Uma taça, um executivo e um esqueleto

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Estava na cobertura observando a noite acordada como eu. A ansiedade é impregnada em meus ossos e não conto com muitos momentos assim. Olhando os carros passando, as luzes dos prédios e a lua. Na verdade, eu nem me lembro da última vez que passei tanto tempo sem fazer nada, já se passaram 20 minutos. Isso, desde que eu deixei o paletó de lado, os sapatos na entrada e soltei a gravata. Acho que vou passar muito mais de 20 minutos nesse vazio. 

A ansiedade me deixa desconfortável e eu tenho a necessidade de me levantar e fazer alguma coisa. Vou à cozinha tirando a gravata e desabotoando a camisa. Preparo uma bebida para me acompanhar esta noite e volto para a sacada. Me aproximo, apoiando o braço com a bebida na mão e observo as luzes, carros e pessoas diferentes. 

O vento vem em minha direção, batendo contra meu peito e passando suavemente pelo meu rosto. Sinto a umidade e frio, sabendo que mais tarde pode chover. Já se passaram 30 minutos e já sinto meus dedos inquietos enquanto minha mente deseja um momento de paz. A ansiedade está impregnada em meus ossos. 

Meus dedos passam pela borda da taça e eu percebo que suas pontas estão sem carne. Solto a taça para olhá-los e confirmar um engano. Mas, não me enganei, o meu corpo consome a si mesmo. Sinto uma dor nos pés e tiro a meia, percebendo todos os pequenos ossos já soltos. Com um apoio, sento - me na cadeira e tiro o cinto da calça. 

Sinto a sensação de nervosismo tão comum pra mim e confirmo que toda a carne da minha perna está lá, tateando - a. Por um segundo, perco a atenção para o vento novamente e quando vou tocar o cabelo, percebo que os ossos de minha mão estão sobre meu colo. Então, entendo minha decisão e me permito consumir por inteiro para viver mais uma hora daquela madrugada.

3 Coisas, Um contoWhere stories live. Discover now