Capítulo 4

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Geralmente, quando minha mãe chega à noite eu já estou dormindo, procuro descançar bem. Por isso, quase não a vejo.

Na manhã seguinte, eu me aprontei logo e fui tomar um leite. Os meus olhos mau abriam, esquentei o leite no microondas e depois já estava saindo de casa.

Hoje estava fazendo frio, o que era um milagre. Coloquei um casaco xadrez todo fechado, que esquentava pelo menos um pouco, era o que eu esperava.

A primeira aula era matemática e até que eu me dava bem. Ela passou voando, infelizmente, pois a próxima aula seria literatura e eu não estava com nenhum pouco de paciência para aturar aquele garoto.

Quando entrei ele ainda não havia chegado, me sentei, esperando pelo professor.

O garoto se sentou do meu lado e por mais que eu tivesse vontade de dizer quem era o atrasado agora, preferi ficar na minha. Não sou muito vingativa, talvez ele poderia levar à outras proporções e eu não queria chamar atenção.

Na verdade era mais ou menos assim que funcionava; tudo que eu fazia dentro da escola era de certo modo a não chamar atenção. Sempre pensando nisso.

Não estou dizendo que ele poderia chegar à bater em mim ou coisa parecida, mas pra falar a verdade nem o conheço.

O professor entregou para cada um o livro de Shakespeare "Romeu e Julieta". Mesmo famoso como era, eu nunca havia lido. Claro, tinha curiosidade, mas nunca tomei a iniciativa.

Depois do professor explicar um pouco da vida de Shakespeare, bateu o sinal. Então eu peguei o livro e fui me levantando, quando, senti alguém me tocar no ombro e tive uma surpresa.

-Bom, eu acho que não começamos muito bem.- O garoto que se sentara ao meu lado estava com a mão na nuca, parecia até estar querendo amizade.

-É, não mesmo.- o cortei, franzindo o senho e fitando sua mão ainda no meu ombro.

Não que eu estivesse agindo meio grossa, mas parecia que tinha algo mais nessa história.

-Eu sou o Colin.- ele estendeu o braço, e fez uma expressão que se assemelhava a um sorriso.

No começo eu fiquei com receio, talvez fosse alguma pegadinha boba, mas resolvi arriscar.

-E eu.. eu sou a Kate.- Tentei ser o mais doce possível. E demorei um pouco pra pegar na mão dele, pensando que talvez fosse ter uma daquelas coisinhas que davam choque escondida entre os dedos. Mas não aconteceu nada.

Tudo bem, talvez eu fosse desconfiada demais.

-Ok, te vejo depois.

E sumiu pela porta. Fiquei sem entender nada, ou o garoto era bipolar ou eu estava ficando louca.

E o que ele queria dizer com te vejo depois? Era só o que me faltava.

O mais inusitado de tudo foi que no final da aula ele seguiu pelo mesmo caminho, só que pelo outro lado da rua, agora eu tinha certeza de que ele iria fazer algo comigo.

Só que nada aconteceu, ele só ficou ali quietinho, então eu resolvi parar de me importar.

Coloquei os meus fones e fui escutar a mesma playlist de sempre, até notar que ele estava se aproximando.

Agora ferrou, vai me acontecer alguma coisa. Eu comecei a acelerar.

-Eaí.- escutei a voz dele e suspirei fundo.

Ai meu Deus. Ele já estava do meu lado.

-Oi.- O olhei de cima a baixo.

-Tem como me emprestar o livro? Eu acho que perdi o meu.- ele deu de ombros.

Aquilo parecia uma desculpa esparrapada pra mim.

-Eu preciso dele pra ler também.- Cruzei os braços e levantei uma das sombrancelhas.

Ele estava olhando pra frente, continuávamos andando.

-É verdade, mas como amanhã não tem literatura, você pode me emprestar?

Ainda continuava receosa, mas ele parecia extremamente sincero.

-Tá, mas como eu vou achar você?

-No refeitório. Até mais kate.- ele acenou um pouco com a mão.

Ele virou para um lado e eu para o outro na esquina.

Eu cheguei em casa em estado de choque, aquilo foi completamente estranho.

Não faço a mínima idéia de como vou achá-lo no refeitório lotado.

Meu Anjo Sem AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora