Uma amora, biblioteca e uma gravata

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Aquele dia era um dos mais importantes para mim. Tinha definido todo um planejamento de estudos para tirar uma nota excelente no exame e aquele era o meu primeiro dia colocando-o em prática. Todos sabem como são os primeiros dias não é mesmo? São cruciais quando se fala de hábitos. Até porque, se você não consegue se dedicar no primeiro dia, o que irá se pode esperar do restante?

Como pode perceber, eu tenho muita experiência quando se fala de planejamento, até porque sei identificar os seus padrões. Seguir o plano naquele dia era extremamente importante, e eu estava determinado a conquistar isso. Acordei mais cedo, prevendo que poderiam ter imprevistos. Levantei rapidamente ao som do despertador como se tivesse sido puxado, e não sei dizer o quanto foi alto o meu primeiro passo. Logo, desliguei o despertado e antes de pensar se eu poderia ficar mais um pouco na cama, já fui direto tomar um banho.

Já estava pronto para começar o dia enquanto diversas pessoas ainda nem tinham acordado, e já tava orgulhoso por isso. Consegui preparar um café, e nenhum acidente aconteceu na cozinha para eu ter que trocar de roupa. Então, meu dia seguia adiantado, e eu me sentia completamente pronto para enfrentar os desafios e minha resistência interna. Contava os segundos para chegar na biblioteca e colocar em prática o meu cronograma de estudos. 

Estava mais rápido do que o tempo, e tudo ocorria perfeitamente, dentro dos conformes. E eu já estava atento para identificar qualquer empecilho que surgisse para que eu pudesse eliminar. Mas eu não imaginava que a adversária dos meus planos seria tão habilidosa. 

Quando cheguei à biblioteca, estava com tudo o que precisava para passar a tarde toda estudando. O material já era pré-selecionado para que eu nem perdesse tempo pensando no que estudar. Tinha água, um lanche para comer às três e quarenta e cinco. Devo assumir que estava bem confiante com aquele dia de estudos. Seria o primeiro dia de um cronograma perfeito que garantiria um ótimo resultado. 

Com toda a calma e paciência de quem estava com tudo em ordem, comecei a ler a primeira página. Estava tão feliz de ter conseguido chegar naquele momento que mal prestei atenção no que estava lendo. Compreensível, não é mesmo? Tinha passado o dia todo ansioso por aquele momento, claro que sentiria tanta empolgação que não conseguiria compreender tudo de primeira. Por isso, tive total paciência e voltei ao início do parágrafo novamente.

E foi então que ela entrou. Suas botas faziam um som terrível ao andar, era alto e irritante. Ela não parecia se importar de estar na biblioteca e ter pessoas que queriam se concentrar em alguma coisa importante. Como por exemplo, o seu primeiro dia de um cronograma bem planejado de estudos. Mas eu continuei tentando ler o primeiro parágrafo, apesar de a minha paciência estar gritando para que ela fosse embora. E ela não foi.

Ficou vagando entre as estantes observando livros. Eu nem precisei observá-la para saber disso. Literalmente, conseguia saber onde ela estava pelo barulho de seus sapatos. Mas minha concentração persistia. Em algum momento, ela encontraria o livro que queria e ficaria quieta. O som iria embora e eu começaria a estudar tranquilamente. Bom, eu estava certo. Depois de um tempo olhando alguns títulos de ficção, ela escolheu um livro e sentou em uma das poltronas. Aproveitando este momento de sossego, voltei ao início do parágrafo.

A primeira frase eu estava compreendendo quando um garoto sentou em minha frente. Mesmo percebendo que eu estava lendo, chegou dizendo:

- Espero que não se incomode, não encontrei alguma mesa disponível.

É claro que eu estava incomodado, mas não ia perder a minha paciência, mesmo percebendo que ele poderia ter escolhido qualquer mesa senão a minha. Então, apenas dei um sorriso lateral e voltei à minha leitura para mostrar que eu estava ocupado lendo. 

3 Coisas, Um contoWhere stories live. Discover now