiras disponíveis e ficando de frente para ambos. Sou um menino tão comportado, puxa... A última vez que aprontei foi anteontem, quando roubei a gatinha da vizinha porque ela era muito fofa.

— Não, meu filho, nada disso... — meu pai sorriu amigável, com sua voz mansa corriqueira, o que acalmou as batidas ansiosas do meu coração. Deixo meus ombros mais soltos, que anteriormente se mantinham rígidos pela tensão, suspirando fundo.

— O que foi, então?

— Jeongguk, ahm... Eu e seu pai estivemos conversando e... Achamos melhor te mandar para uma escola com dormitórios.

...

O QUÊ?

O QUÊ?

O QUÊ?

O QUÊ?

Meus Jeongguk’s entraram em pânico, gritando para todos os lados em desespero. Como assim?! Do nada, assim? Simplesmente cansaram da minha presença? Ai, Deus, eu sabia, roubar o gato não foi uma boa ideia, viu só! Foi o auge para meus pais me mandarem para fora de casa de forma delicada e indireta. O que vou fazer agora? Como vou viver? Nem sei dobrar roupas sem que elas ficam amarrotadas, imagine passa-las!

— Oi? — foi o que consegui dizer, após dois minutos em puro pânico dentro da minha cachola oca. Meus olhos, que já são umas bolas de sinuca, ficaram maiores ainda, totalmente espantado com a realidade em que meus pais estão almejando me enfiar. Você deveria ter ouvido o Seokjin, Jeon! Que saco!

— É... — foi o que minha mãe conseguiu dizer. Ela não é boa com palavras, e é extremamente direta, diferente do meu pai, que é delicado. Não digo que minha progenitora é grossa, apesar de parecer às vezes, ela só... Te dá um tapa sem delicadeza nenhuma, contudo, sem intenção de maldade.

Meu pai pigarreou, incomodado com a falta de palavras da mulher. Ai meu Deus, estou sendo expulso de casa! Imagina se eu me assumo trans, gay, bi, pan, ou qualquer coisa relacionada a comunidade LGBTQ+? Ferrou!

—Jeon... Não queremos te expulsar ou algo assim, mas... A escola é realmente boa, e filho, você já tem 16 anos, e nem dobrar suas roupas direito sabe. Talvez um pouco de independência te ajude com, sabe, quando puder morar sozinho de verdade... — a voz do meu pai ficava cada vez mais baixa à medida que eu ficava cada vez mais confuso e com medo. Então quer dizer que... vou ter que ficar sem a lasanha gostosa do papai?

...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA-

FERROU! FERROU! COMO VOU VIVER? MEU DEUS! MEU DEUS!

Isso foi o estopim! Viver sem a lasanha desse homem é impossível, te juro! É tão gostoso e viciante, uma vez comida, nunca mais quer parar de comer. Ele faz todos os domingos, e talvez eu nem consiga vê-lo nos domingos para comer essa maravilha! Já estou entrando em abstinência.

— Espero que entenda, filho. Não estamos fazendo por razões ruins, apenas queremos que você aprenda viver sozinho; não quero sustentar meu filho com 26 anos. — novamente minha mãe é delicada como um cavalo, me deixando mais apavorado ainda. Sou um menino nada doméstico, a única coisa que sei é lavar a louça, e só! Adoro ser mimado pelos meus pais, de receber beijinho de boa noite na cama, ganhar abraços quando literalmente respiro, me surpreender com um potinho de comida na mochila com um bilhete carinhoso do papai... Sou tão apegado a ser um menininho dos pais, como irei viver agora?

— Mãe... — murmuro em um suspiro, sem palavras. Entendo totalmente o que eles querem dizer, mas, não podia pelo menos dar esse aviso uns meses antes? Estamos a praticamente duas semanas para as férias acabarem. Pelo menos ensinar algumas coisas...

Não faço ideia do que dizer.

Até meu pai não sabe.

O silêncio desconfortável se sentou conosco naquela mesa por muito tempo, até que meu irmão mais velho, Kim Seokjin, entra na cozinha com uma cara de tédio, parando de coçar sua barriga ao notar em como estávamos tensos.

— Ai meu Deus, Jeongguk. Que eu te falei que roubar aquele gato ia dar ruim? Você nunca ouve seu irmão. — este disse, aterrorizado com a situação, mesmo não sabendo de nada do que se tratava. Dirigiu-se para a geladeira, pegando sua vitamina de banana nojenta, começando a toma-la enquanto nos encara com curiosidade, querendo saber dos babados.

— Seokjin, não é disso que estamos falando. Estávamos falando sobre Jeongguk começar a ter mais independência, entende? — Jeon Miteum, meu pai, explicou, tentando ser delicado como normalmente. Minha mãe, Jeon Goeun, riu, achando graça da situação. Sinceramente... Goeun significa delicado, porém, essa mulher não tem nada de delicadeza!

— Vamos mandar ele embora para um colégio interno. — se eu não soubesse que ela me ama, iria começar a acreditar nesse momento que não.

— Ah.

Isso é tudo que meu irmão de cinco anos mais velho consegue dizer. Ele puxou isso da minha mãe, com certeza, o que é desesperador. Conviver com mamãe já não é fácil, imagine com uma cópia sua!

— E eu? Cadê meus direitos?

— Que direitos, garoto? Você nem sabe dobrar uma camisa sem que eu tenha vontade de taca-la no lixo de tão amarrotada que fica! — a mulher esbraveja, sem raiva na voz, apenas chocada com a minha resposta obviamente burra. Até eu me senti idiota com a pergunta, porque começo a pensar que me mandar para essa escola seja uma boa ideia.

— Meu Jesus, Goeun... — o mais velho de todos suspirou, massageando suas têmporas. Minha família é um caos, é tudo bagunçado, e meu pai é o que tenta deixar tudo no lugar; no fim, ele fica bagunçado conosco.

Apesar de estar aterrorizado, comecei a pensar nas vantagens disso: sem meu irmão chato nos visitando semanalmente, com suas piadas de velho; privacidade maior, sem que minha mãe fique bisbilhotando minhas coisas apenas para dar motivos para caçoar da minha cara; vou poder ficar jogando no meu Nintendo Switch, sem que meu pai venha pedir para jogar também...

Que maravilha! Estou começando a me animar com a ideia.

— Então... Ok. Tá. Me falem aí, onde e quando? — pergunto, me sentindo um pouco mais animado com a decisão repentina dos meus pais sobre mandar para longe deles. Talvez seja uma experiência legal.

todas as músicas amarelas que me lembram de você.Onde histórias criam vida. Descubra agora