Capítulo 6

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Depois do inexplicável sucedido, Marta e eu ficamos mudas, tão mudas que era ainda possível ouvir ele falando, sorrindo com aquela cara de anjinho, ainda era possível ver e sentir aquele momento. Marta estava muda não só porque estava a pensar o mesmo que eu, provavelmente estava muda porque estava chateada com o que se passara... com o que eu fiz pra ser mais exata. O que na verdade eu fiz, ah?

Eu apenas tinha sido simpática ao receber a t-shirt e o silêncio dela me dizia que não percebera a minha simpatia, e que a qualquer momento me bombardearia com palavras que todo mundo conhecia de um jeito que só ela sabia.

- Viste aquilo? - disse eu pra Marta olhando pro carro que passou em nossa frente.

Sem respostas...

Naquele momento eu percebi logo que ela estava realmente chateada! Aquele era o carro dos sonhos dela, ela era obcecada por ele, era o que ela pedira pros pais comprar quando ela estivesse na universidade. Era como se me desse um tapa na cara que há muito não recebia e me dissesse " você é uma idiota, viu!!!".

- Tá bom! Desculpas! - disse eu cabisbaixa.

Novamente sem respostas...

Desdenhando o meu pedido de desculpas, Marta nem sequer olhou pra mim.

- Desculpas! - repeti em frente dela após ter tirado a t-shirt e deixado a Beatriz franck falar por mim.

- Isso está mesmo feio - zombou ela.

- Ya - Confirmei rindo.

- Cubra isso! - aconselhou ela apontando pra mancha me lembrando da horrorosa bola.

Cubri-a logo deixando novamente a Beatriz Franck escondida no escuro sem respirar. Não me importei com isso, estava mais preocupa com Marta do que com ela, e mais... eu tinha muitas. Aquela era apenas mais uma no meio de tantas outras.

Quando estávamos prestes a chegar em casa, vi mamãe de longe e por um momento me senti preocupada com o que ela iria dizer quando me visse com aquela t-shirt que mesmo eu não sabia a proveniência e nem sequer o nome do dono.

- Onde vocês estavam?  - perguntou mamãe sem olhar direito pra nós.

- Decidimos andar um poupo na cidade. - respondi imediatamente. E foi o meu erro, não poderia ter respondido, devia ter deixado a Marta.

- O que é isso? - perguntou ela indignada olhando pra t-shirt com desdém.

- É que aconteceu alguma coisa Sra. Laurinda - disse Marta.

- O que aconteceu? - questionou ela olhando pra mim.

- É que quando víamos da escola…

- Ela não tem boca?... pra ser sempre tu a falar? - interrompeu mamãe.

- T-tteeee-mmm-m - gaguejou Marta cabisbaixa.

- Quando nós víamos da escola... passamos por uma rua e fui atingida por uma bola - anunciei.

- E!? - disse imediatamente ela olhando pra mim perplexa.

- A bola sujou a blusa e o moço que a chutou... deu-me essa t-shirt pra cobrir a mancha. - acrescentei triste pelo facto dela não ter pelo menos me perguntado como eu estava. Caramba! Eu fui atingida por uma bola! Eu poderia ter morrido! Ela é minha mãe, é obrigação dela preocupar-se comigo.

- Vai logo tirar isso! - esbravejou ela sem ao menos verificar se o que eu tinha acabado de dizer era verdade. - E jogue-a no lixo.

Entrei em casa sem dizer mais nada e convencida de que ignoraria sem dó a última ordem. Por mais que não prestava não significava de que o destino fosse na latinha de lixo. Não, não pra mim. Aquilo era a única coisa que tinha dele e que permitiria um possível segundo encontro, não a queria perder. E quando estava na sala de estar, despenquei logo no sofá branco, exausta, completamente esquecida da presença da Marta.

Não foi sua culpa Onde histórias criam vida. Descubra agora