Capítulo 02

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Sinto uma rajada de ar gelado pinicando minhas costas e o medo serpenteou pelo meu corpo. De novo não! Desde que era pequena venho tendo o mesmo sonho, no começo sentia muito medo, e só acordava aos gritos quando a Carrie vinha me acordar, mas depois percebi que se me concentrasse e desejasse sair dali conseguiria acordar. É um tanto estranho sempre que sonhar ter o mesmo sonho, as mesmas imagens, as mesmas sensações, mas desta vez parece não sei, diferente.

Abrindo os olhos lentamente, vejo a mesma imagem que venho vendo desde criança, as mesmas árvores tortas, as mesmas fumaças sombrias, o mesmo cheiro de queimado e podridão, mas de um certo modo parece ter alguma coisa diferente, coisa essa que eu não quero descobrir o que é. Desejo desesperadamente que não estivesse ali, mas nada acontece, tornei a fechar os olhos e desejei com ainda mais força e nada, tudo bem estou começando a ficar desesperada, isso não é normal. Por que não consigo acordar?

O vento levanta meu vestido e ele começa a se mover conforme os movimentos das rajadas ao redor de seus joelhos, de repente me senti angustiada como se eu tivesse perdido alguém, alguém realmente importante, sinto alguma coisa molhada escorrer pelo meu rosto, levo os dedos até a umidade e vejo que estou chorando, porque diabos estou chorando?, eu tento me mover mas simplesmente não consigo, estou deitada, sim estou deitada de bruços com o rosto no chão de cascalho que me pinicam e me machucam, estou sem ar e não sinto meu corpo, o que está acontecendo? Isso nunca aconteceu, você não pode sentir dor nos sonhos, não é? Então o que é isso? sinto desespero e dor me preencher, culpa me coroe e me faz sentir fraca e indefesa.

Girando lentamente o pescoço consigo ver corpos pelo chão, mas não consigo os definir, está tudo embasado tudo confuso, sinto mãos geladas envolver o meu pulso e sinto uma incontrolável vontade de puxa-lo para o meu peito e abraça-lo, mas não consigo me mover, eu entrelaço os meus dedos naquela mão e fecho os olhos, estou fraca e quero me entregar para a escuridão, quando estou quase absolvida pelo desejo, ouço uma foz gélida e gutural envolver o meu corpo e arrepiar minha pele, "volte para mim criança", tento olhar para o dono daquela voz mas só vejo seu contorno, "volte para mim criança AGORA".

Sinto sendo puxada para um lugar fundo e escuro e começo me debater, a voz é interrompida por uma luz pulsante e brilhante e tento desesperadamente me agarrar a ela, ouço alguém me chamando mais está muito longe e muito fraco parecia vim de outro mundo, "Lauren? Lauren está me ouvindo? Respire você não está respirando LAUREN ACORDE!!!" acordo com um pulo, tentando absorver o máximo de oxigênio que conseguia o que ficava muito difícil já tinha uma Carrie muito abalada e descontrolada chorando e me abraçando não deixando muito espaço para respirar. Quando ela se certificou que eu estava viva ela se afasta e eu começo a puxar longas tragadas de ar, até que vou me acalmando e minha respiração volta ao normal. Carrie vai até a cozinha e volta com um copo de água, olha para mim preocupada e morde os lábios esperando que eu diga o que eu diabos aconteceu. Como eu demoro para falar, ela se senta e cruza as mão no colo olhando para mim com os olhos ansiosos.

— Então o que aconteceu? Eu estava dormindo e acordei com você chorando e resmungando, logicamente tentei te acordar mais você não acordar e então eu fiquei ainda mais desesperada quando você simplesmente parou de respirar, Lauren, você parou fodidamente de respirar, eu pensei que você ia morrer, isso é muito estranho, você está bem? tudo bem, vamos ao hospital agora.

Carrie começa a falar sem pausas para respirar, ela estava verdadeiramente assustada. Ela se levantar e começa a me puxar junto, então eu a puxo para baixo a fazendo sentar de novo, ela olha para mim com preocupação.

— Carrie relaxa eu estou bem, foi só um pesadelo.

—Lauren não foi só um pesadelo, você não estava respirando, — ela olha para baixo e percebo que os olhos estão cheios de lagrimas — você quase morreu.

— Eu estou bem eu juro não precisa se preocupar. — Eu suspiro vendo que ela ainda está insegura — eu estava tendo o mesmo sonho, só que era diferente.

Carrie olha para mim e frange a testa se aproximando mais de mim.

— Como era diferente?

— Eu não sei tudo parecia normal, as árvores o cheiro, mas então eu não conseguia acordar, e meus sentimentos estavam tumultuados, me sentia angustiada e culpada e então de repente uma voz estava me chamando, falando pra mim voltar e ai eu acordei.

Carrie olha pra mim com a mão no queixo e nervosamente amarra os cabelos em uma polpa bagunçada, ela sempre faz isso quando está preocupada com alguma coisa.

— Você acha que pode estar com apneia do sono ou algo assim?

— Não Carrie relaxa é só um pesadelo, é normal.

— Lauren, não tem nada normal em sempre ter os mesmos pesadelos e simplesmente parar de respirar neles.

Quando eu ia dizer para ela não se preocupar, ouvimos um barulho em algum lugar da casa, não era um simples ranger ou estalo da madeiro, mais parece que alguém estava batendo em alguma coisa. Carrie me olha assustada e se aproxima de mim agarrando meu braço, acho que ela estava falando sério mais cedo hoje na cozinha, eu olho para ela e faço sinal para ela se levantar e pegar alguma arma. Faço uma pequena varredura pelo quarto e encontro um taco de beisebol, tudo bem isso deve servir, olho para Carrie e ela está segurando uma vassoura enquanto olha pra mim assustada.

— O que está acontecendo?

— Não sei vamos ter que descobrir, só estamos aqui a algumas horas e eu já quase morri e alguém está invadindo a nossa casa, que ótimo.

Ela olha para mim com uma cara de diversão e medo ao mesmo tempo.

— Alguém ou algo.

Olho para ela e reviro os olhos.

— Pare de brincar e vamos logo temos que pegá-lo de surpresa.

Ela me mostra a língua e vai para trás de mim.

— Vamos, você vai na frente.

Eu olho para ela e reviro os olhos novamente, é eu tenho muito esse costume. Avançamos lentamente seguindo o barulho constante que serpenteava pela casa, parece que alguém estava batendo em alguma porta, tudo bem agora eu estou com medo, parece filme de terror e estamos indo direto para a fonte do barulho, que inteligente, eu sempre questionei porque os personagens sempre escolhiam seguir a o som da morte, mas agora me vendo na mesma situação eu entendo que a adrenalina fala mais alto que o medo. A cada passo que damos entre esbarrões e tropeções nos aproximamos ainda mais do som, passamos pela sala e estamos no corredor para a cozinha quando o som de repente aumenta quando nos aproximamos de uma porta no corredor, essa porta não estava ai eu tenho certeza, o que diabos está acontecendo? Arregalo os olhos e começo a cantar mentalmente o sangue de Jesus tem poder.

Carrie parece ter esse mesmo pensamento pois ela me olha com confusão evidente em seus olhos. Respirando fundo e engolindo em seco aperto mais o taco de beisebol e seguro a maçaneta, olho para Carrie e ela agarra a minha mão, conto até três baixinho e juntas abrimos a porta num solavanco pulando para dentro do cômodo, começamos a gritar e deferir golpes nos preparando para o pior, mas nunca imaginaríamos que iriamos encontrar isso... 

Eu olho para Carrie e ela está de boquiaberta, sem piscar.

— Mas que porra é essa?

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